domingo, 21 de dezembro de 2014

Os colégios do ensino especial

O suíço Édouard Claparède (1873-1940) foi um neurologista e psicólogo do desenvolvimento infantil. O seu contributo científico foi importante nas áreas do desenvolvimento infantil, do estudo da memória e sobretudo no campo da psicologia e da pedagogia, tendo sido uma das principais influências do seu compatriota Jean Piaget, cuja obra permanece fundamental nos dias de hoje.

Claparède defendia um ensino das crianças baseado no conhecimento profundo dos mais novos, aliado à utilização do jogo e outras técnicas lúdicas. Os seus trabalhos deram origem ao movimento da Escola Nova e contribuíram para a ideia, revolucionária no seu tempo, de que todas as crianças, mesmo as mais problemáticas, podem aprender, desde que participem no processo de aprendizagem.

O Colégio português de Educação Especial Eduardo Claparède foi fundado em 1953 por diversas pessoas, entre as quais o conhecido pedopsiquiatra e psicanalista João dos Santos, que, nos anos 70, chegou a convidar-me para lá trabalhar, o que infelizmente nunca se concretizou por indisponibilidade minha.

É um estabelecimento de Ensino Especial onde trabalham descendentes dos sócios fundadores e dos colaboradores mais antigos, numa dinâmica de funcionamento que sempre privilegiou um ambiente familiar, com profundo respeito pelas crianças e as suas famílias. Escola muito conhecida e prestigiada, esteve na origem de outras instituições relevantes, como o Centro Helen Keller, a Liga Portuguesa dos Deficientes Motores e o Centro de Paralisia Cerebral da Fundação Calouste Gulbenkian.

O Colégio Claparède defende a afetividade e a criatividade como marcos fundamentais do seu projeto educativo, utilizando também a pedagogia terapêutica no seu trabalho quotidiano com crianças com necessidades educativas especiais. Um dos seus objetivos é justamente a integração e inclusão social dessas crianças, na linha do que o seu patrono Claparède sempre defendeu. O Colégio, para além das suas atividades de ensino diário, dispõe ainda de um lar-residencial, destinado a alunos que precisam de um apoio mais prolongado, por problemas complexos nas famílias de origem.

Serve esta contextualização histórica para lançar um apelo: o Colégio Eduardo Claparède está em dificuldades, não podemos ficar indiferentes. No momento em que escrevo (14/12), o Ministério da Educação ainda não satisfez o compromisso de apoio financeiro aos Colégios de Ensino Especial, entre os quais está o Claparède, de que falo isoladamente apenas porque conheço há muitos anos o seu trabalho.

Numa entrevista a uma rádio, uma das fundadoras do Claparède, Maria João Gouveia, alertou para as graves dificuldades que a instituição agora enfrenta, tal como outros colégios de Ensino Especial: sem o apoio do Ministério, está em risco a sobrevivência desta escola e de vários estabelecimentos de Ensino Especial.

Infelizmente, não fiquei surpreendido com esta falta do Ministério da Educação. Desde o início do seu mandato, o trabalho da atual equipa ministerial tem sido caracterizado pela pouca atenção aos problemas dos alunos com dificuldades, privilegiando antes o incentivo exagerado ao mérito e o apoio ao êxito académico, medido apenas através dos resultados aferidos por exames no final do ano.

Esperemos que depressa se resolva este apoio essencial, sem o qual o Ensino Especial sofrerá danos irreparáveis. Educar é incluir e evitar a discriminação.

Daniel Sampaio

Fonte: Público

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