sábado, 15 de dezembro de 2018

80% dos jovens em Portugal são felizes

Os jovens portugueses consideram-se felizes, dizem ser fácil falar com os pais, cultivam a amizade, a diversidade e a tolerância, não recorrem tanto ao bullying, fumam pouco e consomem menos drogas, e iniciam-se sexualmente mais tarde. Mas — há sempre um ‘mas’ — não gostam da escola, têm cada vez mais amigos virtuais, dizem que estão exaustos e queixam-se de mal-estar físico, consomem mais álcool, dormem menos e pior, não acreditam na intervenção social e assumem comportamentos de risco no que toca à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e da gravidez não planeada. Numa percentagem baixa mas alarmante, referem ir para a escola e para a cama com fome, por falta de comida suficiente em casa.

São estas as principais conclusões do Health Behaviour in School-Aged Children 2018, financiado pela Organização Mundial da Saúde, que em Portugal é levado a cabo, desde 1996 e a ritmo quadrienal, pela equipa Aventura Social da Faculdade de Motricidade Humana — e em que participaram 6997 jovens do 6º, 8º e 10º anos. “Se é verdade que 80% dos adolescentes se consideram feliz, há uma média de 20% que precisam de atenção especializada. Isto significa um em cada cinco, e isso pode mesmo ser demais”, adianta a coordenadora da equipa, Margarida Gaspar de Matos, ao Expresso, notando que, do ponto de vista das políticas públicas, seria necessária a assunção de “medidas que apoiem os jovens na prevenção das circunstâncias e comportamentos lesivos da sua saúde, bem-estar e participação social”.

APATIA SOCIAL E SEXUAL

É justamente neste item que a psicóloga aponta uma das maiores surpresas do estudo, que desenha “um perfil de apatia juvenil em questões de cidadania ativa e associativismo”. Isto sugere não só uma falta de fé dos jovens nas instituições, como a noção de que a sociedade como um todo “é um assunto onde não é interessante investir, seja porque ninguém lhes liga, seja porque estão demasiado bem ou demasiado mal”.

Em relação à sexualidade, o inquérito apontou para um início de atividade sexual mais tardio do que no de 2014. Porém, Gaspar de Matos não atribui este resultado a uma “educação para a saúde dissuasora”. Pelo contrário, “os esforços de educação para a saúde diminuíram muito durante o ministério liderado por Nuno Crato”, mais centrado na promoção das competências matemáticas. Para a coordenadora, a “forte componente virtual” da atual cultura juvenil pode ter “abrandado o interesse pela sexualidade”. Por outro lado, frisa Gaspar de Matos, “o SNS não está preparado para atender os problemas emocionais dos adolescentes nem das crianças”. O estudo será apresentado na quarta-feira, dia 19.

Fonte: Expresso

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