sábado, 18 de janeiro de 2020

Experiência em educação especial: "Aqui, então, foi realmente um choque"

A texto seguinte é um extrato da reportagem do Diário de Notícias intitulada "Quem perdeu foi o país". A história de quem desistiu de ensinar. Nela, é mencionada a experiência provisória de uma docnente em educação especial.

(...) Devagarinho, ano após ano, "aquele bocadinho que passava dentro de uma sala de aula, a fazer o que mais gostava, deixou de compensar o resto", conta. Convicta de que poderia fazer a diferença num lugar onde o plano curricular não fosse "uma prisão", durante dois anos a professora de Matemática ainda experimentou o ensino especial, para o qual se formou entretanto. "Aqui, então, foi realmente um choque", lembra. Carla conta a impotência que sentiu e a pena que teve "daqueles pais", cujos filhos "eram largados ao abandono quando chegavam à escola". Porque "a inclusão nas escolas é uma mentira", as crianças "estão lá, mas não estão incluídas", até porque" não temos tempo para as acompanhar" garante.

Ainda que a lei preveja medidas de inclusão escolar, pelo menos 30% dos estabelecimentos de ensino não estão a aplicá-la. Em 2018, o governo substituiu a lei da Educação Especial pela Educação Inclusiva, que passa a ser para todos e não especificamente para estudantes com necessidades especiais. Mas um relatório da Federação Nacional de Educação (FNE), divulgado em dezembro de 2019, mostra que a maioria dos professores e educadores não estão preparados para aplicar o diploma. Em grande parte, confessam, por não terem tempo de preparar os recursos para a sua concretização.

"Deixa-se as crianças à sorte do professor que lhes calha. Porque ou os professores se predispõem a fazer mais do que o programa estipula ou os alunos ficam esquecidos", conta Carla Freitas. Ainda de acordo com o estudo da Fenprof e da FCSH, as respostas dos inquiridos mostram que quanto maior a perceção de criatividade, menor o índice de exaustão emocional. "E os profissionais não estão a encontrar a compensação que idealizavam, seja ela material ou emocional", acrescenta Vítor Godinho, membro do Secretariado Nacional da Fenprof. Atualmente, "a profissão é vista com grande desânimo" e é já "desesperante ver o cenário de apatia nas salas de aula". Por isso, não o surpreende que "a partir do momento em que encontram uma alternativa, melhor ou não retribuída, acabem por sair".

A alternativa chegou para Carla, em 2015: uma oportunidade num parque de festas para crianças. A professora de Matemática queria uma vida diferente, um trabalho mais gratificante, por isso, experimentou. Mas não largou de imediato o ensino: durante uns meses, foi conciliando os dois trabalhos - durante a semana, escola; ao fim de semana, o outro. Ali, "tinha a parte boa com as crianças, que já raramente conseguia ver no ensino". Por isso, acabou mesmo por desistir da profissão e dedicar-se a tempo inteiro ao antigo part-time. (...)

Fonte: DN

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