O diagnóstico da filha pôs Nádia Ferreira em frente ao abismo. Carolina, de dois anos, era autista. E, para os pais, a palavra pronunciada pelo neuropediatra soava a sentença: “Foi um choque tremendo. Ficamos completamente perdidos.” Nádia entrou em negação. Agarrava-se aos primeiros 18 meses da filha, com um desenvolvimento padrão, abraçava tudo o que a afastava do espectro. “Sinceramente, era isso”, confessa, antes de declarar a pacificação posterior: “Pensávamos que era o fim do mundo, mas era apenas uma forma diferente de estar nele. É desafiante, mas não é nenhuma tragédia.”
Nesse tempo, já de coração serenado, Nádia Ferreira ainda não sabia, no entanto, que a batalha maior não viria do diagnóstico de Carolina, mas da condição do país: com respostas insuficientes para quem foge do padrão. “Não são as crianças que são desafiantes, é a violência com que temos de lidar. Violência institucional, com os serviços, com a escola, com a saúde. É esgotante.” O desabafo é de Filipa Costa. E é parte da justificação da “pequena grande loucura” que uniu estas duas mães com duas filhas autistas: “Decidimos criar uma escola para elas.”
O Unidiversa, em Matosinhos, é um projecto educativo “único no país”, pensado para crianças e jovens neurodiversos. Com resposta de pré-escolar, comunidade de aprendizagem para o 1.º ciclo e ATL (dos 4 aos 18 anos), “quer ser um modelo de boas práticas na área da educação de crianças neurodivergentes”, termo que abrange indivíduos com um desenvolvimento neurológico atípico, como autistas, hiperactivos, disléxicos, entre outros. Além de acolher todos os que queiram inscrever-se (crianças neurotípicas incluídas), as fundadoras querem “dar formação a professores, pais e terapeutas”. E ajudar, assim, a correr atrás do prejuízo: “Estamos 30 anos atrasados”, lamenta Filipa Costa, antropóloga e coordenadora pedagógica da Unidiversa. (...)
Continuação da notícia em Público.
Sem comentários:
Enviar um comentário