Desde que nascem, e numa evolução veloz, as crianças aprendem a andar, falar, correr, fazer desenhos, identificar cores, ler e até amuar ou defender os seus direitos. Tudo isto faz parte do desenvolvimento infantil, mas nem sempre ocorre como esperado e, por vezes, é necessária a intervenção de especialistas para ajudar a criança e os próprios pais.
Foi a pensar nisto, e face a um panorama nacional e internacional onde há falta de respostas eficazes nas situações de risco desenvolvimental e no domínio socioemocional, que um grupo de técnicos a frequentar o Curso de Especialização em Intervenção Precoce, no Instituto Superior de Educação e Ciências (ISEC), decidiu juntar-se e desenvolver um projecto conjunto que permitisse o acompanhamento destes casos desde idades mais precoces. Foi assim que, no final de 2005, nasceu o Gabinete de Apoio ao Desenvolvimento Infantil e à Família (GADIF), criado pela Unidade Educativa do ISEC e sob coordenação e supervisão de Marina Fuertes, doutorada em Psicologia no domínio das relações entre pais e filhos.
O Gabinete tem como objectivo promover condições que estimulem o desenvolvimento da criança e a sua interacção com a família, procurando recorrer a contextos naturais da sua vida para uma intervenção mais eficaz.
Procurados quer por pais quer por educadores, técnicos de saúde e pediatras, no GADIF ouve-se, compreende-se, e ajudam-se as famílias, tentando encontrar soluções, dentro e fora do Gabinete, que permitam dar resposta a cada caso. Para isso contam com uma equipa de técnicos especializados nas áreas da psicologia, terapia da fala e reabilitação psicomotora/psicomotricidade.
O trabalho assenta em quatro pilares fundamentais. O primeiro é a relação com os pais. "São eles quem melhor conhece a criança", sublinham os responsáveis. Por isso, há uma estreita colaboração entre pais e equipa técnica que é fomentada de modo a incentivar a sua participação e, se possível, levá-los a transportar para o seu dia-a-dia as actividades e estratégias implementadas pelos técnicos. Aprendem, reproduzem, ficam mais confiantes e dão, eles próprios, ideias. Uma vez integrados neste modelo, são os próprios pais que defendem as suas vantagens. Uma delas está no facto de as sessões, ora no GADIF ora em casa, serem filmadas e visionadas posteriormente. Aí os pais reconhecem automaticamente as suas falhas. Comportamentos dos quais nem tinham consciência mas que ao vê-los filmados percebem de imediato - sem a intervenção dos técnicos - que estão errados.
O segundo pilar fundamental é o trabalho de equipa. Um trabalho que se reflecte todos os dias entre os técnicos mas, mais ainda, entre pais e técnicos. Juntos formam uma equipa com um objectivo comum e em que as tomadas de decisões são partilhadas por todos. "Tentamos fazer um trabalho técnico de qualidade e rigoroso, baseado em evidências empíricas, mas ao mesmo tempo próximo das famílias", explicam. Por isso mesmo, avós e irmãos também são importantes. Do mesmo modo, aceder às rotinas e aos espaços onde a criança se movimenta, seja em casa ou na escola, é uma excelente ajuda na procura de soluções. E nesta intervenção nos contextos de vida da criança - outro dos pilares - espelha-se quer o trabalho de equipa quer a relação com os pais. Através do acompanhamento dos técnicos em casa das famílias, os pais vão percebendo que a sua presença é tão importante como a dos profissionais, que as suas ideias e estratégias são válidas e que as podem aplicar no dia-a-dia. No caso das creches e jardins-de-infância, os educadores são sempre vistos como elementos fundamentais para o sucesso da intervenção partilhando dificuldades e sugestões.
Em último lugar, O GADIF valoriza as práticas inovadoras e o apoio ao desenvolvimento socioemocional. Para além de traçar o perfil do desenvolvimento da criança, esta equipa dá uma atenção especial às interacções do domínio familiar. Mas não existem modelos perfeitos. Cada família é única e não existem crianças iguais. Por isso, defendem, há que ter em conta o modo como cada criança se adapta às características da família e vice-versa e procurar uma resposta flexível a cada caso.
Numa abordagem multidisciplinar, o GADIF oferece ainda serviços na área da terapia da fala onde se pretende intervir ao nível das perturbações da linguagem, da fala e da motricidade orofacial. Os pré-requisitos da leitura e escrita também não são esquecidos já que podem desde muito cedo ser explorados com a criança, prevenindo eventuais dificuldades de aprendizagem. Outra das áreas de intervenção é a psicomotricidade cujos objectivos se centram no desenvolvimento de factores psicomotores como a tonicidade, o equilíbrio, o esquema corporal e a coordenação.
Para já, quer os responsáveis pelo gabinete quer os próprios pais fazem um balanço positivo do trabalho realizado. Apesar de os pais normalmente só procurarem apoio depois de detectados alguns sinais de alerta, e não por motivos de prevenção ou orientação, os responsáveis pelo Gabinete chamam a atenção para o facto de uma ajuda precoce permitir ganhos muito elevados. "Embora a aprendizagem seja um processo que ocorre durante toda a vida, existem janelas de oportunidade que se abrem nos primeiros anos e que é preciso aproveitar", sublinham.