Esta temática tem vindo a ser discutida ao longo dos anos e muita investigação tem sido realizada em torno da aprendizagem da leitura.
Para se poder responder a esta questão tem-se vindo a desenvolver investigação na área da leitura cruzando as influências da psicologia, da linguística, da antropologia, da sociologia, da informática, da cibernética, dos modelos de aprendizagem e da prática pedagógica.
De uma forma resumida, podemos dizer que para uma criança aprender a ler deve adquirir uma série de processos linguísticos e cognitivos.
A nível linguístico o sucesso na aprendizagem da leitura depende da aquisição de uma série de competências (linguagem oral; conhecimento lexical; conhecimento morfossintático; consciência fonológica; compreensão do princípio alfabético). Estas competências dependem umas das outras e influenciam-se reciprocamente. Isto quer dizer que nenhuma delas é, isoladamente, suficiente para que uma criança consiga compreender o que leu.
A nível cognitivo a leitura evoca, em primeiro lugar, a análise visual onde a percepção, a atenção e a memória desempenham um papel preponderante. Estas, em simultâneo, permitem à criança focar-se no texto ignorando os estímulos externos, sendo capaz de, por exemplo, ignorar o ruído das folhas ao passar as páginas.
A memória permite à criança recordar-se da forma gráfica das letras e das palavras e apropriar-se das regras de conversão letra-som, ou seja, saber que a mesma letra pode ter vários sons, como por exemplo da letra xis, que pode ler z em exemplo; xis em xaile; cs em táxi; eis em experiência. Por outro lado, terá de saber e memorizar que o mesmo som pode ser representado por diferentes letras (como por exemplo, o som j que se pode representar com a letra j (janela) ou com a letra g (gelado).
Em relação à dimensão léxica, pode-se dizer que é esta que permite à criança identificar, compreender e pronunciar as palavras escritas (ou seja, depois de identificadas as palavras é necessário ativar o seu significado).
Para que uma criança domine a leitura tem de possuir um léxico fonológico alargado (como costumo dizer tem de possuir um “armazém de palavras” memorizadas) o que vai facilitar a, posterior, extração do significado.
O primeiro processo envolvido na leitura é a descodificação. Esta deve ser alcançada de forma automatizada para que seja possível, o nosso cérebro, libertar os recursos cognitivos necessários aos outros processos envolvidos na compreensão (processos de alto nível).
São os processos cognitivos de alto nível que irão permitir ao leitor compreender o sentido do texto, tendo em conta não só o significado das palavras isoladas, o significado das frases, mas também a sua experiência pessoal e o contexto, permitindo a realização de inferências (entender uma mensagem que não está explícita no texto).
De uma forma resumida o que significa aprender a ler? Aprender a ler significa aprender a descodificar palavras, ou seja, olhar para a uma palavra e conseguir dizer o que está escrito e também compreender o que acabou de ler.
Assim, aprender a ler significa aprender a identificar palavras e aceder ao seu significado, isto é, depois de identificada a palavra a criança associa-a ao seu representante. Na prática a criança consegue visualizar mentalmente o objeto correspondente ao que acabou de ler (vejamos o exemplo, se uma criança ler a palavra sapato imagina o objeto correspondente). Por fim, aprender a ler significa aprender a extrair significado do texto escrito, ou seja, compreender.
Seguindo esta linha de raciocínio, pode-se dizer que uma criança aprende a ler quando consegue identificar palavras (olha para a uma palavra e consegue dizer o que está escrito) e consegue aceder ao seu significado (compreende o que leu).
Inês Ferraz
Fonte: Público de acesso livre
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