Helena Serra é investigadora na área de educação especial e presidente da Associação Portuguesa de Crianças Sobredotadas (APCS). Com mais de 20 anos de trabalho na área, diz que o problema do país está na forma como se lida com os sobredotados nas escolas, mais do que na legislação existente. Todos os agrupamentos deviam ter equipas especializadas para trabalhar com estes alunos, defende.
Portugal está atrasado nas respostas que a escola dá aos alunos sobredotados?
Não se pode dizer que não se fez nada. O Ministério da Educação publicou há uns anos uma brochura sobre os aspetos práticos e teórico-práticos da sobredotação. Imagino que esteja em todas as escolas. Não estarão completamente de costas voltadas para a temática. Mas daí até haver um cuidado contínuo de atendimento das necessidades destas crianças vai uma grande distância.
Falta legislação específica ou a questão põe-se mais do lado das práticas?
Existe legislação generalista, sobre avaliações, que se destina a todos os alunos. A mais recente é o despacho normativo n.º 1-F/2016. Lá pelo meio há um artigo ou outro em que podemos enquadrar estes alunos, desde logo através do avanço escolar ou dos planos de apoio pedagógico individual, que podem ser criados para quem tem muitas dificuldades de aprendizagem ou grandes facilidades. Existe algum quadro normativo, mas o grande problema está em passá-lo para o terreno. Aí, percebe-se que as necessidades destas crianças estão desatendidas. Muitas das vezes, a resposta está dependente do facto de encontrarem ou não um professor que os entenda.
O que é preciso mudar?
A sobredotação devia ser matéria obrigatória na formação de base dos professores. Neste momento, existe uma abordagem muito superficial à questão nas universidades e escolas de educação. Estes meninos são 3% a 5% da população, o que implica que o sistema educativo leve este tema a sério. As crianças sobredotadas exigem uma resposta equivalente à que é dada aos alunos com necessidades educativas especiais. Tal como existem em todos os agrupamentos de escolas departamentos de educação especial, deviam ser criadas estruturas para dar estas respostas, com psicólogo e professores com formação específica.
Fonte: Público
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