quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

“É mentira. Portugal não é só Lisboa e Porto”: professores e diretores rejeitam má gestão de professores

Um estudo sobre a alegada falta de professores veio abalar o sector do ensino em Portugal, nesta terça-feira.

O estudo da Edulog, uma iniciativa da Fundação Belmiro de Azevedo e coordenado pelo ex-ministro da Educação David Justino, conclui que a falta de professores resulta da “ineficiência na gestão dos recursos humanos“, considerando que “existe uma elevada discrepância na distribuição dos alunos”.

Cerca de 40% das escolas de Portugal continental têm menos de 15 alunos e 26% têm menos de 10 alunos, distribuídos pelos diferentes anos dos ciclos de escolaridade, conclui a pesquisa.

No Ensino Secundário, por exemplo, “o cenário é ainda mais alarmante, com mais de 60% das ofertas de cursos profissionais das escolas públicas a registarem menos de 15 alunos, o que representa um desperdício de recursos, sobretudo de professores e de dinheiros públicos”.

Mas rapidamente diversos responsáveis vieram a público rejeitar estas conclusões.

Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (FENPROF), assegurou que não há má distribuição de professores: “Isto é falso. Isto é mentira. A escola pública tem de dar resposta a todas as famílias, vivam elas em zonas desertificadas, vivam elas em zonas com maior pressão populacional”.

“Não se pode desenraizar os alunos. A sua deslocação é uma violência tremenda. O interior já é muito penalizado pelo sistema educativo”. Por isso, defende, não faz sentido limitar a oferta educacional aos alunos do interior, mesmo que em algumas zonas haja menos alunos inscritos do número mínimo imposto pela lei.

Também na TSF, Pedro Barreiros, secretário-geral da Federação Nacional Da Educação (FNE), prefere salientar algo que o estudo não indica de forma explícita: “Temos 140 mil alunos estrangeiros. Destes, 28% não conhecem sequer a língua. Ou seja, é necessária uma dedicação e atenção específica de cada professor para estes alunos”.

E olha para o mapa para pedir mais pormenores: “O país não é apenas Lisboa e Porto. Há outras zonas do país onde os alunos e as famílias têm direito a ter acesso ao mesmo tipo de oferta formativa e educativa e isso só se consegue muitas vezes criando turmas de menor dimensão àquela que legalmente é dita como sendo o valor ideal”.

O presidente da Associação Nacional de Diretores Escolares, Manuel Pereira, resume: “Ou fechamos as escolas e transportamos os alunos para o litoral, ou então assumimos, em termos sociais, a necessidade de manter as escolas vivas no interior do país e manter as comunidades vivas. Esta é a verdadeira situação.”

Manuel Pereira confirma que há cursos com “muito poucos alunos”, mas qual seria a alternativa? “Não haver esses cursos ou transportar os jovens para outros municípios. E o Estado não está disponível para assumir” esses custos.

Já Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, deixa uma garantia: “Nós, diretores, e também o Ministério da Educação não somos irresponsáveis. Não formamos turmas que vão contra a lei. E parece que este estudo, e agora declarações do autor do mesmo, indiciam isso”.

Admite que o estudo “reflete a realidade do país”, mas por causa de um fator fundamental: o interior tem muito menos pessoas. Por isso, há menos alunos por turma. “Mas – e é bom que isso se diga -, do outro lado do país, que é o litoral, temos turmas a abarrotar de alunos, temos turmas muito acima do número que manda a lei”, avisa.

Paulo Cardoso, da direção da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), comentou que não se pode encarar “o número de alunos por turma como um todo, quando isso não é realidade do país”.

Fonte: ZAP por indicação de Livresco

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