Atualmente, as salas de aulas são povoadas por pessoas de diferentes culturas, línguas, conhecimentos e capacidades cognitivas. Perante tal diversidade, o que se pode fazer ou o que têm feito as escolas para implementar um ensino diferenciado de forma a satisfazer as necessidades dos alunos, nomeadamente, daqueles que melhor desempenho intelectual manifestam?
Verifica-se que, na generalidade, para os alunos mais dotados, as aulas regulares não são estimulantes. Por que motivo os alunos, dentro de uma sala de aula, são tratados de igual maneira? o que fazer aos alunos que estão intelectualmente mais avançados do que os seus colegas, do que o curriculum, do que os manuais adotados e, algumas vezes, do que os professores? serão os piores alunos, a prioridade das escolas? que percentagem de bons alunos merece a atenção dos professores? que aproveitamento se tem feito do potencial destes alunos?
Normalmente os alunos com maiores dificuldades de aprendizagem recebem mais atenção e cuidados. Tal como estes, os alunos com maior capacidade deveriam receber uma atenção equivalente de forma a explorar os seus conhecimentos prévios, interesses e capacidade de utilizar conhecimentos em situações novas, ou seja, de modo a elevar os seus níveis de realização. Que custos e ganhos poderão advir destas estratégias?
O bom senso/profissionalismo recomenda que nas salas de aula se tente responder às diferenças individuais, tais como conhecimento prévio, interesses, estilos de aprendizagem, nível de envolvimento. Mas a prática mostra que tal estratégia está longe de ser justa e real pois dificilmente se realiza um ensino diferenciado na mesma aula. O tratamento dado aos bons é igual ao dado aos menos bons, ou seja não se apoia uns nem outros como seria desejável. A classe heterogénea de alunos não é tratada de forma óptima.
Parece ser difícil focar a nossa atenção, de igual forma, sobre todos os alunos, sem ter em consideração os seus níveis de desempenho. Há que reconhecer que os bons alunos evidenciam uma boa base de conhecimentos e que as matérias apreendidas trivialmente não são estimulantes. Precisam de uma motivação intelectual que contribua para o aprofundamento do seu conhecimento, permitindo-lhes fazer uso dos seus talentos e aptidões. Para estes alunos, os professores têm obrigação, por exemplo, de desenvolver conteúdos/atividades orientadas para a “exploração” do seu pensamento crítico, tentando libertar-se das limitações ou tirania do programa que têm de cumprir. Esta filosofia de atuação, bem mais exigente para os professores, ajudará a levantar o tecto educacional dos alunos que, ao enriquecer o seu ambiente de aprendizagem, promove o seu desenvolvimento intelectual e crescimento académico. Os melhores alunos interiorizam mais profundamente os seus conhecimentos pelo que estão preparados para pensar, usando a lógica e o raciocínio de forma a perceber e gerar novos pontos de vista.
Diferenciar as competências de pensamento crítico é uma das mais importantes “avenidas” para os professores envolverem e desafiarem os alunos mais brilhantes. O pensamento crítico é uma competência essencial da nossa vida e um elemento chave num curriculum rigoroso, pois este não se centra apenas em factos e tarefas.
Se os ganhos alcançados pelos “maus” alunos forem os únicos indicadores de sucesso, então teremos que enfrentar grandes desafios e preocupações nos próximos anos. Para evitar tamanhas inquietações, os educadores deveriam entender as necessidades dos alunos melhores, mais dotados, evitar a inibição da sua aprendizagem e providenciar um curriculum com a complexidade adequada ao nível das suas competências. A título de exemplo, os manuais adotados deveriam conter, além de um programa mínimo, matérias e actividades facultativas, orientadas para alunos mais dotados. A avaliação seria, para todos, sobre o programa mínimo. Daqui poderia nascer um ambiente propício ao desenvolvimento de alunos dotados de pensamento crítico, argumentativo e profundo.
Diferenciar objetivos para alunos, de acordo com as suas aptidões, produziria, seguramente, resultados positivos nesse grupo. É claro que não é confortável lidar com a ideia de ter de escolher um grupo de alunos e dar-lhe tratamento especial, mas há que assumir e refletir que diferenciar curricula e ver os “bons” alunos com novas lentes pode ser um bom trampolim para uma discriminação positiva!
Maria Elvira Callapez
Dezembro 2011
In: De Rerum Natura
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