Há vários fatores que influenciam as diferenças individuais no desenvolvimento matemático. Destacam-se as atitudes (tais como a autoeficácia matemática), as capacidades cognitivas, as funções executivas, o ambiente familiar, as práticas educativas e a ansiedade matemática.
Esta última manifesta-se como apreensão ou ansiedade perante a necessidade de interagir com materiais ou realizar tarefas de matemática – sobretudo em contexto de avaliação da disciplina. Uma maior ansiedade matemática está associada a desempenhos mais baixos e a evitamento de tarefas neste domínio, que, por sua vez, podem comprometer as oportunidades académicas a longo prazo, em especial em áreas fortemente dependentes de capacidades matemáticas.
A relação entre a ansiedade matemática e as escolhas profissionais é especialmente preocupante no acesso a carreiras nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla inglesa). Os resultados de um estudo realizado nos EUA, a nível nacional, apontam para isso mesmo. Os investigadores verificaram que os alunos que sofriam de ansiedade matemática elevada ou crescente a partir do sétimo ano eram 5 a 7 vezes menos suscetíveis de conseguir emprego nas áreas de STEM após os 30 anos, quando comparados com os colegas que sofriam de ansiedade reduzida (independentemente de questões de género ou etnia).
Outros estudos apontam precisamente no mesmo sentido, confirmando que níveis de ansiedade matemática acima da média estão relacionados com níveis mais reduzidos de interesse em profissões nas áreas de STEM, quer direta ou indiretamente (através da perceção de autoeficácia). Ou seja, podemos concluir que aumentar os conhecimentos matemáticos e diminuir a ansiedade permitirá aumentar o número de alunos que ambicionam e conseguem, de facto, ingressar em carreiras profissionais nas áreas de STEM.
Ainda assim, apesar do que nos indicam estes estudos correlacionais, existem outras questões relacionadas com a ansiedade matemática que ainda importa perceber melhor. Uma delas é precisamente a de saber como enfrentar este fenómeno, que afeta crianças e jovens de todo o mundo.
Haverá solução?
Num relatório acabado de publicar pelo Centre for Independent Studies, o psicólogo David C. Geary, um dos maiores investigadores destes temas, apresenta uma síntese sobre a origem, níveis de incidência e impactos da ansiedade matemática no desempenho escolar, com o objetivo de perceber quais as melhores estratégias para contrariar ou prevenir esta situação.
Apoiando-se na investigação mais recente, David C. Geary começa por destacar que a ansiedade matemática é um fenómeno real, que pode afetar qualquer aluno. Contudo, importa notar que são aqueles que têm maiores dificuldades com a matemática e que são genericamente mais ansiosos quem tem maior propensão para a ansiedade matemática – levando a quebras significativas no desempenho.
No que diz respeito ao desempenho dos alunos, a OCDE tem divulgado dados que indicam que um aumento de um único ponto no chamado Índice de Ansiedade Matemática poderá ter um impacto negativo de 18 pontos na avaliação a matemática, no PISA (o equivalente a pouco menos de um ano de escolaridade). Se tivermos em conta que os níveis de ansiedade registados por estes estudos têm sido sucessivamente mais altos, ao longo das últimas décadas, torna-se urgente saber como enfrentar este problema.
Mas o mais interessante deste relatório é a confirmação de que, apesar de não haver um consenso sobre a melhor resposta para estes alunos, a aposta no ensino das capacidades matemáticas continua a ser a mais promissora. Tutorias estruturadas e sistemáticas, focadas no ensino da matemática revelaram-se intervenções eficazes na redução dos níveis de ansiedade. Muito à semelhança, aliás, do que já nos diziam outros estudos.
Fonte: Iniciativa Educação
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