segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Mais de um terço dos europeus sofre de doenças mentais

Segundo um estudo recente, há quase 165 milhões de pessoas na Europa a sofrer com problemas de saúde mental, tais como depressão, ansiedade, insónias ou demências. As mulheres estão cada vez mais deprimidas.
“As doenças mentais tornaram-se o maior desafio de saúde europeu”, refere Hans Ulrich Wittchen, director do instituto de psicologia clínica e psicoterapia na universidade alemã de Dresden e principal autor do estudo divulgado esta semana. Os números representam mais de um terço (38 por cento) da população europeia e revelam ainda que apenas um terço dos casos de desordens mentais estão a ser tratados com terapia e medicação transformando as doenças mentais num pesado fardo económico e social.
O investigador principal alerta que os poucos doentes que estão a receber tratamento fazem-no já tarde e, por vezes, não beneficiam das terapias adequadas. O estudo decorreu ao longo de três anos, abrangendo 30 países europeus (os 27 estados membros da União Europeia e ainda a Suíça, Islândia e Noruega) e uma população de 514 milhões de pessoas. A equipa liderada por Wittchen avaliou a presença de mais de 100 doenças mentais, entre as quais a depressão, a dependência, esquizofrenia e ainda procurou casos de desordens neurológicas como epilepsia, Doença de Parkinson ou esclerose múltipla.
O estudo de Wittchen antecipa as piores expectativas da Organização Mundial de Saúde e conclui que as doenças do cérebro, mentais ou neurológicas são já as que mais contribuem para o peso das doenças na Europa. No “top 4” das doenças mais incapacitantes surge a depressão, demências como a Doença de Alzheimer, a dependência do álcool e os acidentes vasculares cerebrais (AVC). Na lista das doenças mais presentes na população europeia as desordens relacionadas com a ansiedade obtêm uma fatia de 14 por cento, seguidas da insónia com 7 por cento e da depressão com 6,9 por cento. As desordens relacionadas com hiperactividade de défice de atenção afectam 5 por cento da população mais jovem e as demências envolvem um por cento dos cidadãos entre os 60 e 65 anos e 30 por cento das pessoas com mais de 85 anos.
O último estudo em grande escala sobre saúde mental foi publicado em 2005, abrangendo apenas 301 milhões de pessoas, concluiu que 27 por cento da população adulta europeia sofria de doenças mentais. Apesar das diferenças metodológicas dos estudos que impossibilitam as comparações, o estudo anterior ao de Wittchen referia que o custo dessa má saúde mental para a economia europeia ascendia a 386 mil milhões de euros por ano. A equipa de investigação de Wittchen ainda não fez essas contas mas estima que o preço a pagar hoje é “consideravelmente superior” ao de 2005.
Os investigadores referem que, para reparar os danos económicos e não só, é prioritário detectar os problemas mais cedo e actuar mais cedo. “As desordens mentais manifestam-se cedo na vida e têm um forte impacto negativo mais tarde”, avisa Wittchen, insistindo que apenas um em cada três pessoas com problemas recebe algum tipo de tratamento e notando que 90 por cento das desordens associadas à ansiedade manifestam-se antes dos 18 anos.
O estudo, publicado pelo Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia, nota ainda que as taxas globais de depressão nas mulheres duplicaram desde 1970 (grande salto aconteceu nas décadas de 80 e 90, coincidindo com a mudança de padrões sociais e estabilizou nos últimos anos). Ainda assim, no caso da depressão, as taxas são 2,6 vezes superiores nas mulheres em comparação com os homens. Os especialistas detectaram mesmo alguns “momentos-chave” em que esta doença se manifesta mais como, por exemplo, os anos férteis, entre os 16 e os 42 anos de idade e, mais concretamente ainda, nos períodos após ter um filho, quando têm de lidar com a dupla responsabilidade profissional e familiar.
Porém, num relatório recentemente divulgado pela Comissão Europeia sobre a saúde dos homens europeus os especialistas alertavam para um preocupante sub-diagnóstico da depressão e outros distúrbios mentais nos homens, argumentando que estes mais dificilmente pedem ajuda.

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