Há vários elementos que não se compreendem na educação de Portugal, ideias obsoletas, que não fazem qualquer sentido para quem tem dois dedos de testa e que só ignora quem não quer saber do assunto, quem não se esforça por saber mais sobre ele, ou quem, de certa forma, pode sair beneficiado dessa situação, certamente não os alunos nem os professores.
Uma destas coisas do arco da velha são as aulas de 90 minutos, que prevalecem em tantas escolas do nosso país. 90 minutos já são pesados para estudantes universitários, fará para alunos de faixas etárias abaixo. O facto é que não podemos exigir aos nossos alunos que fiquem 90 minutos a ouvir o professor com concentração. Quem é que consegue acreditar que tal é possível?
As aulas devem centrar-se sempre no aluno e não no professor. Por esse motivo, devem ser compostas por uma parte teórica mais expositiva, mas também por uma parte mais prática, na qual os alunos tenham uma participação ativa, seja de forma escrita ou oral. Ainda assim, os 90 minutos de duração na aula poderão ser penosos para professores e alunos, por mais importante que um tema possa ser.
Tantos os alunos como os professores necessitam de uma pausa para descansar a mente e recuperar energias, sendo que acredito que a duração máxima de uma aula nunca deveria ir além dos 50 minutos. Claro que poderão sempre referir que há também aulas de 120 minutos, mas com um intervalo no meio. Ainda assim, não creio que seja benéfico para os alunos serem submetidos à mesma disciplina mais do que 50 minutos diários.
Acredito mesmo que se o tempo de duração de cada aula fosse reduzido, haveria muito mais interesse nas aulas por parte dos alunos e a assiduidade seria também muito maior. Alunos motivados aprendem mais e é exatamente isso que devemos querer para as nossas escolas: motivação por parte de alunos e professores.
Em termos de primeiro ciclo do ensino básico, a situação torna-se ainda mais grave: crianças cheias de energia não deveriam ser fechadas horas, diariamente, dentro de uma sala de aula, de manhã à tarde. Recordo-me de, na minha infância, ter aulas só de tarde, com a manhã livre para brincar. Outros meninos tinham aulas só de manhã. Aprendíamos menos? Creio que muito pelo contrário. Compreendo perfeitamente que o quotidiano familiar mudou e existem muitas famílias sem apoio dos avós e que não têm condições de pagar um ATL onde as crianças possam ficar o resto do dia. Por isso mesmo, sendo a escola um espaço onde os alunos passam grande parte do seu tempo diário, deveria constituir um local de aprendizagem muito além da sala de aula.
As aprendizagens fazem-se de várias formas, que podem ser muito criativas e pedagógicas. Dá trabalho remodelar o sistema? Claro que sim, mas urge uma atitude nesse sentido! Não podemos, como pais e cidadãos, continuar inertes como se não fosse nada connosco. Só oiço falar da tecnologia como prova dos avanços na educação. Mas que avanços são esses em que os nossos alunos leem cada vez menos e escrevem cada vez pior? E os valores, as atitudes? Onde está o peso disso tudo? Muitos dos manuais existentes são também muito pouco apelativos e não fomentam o desenvolvimento do pensamento crítico, tão importante.
Queremos passar uma imagem de povo evoluído no campo da educação, oferecendo material informático a alunos, a ter quadros interativos nas salas de aulas e a estruturas provas de aferição do 2º ano com recurso a computadores? E o resto? E tudo o resto? Aprender vai muito além do que está a ser empreendido e da forma como o ensino está a ser preconizado nas nossas escolas. Para quando dar o grito do Ipiranga na educação portuguesa?
Ana Catarina Mesquita
Fonte: Visão
1 comentário:
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