segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Ser professor: o direito à dignidade e ao respeito

Face ao que todos estamos a assistir, no que concerne à luta de professores, é importante que reflitamos sobre a sua origem, sendo mais importante ainda refletir sobre o papel que os professores desempenham na nossa sociedade.

Sobre a origem desta luta, fácil se torna perceber quais os fatores que a motivaram. Um deles terá a ver com o salário que recebem, porque, assim penso, a Educação é, sempre foi, subfinanciada e nada, ou muito pouco, valorizada, fazendo com que os professores não tenham experimentado um aumento salarial há muitos anos.

Segundo estudos estatísticos efetuados noutros países ocidentais (no nosso, o ministro da Educação, na entrevista que deu à RTP, andou aos papéis, quer quanto a este assunto, quer quanto a quase todos os outros assuntos em debate, evidenciando uma falta de preparação evidente, refugiando-se numa retórica e num discurso sem substância), a maioria dos professores aufere cerca de 20% a menos do que os seus pares que trabalham em organismos privados, embora possuam experiência e habilitações semelhantes, ou superiores, mestrados e/ou doutoramentos.

Diria mais, esta situação é agravada, para muitos deles, pelo facto de serem colocados a distâncias significativas das suas áreas de residência, levando-os a viver perto do limiar da pobreza e a sofrerem possíveis danos psicológicos, perturbadores da sua saúde mental, causados pelo distanciamento que os separa dos seus entes queridos, particularmente dos seus filhos que, como todos sabemos, necessitam de modelos (pai e/ou mãe) que lhes facilitem o crescimento, incutindo-lhes valores e princípios que contribuam para o seu desenvolvimento saudável, pessoal, social e académico.

Outros fatores têm a ver com a progressão na carreira, com o seu congelamento decretado há muitos anos (superior a seis anos) do qual, para espanto de todos nós, o primeiro-ministro diz, traduzido num ditado popular, que “águas passadas não moem moinhos”, com o ministro da Educação a assinar de cruz. Ainda é de considerar, o desrespeito demonstrado pelos sucessivos governos, incentivando os portugueses, particularmente as famílias, a posicionarem-se contra os professores, a menosprezarem o seu trabalho, a desrespeitá-los, tantas vezes de forma violenta, verbal ou física. Muitos mais fatores poderia enunciar, embora por falta de espaço não o possa fazer.

No que respeita ao papel que os professores desempenham na sociedade, começaria por dizer que eles são a sua pedra basilar, os seus elementos mais importantes. Aqueles que dão um propósito aos alunos, transmitindo-lhes, além de conhecimento, princípios e valores que os preparam para se tornarem cidadãos de pleno direito, produtivos e independentes. As crianças de hoje serão os líderes de amanhã e, em grande parte, isso deve-se ao trabalho dos professores. Desvalorizar o seu papel não só é desrespeitar o quanto o seu trabalho é essencial no progresso de um país, mas também não se perceber os sacrifícios que fazem, traduzidos no tempo que passam a planificar, a preparar as aulas, a analisar os trabalhos dos alunos, a dar feedback aos alunos e aos seus pais, tudo isto fora do seu horário de trabalho. E fazem-no sempre com imensa dedicação e profissionalismo, na maioria dos casos em casa, ficando acordados até tarde e sacrificando o seu tempo com a família.

Ainda neste campo, acrescento a sua prestação letiva, cada vez mais exigente, quer na sua qualidade, quer na prestação de serviço a uma diversidade de 25 a 30 alunos, incluindo os alunos com necessidades especiais, que têm nas suas salas de aulas.

Perante este cenário, tendo em conta a sua enorme carga de trabalho e uma vida de constante stress e de desrespeito pela sua atividade profissional, não será muito difícil compreender-se a possível falta de motivação dos professores e a persistência da sua luta em prol de melhores condições de trabalho. Congregar baixos vencimentos com as exigências da profissão cada vez mais acrescidas tem feito com que muitos deles tenham abandonado a carreira e tem contribuído para que os jovens que sentem uma vocação genuína para se tornarem professores vejam, perante todas estas vicissitudes, que o seu sonho é inalcançável, com imenso prejuízo para um país que, acima de tudo, deveria valorizar a educação como via do seu crescimento e bem-estar de todos os cidadãos.

Por isso, é preciso garantir compensações adequadas e respeito pela profissão que reflita o imenso trabalho extraordinário que os professores realizam todos os dias. Contudo, estes pressupostos não parecem estar na mente dos nossos governantes, particularmente na do ministro da Educação, pelo que todos estes problemas, incluindo contagem de serviço, aumentos salariais e melhores condições de trabalho, poderão continuar a persistir sem se vislumbrar um fim. Quanto a mim, um cenário que já não se sente sustentável.

Encontrar uma resposta equilibrada para estes problemas terá não só um impacto muito positivo na saúde mental dos professores e dos alunos, como também garantirá a qualidade do ensino prestado nas salas de aulas, tendo como consequência última o desenvolvimento social e económico do país e, por conseguinte, a melhoria das condições de vida de todos nós.

Seria bom que, sempre que uma comunidade se destacasse pelo sucesso das suas realizações, pensássemos e agradecêssemos aos professores que as tornaram possíveis.

Luís Miranda Correia

Fonte: Público

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