Os mitos que rodeiam o cérebro não têm parado de crescer, acompanhando as descobertas sobre a estrutura mais complexa do corpo humano. Em 5 respostas, a psicóloga e especialista em Ciências da Saúde Joana Rato explica como aprende o cérebro e que estratégias facilitam esse processo.
Como é que aprende o cérebro?
Aprender é um processo de mudança a partir do qual se junta mais informação e competências ao conhecimento prévio que fomos construído. O nosso cérebro desde inicio tem uma grande capacidade de mudança em resposta às experiências e a quantidade de esforço que essa mudança exige é menor no período infanto-juvenil. Hoje sabemos que há janelas de oportunidade para adquirir determinadas competências mediadas pelo processo de maturação cerebral que ao longo do tempo vai perdendo a flexibilidade. Ainda assim, a boa notícia é que conseguimos aprender ao longo da vida.
A ideia de que é mais importante a motivação para aprender do que a repetição está errada?
Ambas são precisas, mas a motivação, por si só, não chega. Na verdade, é a prática que nos ajuda a aprender, se orientarmos a nossa vontade para essa prática tendemos, naturalmente, a investir mais tempo nas tarefas e, consequentemente, podemos aprender mais num menor espaço de tempo. Mas o resultado de aprendizagem vem, sobretudo, da prática.
Pesquisas recentes indicam-nos que já estamos a chegar aos 100 mitos sobre o cérebro. No ensino e aprendizagem pelo menos nove são alvo de debate.
Que outros mitos ainda rodeiam a forma como o cérebro aprende?
Pesquisas recentes indicam-nos que já estamos a chegar aos 100 mitos. O número de distorções sobre a estrutura e funcionamento do cérebro tem aumentando muito nos últimos anos, à semelhança do entusiasmo sobre as descobertas do cérebro.
Sobre o ensino e aprendizagem debatem-se pelo menos nove mitos. Desde as inteligências múltiplas, passando por várias recomendações com escassos dados que as comprovem, como, por exemplo, os alunos devem ser sempre recompensados para aumentar a dopamina ou que devem ser expostos a novas informações entre três e sete vezes para aprendê-las efetivamente. Tudo isto são extrapolações que desviam do que realmente interessa saber sobre como aprendemos.
Porque é que os avanços das ciências cognitivas ainda não estão refletidos de forma consistente no sistema de ensino?
Primeiro penso que os dados científicos não chegam de forma clara às escolas, há ainda pouca oferta formativa de qualidade para professores sobre estes tópicos e nem todos estão também despertos para a importância da literatura de outros domínios científicos para além das ciências da educação. É igualmente preciso um investimento por parte dos investigadores para este trabalho de divulgação transdisciplinar.
Que mecanismos comprovadamente nos ajudam a aprender melhor?
Aprender tem necessariamente de fazer recurso a capacidades cognitivas. Não se aprende se não recrutarmos a atenção, não se aprende se não memorizarmos a informação e não se aprende se não monitorizarmos os vários passos na execução de uma tarefa para identificar se chegámos ao conhecimento pretendido ou o que falhou. Também dificilmente se aprende se não treinarmos e se não tivermos a necessidade de obter um resultado. Todas as estratégias que ao considerarem o nível de desenvolvimento nos ajudam a manter a atenção, controlar distratores e procrastinação, bem como usar a memória de trabalho serão facilitadores de aprendizagem.
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