sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Será a dita educação centrada no aluno melhor? Um novo estudo tem dúvidas

Uma investigação recém-publicada mostra haver poucas evidências objetivas que provem a eficácia da educação dita centrada no aluno. No entanto, esta abordagem — que pressupõe capacitar os alunos para assumirem um papel mais ativo na sua aprendizagem — é frequentemente promovida por organizações como a UNESCO e o Banco Mundial e exige grande dispêndio de tempo e recursos. Ainda assim, sabemos relativamente pouco sobre os resultados da sua aplicação.

Neste trabalho, conduzido por Nicholas Bremner, Nozomi Sakata e Leanne Cameron, os três autores pretenderam averiguar, de forma sistemática e abrangente, se e como estes métodos se traduzem em melhores resultados — quer cognitivos, quer não cognitivos — no contexto de países de baixo e médio rendimento. Para isso, sintetizaram a pesquisa existente sobre a aplicação desta pedagogia nestes países e à luz precisamente dos resultados obtidos. Após um processo prévio de recuperação, triagem e análise de textos, realizaram uma revisão sistemática de 62 artigos de periódicos de 2001 a 2020 que se referiam explicitamente aos resultados da aplicação destes métodos.

Os resultados mostram que, quanto às experiências gerais de alunos, 23 dos 62 textos incluíam comentários sobre experiências positivas, enquanto 7 continham relatos negativos. Em relação às experiências gerais de professores, 28 textos apresentavam exemplos positivos, não tendo havido casos com experiências negativas ou limitadas.

Já em relação a dados objetivos de melhores resultados na aprendizagem — usando-se medidas externas e/ou padronizadas, que procuravam vincular esta abordagem a melhores resultados de aprendizagem académica —, apenas 9 dos 62 estudos as continham, e também não se encontraram textos com a descrição de efeitos limitados ou negativos. Por outro lado, 26 artigos citavam exemplos de perspetivas não objetivas de professores ou alunos sobre o progresso discente, enquanto 9 incluíam exemplos de pouca ou nenhuma melhoria da aprendizagem.

Quanto a resultados não cognitivos decorrentes da aplicação da educação centrada no aluno, a investigação encontrou 23 artigos com resultados positivos, tais como motivação, interesse, confiança e autoeficácia, e 3 com resultados negativos, relacionados com aspetos psicoemocionais. Outro resultado importante consistiu nas mudanças das relações entre professores e alunos, referidas em 27 dos 62 casos. Entre estes 27 textos, 25 relatavam mudanças positivas e apenas 4 indicavam nenhuma mudança ou mudança negativa.

A maioria dos estudos analisados relatou assim resultados positivos, ainda que a base de dados objetivos permaneça muito pequena, com um reduzido número de estudos a apresentar dados concretos para provar ou refutar o valor desses métodos. Daí a importância de uma pesquisa mais rigorosa e em grande escala sobre esta abordagem, sobretudo se, ainda de acordo com os autores, tanto tempo e tantos recursos continuarem a ser mundialmente investidos no dito ensino centrado no aluno.

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