sábado, 27 de março de 2021

“Escolas de Verão” podem ser solução para recuperar aprendizagens perdidas

Campos de férias e ATL podem passar a incluir, durante o Verão, um período destinado a trabalhar os conhecimentos que ficaram atrasados por causa da pandemia. A proposta é feita por um grupo de economistas da Nova School of Business and Economics (Nova SBE), que esta quinta-feira apresentou um plano de recuperação das aprendizagens que custaria, pelo menos, 200 milhões de euros se fosse implementado pelo Governo.

Estas “escolas de Verão”, como lhe chamam os economistas, assentam “na infra-estrutura já existente”, como campos de férias e outras actividades de ocupação dos tempos livres das crianças e jovens, explica a professora da Nova SBE, Susana Peralta, uma das especialistas que assina o documento. Sem deixarem de ter actividades lúdicas, desportivas e culturais – “de que estão necessitados” – ao dia-a-dia dos alunos seria também adicionada uma componente de tutoria destinada a recuperar as matérias que tenham ficado perdidas por causa da pandemia e do ensino remoto.

Este programa destina-se a alunos inscritos no 1.º e 2.º ciclo no ensino público e teria a duração de quatro semanas. As tutorias aconteceriam uma hora por dia, durante esse período, e implicariam a contratação de tutores, que podiam ser não só professores com profissionalização, como recém-licenciados ou jovens que estivessem ainda a concluir formações superiores.

A proposta dos economistas da Nova pretende “lançar um debate, que é necessário”, segundo Susana Peralta. “Agora que já há um plano de reabertura” – iniciado a 15 de Março no pré-escolar e 1.º ciclo e que prossegue a 5 de Abril com a retoma do 2.º e 3.º ciclos – “o passo seguinte é a recuperação das aprendizagens”. A questão é especialmente relevante para os alunos de contextos socio-económicos mais desfavorecidos, que são os mais afectados pela perda de conhecimentos no contexto da pandemia, segundo os dados internacionais existentes, defende.

As escolas de Verão podem envolver “entre 251 mil e 331 mil alunos do 1.º e 2.º ciclo” o que, tendo em conta a estimativa de um custo de 166 euros por aluno, implica um investimento total de 42 a 55 milhões de euros. A principal fatia do plano dos economistas da Nova destina-se, porém, a um programa de tutoria mais abrangente, que aconteça ao longo de todo o ano lectivo, em horário escolar e com duas sessões semanais, abrangendo alunos de todo o ensino básico nas disciplinas de Português e Matemática. Os economistas baseiam-se nos resultados das provas de aferição de anos anteriores para estimar que entre 125 e 380 mil alunos possam necessitar de apoio a Português e entre 273 e 528 mil a Matemática.

O custo por aluno varia entre 422 e 704 euros, dependendo de serem constituídos grupos de tutoria de três ou cinco alunos. No total, este programa tem um custo mínimo de 168 milhões de euros, podendo atingir até 639 milhões de euros de custo anual.

Em 2017, o Ministério da Educação lançou um programa de “apoio tutorial específico”, destinado a todos os alunos do 2.º e 3.º ciclo do ensino básico com duas ou mais retenções, abrangendo 20 mil estudantes. No início deste ano lectivo, o número de envolvidos triplicou, como parte do plano de recuperação das aprendizagens afectadas pelo primeiro confinamento – que para a generalidade dos alunos durou até Junho. Nessa altura, o Governo decidiu passar a abranger todos os estudantes retidos no ano anterior, já em contexto de pandemia, e alargar também a iniciativa a quem frequenta o ensino secundário.

O programa de tutorias apresentado pelos economistas da Nova SBE distingue-se daquele que o Ministério da Educação já tem implementado por ser “desenhado especificamente para a recuperação das aprendizagens” afectadas pelos efeitos da pandemia e, em particular, pelos dois períodos de ensino remoto, explica Susana Peralta, que integra a equipa que desenhou este plano juntamente com os colegas de faculdade Pedro Freitas, Ana Balcão Reis e Bruno P. Carvalho.

O grupo de economistas considera necessário ter acesso a “dados que permitam aferir atrasos ou perdas de aprendizagens”, o que constitui “um passo fundamental para desenhar, afinar e medir o impacto de qualquer programa de recuperação de aprendizagens”. No início deste ano, o Instituto de Avaliação Educativa fez testes diagnóstico para perceber impactos da suspensão das aulas sobre os conhecimentos de Matemática, Ciências e Leitura, envolvendo estudantes do 3.º, 6.º e 9.º anos. Os resultados são conhecidos na próxima segunda-feira. O Ministério da Educação anunciou entretanto que, no lugar das provas de aferição do 2.º, 5.º e 8.º anos, que foram canceladas, será realizado um novo estudo aos impactos da pandemia sobre as aprendizagens nos próximos meses.

Fonte: Público

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