O ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, quer que qualquer escola pública possa “escolher quem contrata e quem demite, com base no mérito”. O problema da educação não é a falta de dinheiro mas de objetivos, revela numa entrevista à revista brasileira Veja (...), esta quarta-feira.
Nuno Crato – que é apresentado como um “matemático”, que se “notabilizou por divulgar e traduzir para o quotidiano os grandes teoremas e equações” e que “comanda hoje uma radical reforma no ensino que se baseia em metas, avaliações e mérito” – diz que o segredo para o sucesso do ensino em Portugal são as metas de aprendizagem. Fundamentais para que os professores saibam o que lecionar e para que os pais possam verificar se as matérias foram ou não dadas.
“Estou a mexer justamente aí, ao sistematizar metas de aprendizagem ano a ano, matéria a matéria, no detalhe. Ter metas para a sala de aula é crucial para orientar não só os professores mas os próprios pais” para que estes possam “cobrar [à escola] se um determinado conteúdo foi mal dado ou ficou para trás”, defende.
Numa entrevista de três páginas com o título "Contra a demagogia na escola", o ministro revela que, tal como acontece no ensino privado, as escolas públicas devem ter liberdade para contratar e despedir os professores. “É o que estou a planear para os próximos anos em Portugal. Visto como um todo, o modelo de gestão de educação do século XXI ainda faz lembrar muito o velho sistema soviético, em que um comité central concentra todas as decisões. As escolas públicas precisam de mais autonomia para atrair os melhores cérebros e avançar mais rapidamente”, defende.
O governante revela que a tutela reconhece e premeia as melhores escolas, estas “recebem mão de obra extra de qualidade”. Tratam-se de estabelecimentos de ensino que dão “reforço aos alunos com mais dificuldades” e apoiam os outros a evoluir. “Sim, os alunos são diferentes entre si e por isso mesmo devem ser tratados de forma diferenciada. A utopia do igualitarismo, essa que muitos na educação defendem, só seria possível num único e não desejável cenário: aquele em que todos são medíocres.”
Sobre a necessidade de investir no sistema educativo, Nuno Crato considera que os “desafios dependem menos de dinheiro e mais de objetivos claros, ambiciosos e de organização”, com o propósito de formar cada vez “mais e mais engenheiros, médicos e cientistas. As crianças devem ser despertadas, desde cedo, para o interesse por essas áreas. Não será à base do velho e empolado ‘eduquês’ que conseguiremos dar o grande salto."
Memorizar a tabuada, cidades e rios
Contra o 'eduquês' e as teorias de Jean Piaget, Nuno Crato defende a memorização. “É importante decorar a tabuada, o nome e a localização de certos rios e cidades e as datas mais importante da História.”
Questionado sobre o modo como as crianças aprendem, o ministro afasta a ideia do gosto pela aprendizagem. Esse é um “pensamento muito limitado” e exemplifica: “Veja o caso da leitura. Muitos educadores acham que para ler bem a criança precisa, antes de qualquer coisa, estar desperta para o gosto pela literatura”, mas não, Crato considera que “tem de se ler muito, mesmo sem gostar. O treino precisa de ser permanente e exaustivo. Quanto mais automática se tornar a leitura, mais hipóteses a criança terá de retirar prazer”.
Para o ministro, o ensino da matemática só tem sucesso se houver “organização do conteúdo por parte dos professores e muito treino do lado dos alunos”. Atualmente, “as sociedades não valorizam o conhecimento rigoroso, aquele que exige método, empenho e exercício para ser bem sedimentado. Acham que as crianças vão aprender por osmose”, conclui.
Por Bárbara Wong
In: Público
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