A construção de sistemas educativos que sejam efetivamente inclusivos é uma tarefa para a qual não se vislumbra um fim. Como muito bem se diz, a Inclusão é um processo de transformação longo e complexo. A inclusão não se pode instalar instantaneamente, antes de mais porque não se trata de fazer algo de novo e pela primeira vez. Na verdade, a Inclusão tem de se desenvolver numa instituição (na escola…) muito antiga e que sobretudo não foi pensada, não foi organizada para ser inclusiva. Assim trata-se mais de mudar algo mais do que construir algo de raiz. Por isso por vezes é bem mais complexo. Lembro-me de um presidente de Câmara com quem um dia falei, que me dizia que a parte mais fácil do urbanismo do seu concelho era a de construir bairros novos: a mais difícil era reabilitar bairros antigos.
Outra questão que torna a Inclusão complexa é o facto de ter de se fazer “em andamento”. Não é possível encerrar as escolas, colocar toda a comunidade educativa a refletir e a planear e preparar novos currículos, novas estratégias, novos sistemas de avaliação, etc. A Inclusão tem de ser um processo no qual se procura a mudança enquanto se assegura o funcionamento de um sistema. Há tempos escrevi um texto em que dizia que a Inclusão é “construir o avião enquanto se voa”, enfim, uma tarefa arriscada, urgente e… bem difícil.
Estas dificuldades não são novas e o simples facto de as enunciarmos não significa que as hipervalorizemos de forma a que o mais lógico seja o conformismo e a atitude de “isto é mesmo assim”. Conhecendo a complexidade da tarefa, é sempre tempo de deitarmos mãos à obra, de fazer algo mais em termos da diversificação do currículo, da cooperação e da organização da escola e da sala de aula.
Temos bons pontos de partida para deitarmos mãos a esta empresa: a escola pública em Portugal - inda que com as dificuldades e com as limitações que lhe conhecemos – dispõe de um grande capital de recursos e de organização que lhe permite melhorar ainda a qualidade da educação que ministra. Será que alguém duvida que, com os recursos que dispomos, se poderia fazer mais e melhor? Será que alguém duvida que há muito trabalho que é feito nas escolas que poderia ter um maior impacto na aprendizagem e na educação dos alunos? Penso que ninguém duvida. E assim, “a bola fica do nosso lado”: ao mesmo tempo que reivindicamos mais recursos e uma melhor qualidade de serviços temos de atuar nas nossas escolas, nos nossos agrupamentos, nas nossas freguesias, nos nossos concelhos, enfim, onde acharmos que podemos influenciar, para nos assegurarmos que o que sabemos, o que temos e o que pensamos pode ser melhor usado, com mais eficácia e proveito.
E, caras sócias e sócios, caros amigos da Pró – Inclusão, não se esqueçam que mesmo que seja arriscado e às vezes até perigoso, vale a pena construir um avião enquanto se voa. É que a alternativa é… digamos… dolorosa… Boas férias e em setembro cá estamos de regresso! (Queremos receber as vossas opiniões sobre a nova revista “Educação Inclusiva”!!!)
Um abraço.
David Rodrigues
Fonte: Editorial da Newsletter de julho de 2016 da Associação Nacional de Docentes de Educação Especial
Sem comentários:
Enviar um comentário