sexta-feira, 23 de maio de 2025

«Estilos de aprendizagem» são preferências que não influenciam a aprendizagem

Estudos científicos de alta qualidade mostram sistematicamente que adaptar materiais e técnicas de ensino a «estilos de aprendizagem» (i.e., às preferências dos alunos em relação à modalidade de apresentação — visual, auditiva, escrita…) não melhora a aprendizagem. Porém, a ideia de que os alunos têm diferentes estilos de aprendizagem que influenciam o quanto aprendem quando os materiais são apresentados no seu estilo preferido está bastante entranhada na educação, e a maioria dos educadores acredita neste mito.

De acordo com a teoria dos estilos de aprendizagem, alunos «visuais» aprendem melhor com imagens e alunos «auditivos» aprendem melhor ouvindo. Mas pode-se estudar geometria apenas ouvindo sem recurso a desenhos, ou estudar línguas sem ouvir os sons e apenas visualizando gráficos? Será que se deve adaptar o ensino ao estilo de cada aluno ou se deve seguir, em cada caso, o meio mais apropriado?


Um artigo recente, de 2025, analisou como muitos trabalhos sobre estilos de aprendizagem poderão ter contribuído para esta disparidade entre o que a ciência diz e o que os educadores acreditam. Os autores do artigo, publicado na revista científica Educational Psychological Review, John Hattie e Timothy O’Leary, da Universidade de Melbourne (Austrália), examinaram como o conceito de estilos de aprendizagem tem sido estudado e a qualidade dos estudos.

Os investigadores analisaram 17 meta-análises que tinham investigado a relação entre «estilos de aprendizagem» e sucesso académico ou aprendizagem. Estas meta-análises incluíram quase 700 estudos, com mais de 100 000 alunos. Combinando os resultados das meta-análises, Hattie e O’Leary obtiveram um efeito de d = 0.40, ou seja, um efeito médio, que parece indicar que os estilos de aprendizagem importam para o desempenho académico. No entanto, a realidade é mais complexa e não pode ser corretamente representada por este efeito. Os investigadores perceberam que existem dois tipos diferentes de meta-análises sobre estilos de aprendizagem: algumas investigaram o efeito de alinhar os estilos de aprendizagem com as estratégias utilizadas (i.e., alunos com estilos visuais aprendem com estímulos visuais, etc.) e outras investigaram a correlação entre estilos de aprendizagem e desempenho (e.g., será que alunos com estilos visuais aprendem mais do que alunos com estilos auditivos?). Ao separar os estudos nestes dois grupos, os investigadores verificaram que a) os dados não apoiam a ideia de que alinhar estilos de aprendizagem com os materiais e estratégias melhora a aprendizagem, mas b) a aparência de correlação entre estilo de aprendizagem e desempenho académico surge em parte devido a problemas metodológicos com os estudos.

O grande problema com a maior parte dos estudos sobre estilos de aprendizagem é que não são desenhados de modo a testar se o alinhamento das preferências dos alunos com os materiais e estratégias importa para a aprendizagem. Em 2008, Pashler e colegas explicitaram critérios para um bom estudo sobre estilos de aprendizagem: os alunos são divididos num ou mais grupos com base no estilo de aprendizagem que alegadamente preferem; dentro de cada grupo, os alunos selecionam-se os alunos de modo aleatório para aprenderem com diferentes métodos que se alinham ou não com o seu estilo; avaliam-se todos os alunos com o mesmo teste final. Quando este método geral é implementado, os resultados teriam de mostrar que o método que beneficia os alunos com o estilo de aprendizagem que alegadamente preferem é diferente do método que beneficia os alunos com outro estilo de aprendizagem para se poder dizer que alinhar estilos e estratégias de aprendizagem aumenta a aprendizagem. Quando Hattie e O’Leary tiveram em consideração estes critérios, encontraram apenas quatro meta-análises, com 143 estudos, e um efeito de d = 0.04, ou seja, um efeito basicamente inexistente.

Ao analisar os estudos correlacionais, em 13 meta-análises, é importante ter presente que estes não cumprem critérios como os que Pashler e colegas indicaram e, portanto, não permitem responder à questão sobre o alinhamento de estilos de aprendizagem com estratégias. Além disso, Hattie e O’Leary encontraram outros problemas metodológicos nestes estudos e meta-análises, como amostras demasiado pequenas e problemas de análise estatística. Assim, apesar de estes estudos parecerem sugerir que estilos de aprendizagem podem influenciar a qualidade da aprendizagem, eles são inconclusivos.

Hattie e O’Leary concluíram que uma análise cuidada da literatura mostra que:
  1. Existe um número limitado de meta-análises e estudos que de facto estudaram a relação entre os resultados da aprendizagem e o alinhamento entre os alegados estilos de aprendizagem e as estratégias adotadas. Estes estudos indicam claramente que estilos de aprendizagem não influenciam a aprendizagem ou o desempenho académico, independentemente das estratégias de aprendizagem utilizadas.
  2. Os estudos correlacionais são mais abundantes, mas não fornecem informações sobre causalidade ou direção dos efeitos. Parece existir uma relação entre estilos de aprendizagem e aprendizagem, mas a qualidade dos estudos não permite conclusões.
  3. A definição de «estilo de aprendizagem» varia muito de estudo para estudo. Alguns utilizam instrumentos que supostamente medem estilos de aprendizagem (e.g., VARK; Fleming & Mills, 1992; Fallace, 2023). Outros incluem preferências em relação ao ambiente no qual a aprendizagem acontece — por exemplo, presença de som, temperatura, hora do dia; preferências percetivas — por exemplo, visuais, auditivas; ou preferências por diferentes tipos de tarefas, abordagens à aprendizagem, etc.
Em suma:

Parece existir alguma confusão na definição de estilos de aprendizagem e, quando analisados em estudos científicos de alta qualidade, estes não influenciam o desempenho escolar ou a aprendizagem. Na maior parte dos casos, quando falamos de «estilos de aprendizagem», referimo-nos a diferentes preferências e não diferentes aptidões. Um aluno pode preferir escrever sempre com uma caneta verde, mas isso não significa que vai aprender melhor se tirar apontamentos com uma caneta verde do que com uma caneta preta. Como os autores deste novo artigo questionam: «Podemos chamar estilo de aprendizagem ao facto de um aluno gostar de trabalhar em pares, durante a tarde, quando está calor, enquanto lancha?»

Ludmila Nunes

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