Segundo algumas teorias, a perceção de competência positiva determina a motivação no envolvimento numa tarefa e o desempenho académico. No entanto, segundo outras, as relações entre as três variáveis são recíprocas.
Um estudo recente, dirigido por duas investigadoras da Universidade do Quebeque, no Canadá, explorou esta questão. O seu principal objetivo consistiu em compreender melhor a dinâmica das relações entre a perceção de competência, a motivação e o rendimento escolares, adotando-se um desenho longitudinal de cinco anos.
A investigação começou no 5.º ano de escolaridade e terminou no fim do 9.º ano. Iniciou-se no 5.º ano para garantir que os alunos, pelo menos a maioria, já tinham alcançado um desenvolvimento cognitivo suficiente para avaliarem a sua competência. Esse período também abrangia a etapa significativa da transição do 2.º para o 3.º ciclo, segundo a nomenclatura usada em Portugal. A amostra incluiu 830 alunos (426 raparigas e 404 rapazes) de nove escolas. Anualmente, estes alunos responderam a um questionário sobre a sua perceção de competência e motivação, enquanto o seu desempenho académico foi relatado pelos respetivos professores.
A análise dos dados indica que a perceção de competência prevê sistematicamente a motivação, mas esta só prevê a perceção de competência nos primeiros dois anos do estudo. Além disso, a motivação, mesmo se se relaciona só debilmente com o rendimento escolar a cada ano, nunca o prevê no ano seguinte. Registam-se também relações recíprocas entre a perceção de competência e o rendimento escolar, exceto no 5.º ano, em que a perceção de competência não prevê o desempenho académico no ano seguinte. Já o rendimento escolar prevê sempre a perceção de competência no ano a seguir.
Estes resultados mostram que, apesar da transição do 2.º para o 3.º ciclo — em que a perceção de competência, a motivação e o desempenho académico diminuem —, ainda existe uma continuidade nas características dos alunos: aqueles com uma elevada perceção de competência, motivação e bom rendimento no 2.º ciclo continuam a tê-los no 3.º ciclo, e vice-versa. E é precisamente entre o 6.º e o 7.º ano — ou seja, na referida passagem de ciclo — que se registam os vínculos mais baixos, tanto na perceção de competência quanto no rendimento escolar. Porém, o efeito da transição, se existe, é frágil e de curta duração.
Este estudo sublinha assim a importância de se desenvolver e manter uma perceção de competência académica positiva nos alunos, contrariando a crença de que tal levaria o aluno a esforçar-se menos. É, pois, essencial uma formação docente que integre estas descobertas.
Fonte: Iniciativa Educação
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