No mundo materialista em que vivemos atualmente, e com a crise de valores atual, associada à falta de cultura e à noção dos deveres e direitos que possuímos como cidadãos, torna-se imperioso que exista, de facto, educação para a cidadania nas nossas escolas.
Os jovens veem poucos noticiários e leem poucos jornais, sendo preocupante a falta de noção da gravidade de alguns problemas no mundo e que afetam todos os habitantes do planeta. Por outro lado, o pouco interesse pela vida política também é alarmante em Portugal, onde a taxa de abstenção dos jovens em eleições é bastante alta. É, pois, urgente despertarmos nos jovens portugueses este interesse pela vida e pela governação do país e da União Europeia, e isso pode começar nos currículos escolares.
Neste contexto, surgiu, nas escolas, há uns anos a disciplina de Formação Cívica que, à primeira vista, seria algo inovador e muito interessante, mas que acabou por não cumprir o que prometia à partida, acabando por ser extinta por Nuno Crato. Em 2017, no âmbito da Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania, surge, então, a Educação para a Cidadania. Esta disciplina poderia ser aproveitada de outra forma, para, desde cedo, fomentar a participação cívica nos jovens, em projetos de índole mais prática na comunidade ou até a nível nacional, embora algumas escolas já o façam e muito bem.
É uma disciplina que visa contribuir para a formação de indivíduos responsáveis, solidários, que conhecem e exercem os seus direitos e deveres, respeitando os outros e vivendo num espírito democrático. Contudo, algo está a falhar, porque no momento em que vemos bullying, discriminação, intolerância e desvalorização perante a diferença, ficamos a pensar que existe muita discussão necessária sobre temas essenciais, um diálogo que não está a acontecer em várias escolas, ainda que, evidentemente, noutras sim. Ainda assim, de uma forma geral, há um grande peso atribuído aos conteúdos em comparação com aquele que é conferido à discussão dos valores de cidadania.
Na era da globalização, a interculturalidade é essencial e também faz parte da cidadania sabermos receber bem os povos que coabitam no nosso território e começarmos a ver o mundo como um local em que as fronteiras se esbatem. É, pois, urgente que surjam mais projetos escolares neste contexto.
Por outro lado, a educação financeira também faz parte da cidadania, uma vez que permite que os jovens adquiram e desenvolvam conhecimentos e capacidades basilares para as decisões que, no futuro, terão que tomar sobre as suas finanças pessoais e que permitirão que se tornem consumidores conscientes, e isto deve ser um assunto debatido nesta disciplina.
Ainda de destacar a questão da proteção ambiental, que constitui um dos problemas centrais da atualidade. Será que portugueses têm real consciência dos problemas ambientais e demonstram comportamentos que espelham essa consciência, ou ainda se denotam falhas nesse campo da educação em relação a outros países da Europa? Esta é outra questão que merece reflexão, associada ao civismo, que devia ser a base de todos os comportamentos sociais.
Julgo que esta disciplina pode e deve ser aproveitada de outra forma por diversas escolas, uma vez que o propósito da sua criação é nobre e fundamental para os nossos jovens. A escola deve ir muito além da aquisição de conteúdos, ainda que esta seja, também, fundamental.
Ana Catarina Mesquita
Fonte: Visão por indicação de Livresco
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