Há 60 anos foi colocado o primeiro implante coclear, que permite a um surdo ouvir. São perto de 400 mil no mundo, e cerca de 1500 em Portugal.
"Agora consigo ouvir o som da tecla do piano e da corda da guitarra". Para quem esteve 30 anos sem conseguir distinguir os sons, o ser capaz de usar o sentido que permite converter o silêncio em palavras ou melodias é um ganho incalculável, que justifica os cerca de 30 mil euros que custa um implante coclear, quando não há seguro nem Estado a comparticipar. Pelo menos esta é opinião de Leonor Napoleão, de 72 anos, que teve três anos com uma surdez profunda num dos ouvidos e com muitas dificuldade no outro.
(...) Em Portugal, o primeiro implantado coclear adulto, em Portugal, data de 1985. Atualmente existem em todo o mundo perto de 400 mil implantados, dos quais perto de 1500 em Portugal, pessoas que nunca ouviram ou perderam a audição e que encontraram nesta tecnologia a solução para ultrapassaram a surdez e descobrirem (ou redescobrirem) os sons.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que a deficiência auditiva é incapacitante para cerca de 360 milhões de pessoas em todo o mundo. E segundo informação da Associação Portuguesa de Surdos, em Portugal, "estima-se que existam cerca de 120 mil pessoas com algum grau de perda auditiva, incluindo aqui os idosos, e cerca de 30 mil surdos falantes nativos de Língua Gestual Portuguesa, na sua maioria surdos severos e profundos".
O implante coclear é um aparelho, bem diferente das próteses auditivas, com capacidade para oferecer informação sonora a indivíduos com perda auditiva profunda bilateral. É um dispositivo eletrónico colocado através de uma cirurgia, que estimula o nervo auditivo.
"Fui operada em outubro, depois de ter sido avisada pelo médico de que em breve o cérebro já não iria reconhecer nada, nenhum som", explica Leonor, relatando a experiência que se seguiu: "Nos primeiros tempos, depois da cirurgia, só ouvia ruídos, depois ao fim de alguns dias, estes transformaram-se em palavras e depois passei a reconhecer a minha voz, a resdescobrir os sons. É todo um processo de adaptação e reaprendizagem. Agora, quatro meses após o implante já oiço quase tudo. Faço a minha vida normalmente, sem nenhuma limitação. O facto de me ter deixado de sentir isolada foi a maior conquista".
Hoje, dia mundial do implante coclear, sucedem-se os relatos sobre a forma como a tecnologia e a investigação nesta área provocou mudanças radicais na vida de pessoas com perda auditiva severa e/ou profunda. Natália Ventura, de 66 anos, também conta uma história de sucesso. Há dois anos sofreu uma meningite bacteriana bastante grande que a deixou em coma. Depois de um longo internamento percebeu que estava a perder a audição e em três meses ficou surda. A ex-auditora do Tribunal de Contas - beneficiária da ADSE, subsistema de saúde, que suportou grande arte das despesas - decidiu, em maio de 2016, submeter-se a um implante bilateral. "Estava completamente surda e agora já consigo ouvir os pássaros a cantar. É uma sensação maravilhosa. Tive uma vida profissional muito preenchida e ficar completamente surda de um momento para o outro, sem poder comunicar e numa idade já tardia para aprender linguagem gestual, é muito perturbador", comenta Natália, em conversa (...), momentos depois de fazer o "papel de avó" - ir buscar o neto ao futebol. "Voltei a ter a autonomia que perdi. De certa forma, é como se tivesse renascido", salienta.
Surdos pedem mais apoio
Esta técnica foi trazida para Portugal pelos médicos Manuel Filipe e o irmão Fernando Rodrigues, há uns 30 anos. Desde 2011 que se fazem em Portugal, nos hospitais privados, implantes coclear bilaterais simultâneos a surdos profundos, mas, nos hospitais públicos os doentes não podem ser operados aos dois ouvidos porque o Serviço Nacional de Saúde só comparticipa um implante.
Devido ao investimento inerente à colocação do IC, a verdade é que a cirurgia não está acessível a todas as carteiras. Aos 30 mil euros há que acrescentar outras parcelas: a mudança do processador de som do IC deve ser efetuada de 10 em 10 anos, e um processador novo custa uns 10 mil euros; cada avaria, por exemplo de um cabo, custa 200 euros.
Fonte: DN por indicação de Livresco
Sem comentários:
Enviar um comentário