quinta-feira, 23 de julho de 2009

Conversar desde o berço


Dos 0 aos 3 meses, os balbúcios de um bebé são já uma forma de este comunicar com a mãe. Ela pode sorrir, fazer caretas e ele responderá. Dos 3 aos 6 meses, brincadeiras como o "cucu!" e conversas entre que se tira e põe a chupeta, vão encorajar o interesse do bebé pelas coisas. Associar gestos às palavras, como acenar com o braço ao dizer adeus, é algo que pode ajudar as crianças dos 6 aos 9 meses a fazerem as primeiras associações.

Estas são algumas das dicas que constam de uma nova campanha que pretende chamar a atenção dos pais para o que podem fazer no que respeita ao estímulo da linguagem em crianças dos 0 aos 5 anos. A ideia partiu de uma pediatra, Fátima Pinto, e da equipa que com ela partilha os primeiros passos do desenvolvimento das crianças que atendem no Centro de Saúde da Carvalhosa do Douro, no Porto. Agora aquela que era uma "estratégia local de saúde" conta com o apoio do Alto Comissariado para a Saúde e do Ministério da Saúde para ganhar contornos nacionais, com distribuição de cartazes e brochuras informativas aos pais.

Crescer com qualidade

"A criança cresce mas isso não chega, não é a quantidade mas a qualidade do crescimento que interessa e o desenvolvimento é fundamental", explica Fátima Pinto ao EDUCARE.PT. Dos 0 aos 5 anos, a criança vai adquirir todas as suas competências que lhe vão permitir realizar as diversas actividades ao longo da sua vida, desde o simples mexer-se ou mover-se, passando pelo andar, até à adopção das regras sociais.

Mas para que ela atinja todos estes aspectos de desenvolvimento é necessária a comunicação, ou seja, a capacidade de a criança comunicar, falando ou usando a linguagem gestual ou mímica. É neste jogo pelo crescimento que as actividades lúdicas que se pretendem divulgar nesta campanha ganham toda a importância. "As competências linguísticas são a grande base para o desenvolvimento global de todas as crianças", diz a pediatra, por isso, "é sempre bom lembrar aos pais que eles têm um papel activo neste sentido".

Ao longo de vinte anos como pediatra, Fátima Pinto tem-se habituado a ouvir dos pais a frase de que ter filhos sai caro. A vontade de proporcionar às crianças as melhores condições materiais, "os melhores carrinhos para o seu transporte, as melhores marcas de roupa, os melhores infantários e escolas", tem levado a que outros aspectos ligados à saúde mental e social da criança sejam descurados.

Pressionados pelas condições de vida, os pais perdem aspectos essenciais do contacto com a criança. Neste sentido, cabe ao pediatra a função de ensinar os pais a aproveitarem o pouco tempo disponível para as crianças da melhor maneira possível. E essa será a missão desta campanha. "Sabemos que os pais têm pouco tempo, é ponto assente e não se pode mudar isso, agora o que pedimos é que os pais aprendam a utilizar o pouco tempo que têm, utilizando-o com qualidade", observa Fátima Pinto.

Estimular o desenvolvimento nas diferentes etapas do crescimento é uma responsabilidade que os pais não podem delegar. Fátima Pinto explica como fazer isto, no dia-a-dia: "É falar de tudo e de nada com as crianças, ao dar o banho é dizer: olha a tua perninha, dá-me a tua mão, olha as bolinhas de sabão; ou mesmo no supermercado, chamar a atenção da criança e dizer: olha as ervilhas, são verdes, vai buscá-las, e mesmo em idades que os pais achem que as crianças não entendem, é preciso lembrar que elas têm capacidade de comunicar desde que nascem!", alerta a pediatra.

Aos 15 dias de vida um bebé interpreta as expressões do rosto da mãe, sabe se ela está zangada ou se está feliz. Dois dias depois de a criança nascer se a mãe começar a deitar a língua para fora, o bebé vai-se esforçar por imitá-la, logo, tem essa capacidade de comunicar. "O que acontece é que essa capacidade não é explorada, está hipotrofiada! Logo, é preciso aproveitar essa capacidade e estimular desde o berço, daí o nome da campanha", conclui Fátima Pinto.

Por isso, a pediatra apela aos pais para que se lembrem que a saúde não se limita ao bem-estar físico, mas também ao mental e social! "E que ao cuidar do bem-estar mental, também estamos a cuidar do social, protegendo a criança na comunidade, mesmo até na sua própria casa promovendo a funcionalidade da família, o afecto e uma vez mais a responsabilização dos pais pela saúde da criança e o seu bem-estar", realça.

"Os pais não devem entregar as crianças ao infantário e esperar que lá seja o local do seu desenvolvimento", critica a pediatra. "Temos pais a dizerem que os filhos não comem em casa, mas que no infantário comem tudo", algo que Fátima Pinto entende ser elucidativo da desresponsabilização paternal verificada em algumas famílias. "Com esta campanha, o que nós queremos é dizer que os pais são o núcleo essencial onde a criança se insere, é com eles que vai interagir e aprender os principais conceitos, então que haja qualidade no tempo que eles passam com ela."

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