Madalena Ribeiro é a prova de que a deficiência não define quem a possui quando se criam as condições necessárias para o desenvolvimento desse ser humano de acordo com as suas caraterísticas.
Teve uma infância feliz, rodeada de muitas crianças e adultos, pois a sua família é grande e viviam todos perto uns dos outros. Os pais descobriram que era cega quando tinha apenas quatro meses, mas fizeram questão de não a proteger por essa condição.
Como tal, conviveu com outras crianças experienciando como normal o desafio de superar barreiras, e só ganhou consciência da sua cegueira quando entrou na escola e teve um sistema de leitura e escrita diferentes.
Iniciou a aprendizagem do Braille ao mesmo tempo que os colegas começaram a ser alfabetizados. Depois de uma avaliação técnica que atestou estar preparada cognitivamente para iniciar a escola, recebeu uma estimulação do tato e motricidade fina para a preparar para a leitura e escrita braille.
Aprendeu a fazer as letras e os números tal como as outras crianças, ainda que a um ritmo diferente, sendo inscrita, depois, numa escola de música para trabalhar o ouvido, o tato, a leitura e escrita de música em braille, bem como a mobilidade e destreza manuais.
Aos catorze anos, quando teve de escolher a área de estudos que desejava seguir, decidiu que queria desenvolver uma carreira profissional nas línguas, concretamente na área da tradução, pois já nessa altura era consciente do que poderia funcionar melhor para si.
Quando foi para Faculdade de Letras da Universidade do Porto, teve preparação ao nível da orientação e mobilidade para conhecer a faculdade por dentro, a residência universitária e os trajetos mais importantes. Quando terminou a licenciatura, manteve-se na mesma faculdade onde fez mestrado em Tradução e Serviços Linguísticos.
Posteriormente, foi viver para Lisboa com o companheiro, altura em que teve a primeira experiência profissional relacionada com acessibilidade para pessoas com deficiência.
Como gostou muito do tema, decidiu tirar uma pós-graduação em Acessibilidade Universal e Design para Todos, na Universidade Autónoma de Madrid. A experiência permitiu-lhe compreender o impacto que as condições de mobilidade e acessibilidade têm na qualidade de vida dos deficientes.
A procura de emprego e a integração profissional foram desafiantes, sendo a mentalidade das entidades empregadoras, dos recrutadores e de quem analisa os currículos a principal barreira.
No seu caso, quando começou a enviar currículos dizia que era cega até compreender que talvez fosse por isso que não recebia respostas, pelo que adotou a estratégia de não referir essa condição.
Teve entrevistas de trabalho em que ouviu coisas desagradáveis por parte de quem a entrevistava. Experiências que demonstram, na sua opinião, a necessidade de uma maior formação dos recursos humanos das empresas de contratação, bem como da importância de normalizar a diferença em contexto profissional.
Mesmo assim, faz questão de salientar que se têm dado passos importantes em termos de empregabilidade de pessoas deficientes no nosso país, mas reconhece que a principal barreira é o preconceito de que as pessoas com deficiência são incapazes, algo que apesar de já estar demonstrado não ser verdade, continua a implicar um esforço sobre-humano da parte dos deficientes que têm de provar constantemente que são melhores do que os colegas.
Confessa ter passado por tudo isto e agradece estar integrada, atualmente, numa empresa cuja mentalidade nórdica contribuiu para o sucesso da sua integração. É formadora e gestora de formação no departamento de apoio ao cliente da Ikea Portugal, para além de colaborar, também, com algumas entidades na área do turismo acessível.
Fonte: DN
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