Inclusão é um conceito cada vez mais presente no Rock in Rio. Os pormenores que passam despercebidos a alguns festivaleiros, são fundamentais para quem não consegue ver ou ouvir um concerto.
Certo é que, entre o público, ouvem-se com frequência comentários à prestação dos intérpretes de língua gestual portuguesa que aparecem nos ecrãs gigantes, aos olhos de todos, no Parque Tejo. “Olha, olha”, diz um festivaleiro, enquanto aponta para a tela onde dança a intérprete. Apesar de este ser o trabalho mais visível, há também quem esteja numa pequena mesa na bancada das acessibilidades a transmitir via áudio, a quem não consegue ver o espetáculo, os pormenores do que se passa em cima do palco.
“Está linda a lua”, relata Patrícia Saiago, responsável pela acessibilidade e audiodescrição, aos invisuais que se juntam na lateral da bancada.
No sábado, dia 22 de junho, bateu-se um recorde: 12 pessoas invisuais estiveram, em simultâneo, a ouvir a audiodescrição. Por média, nos quatro dias de festival, sete a oito pessoas recorreram ao serviço disponibilizado pelo Rock in Rio.
“Ontem tivemos várias pessoas aqui com deficiência visual e foi lindo ver os casais a dançar, ver as expressões…”, conta à SIC Notícias Patrícia Saiago. “Tudo isso completa a imersão”, acrescenta.
De edição para edição, o Rock in Rio tem apresentado melhorias na acessibilidade ao festival, recorrendo a meios que poucos festivais utilizam. “O Rock in Rio traz uma maior imersão a esse público [pessoas com deficiências] para tentar que eles sintam tudo da forma mais próxima possível”, diz a responsável pela acessibilidade.
O serviço de audiodescrição, utilizado pela primeira vez nesta edição da Cidade do Rock, é exclusivo ao Palco Mundo. Já a tradução dos concertos por intérpretes de língua gestual acontece em dois palcos, de forma diferente: no principal, através dos ecrãs gigantes, e no Palco Galp (o secundário) com a presença do próprio intérprete na frente de palco, em contacto direto com o público.
As palavras e emoções dos artistas nacionais e internacionais que pisam estes dois palcos passam pelas mãos dos sete intérpretes de língua gestual portuguesa que compõem o grupo. É deles o corpo que exalta a alegria ou a tristeza do momento, são deles as ancas que vão marcando o ritmo da canção.
A preparação é meticulosa. Para além do número exigente de concertos, é preciso tempo para ler as letras, ouvir as músicas, antes de o espetáculo arrancar. Nos intervalos, e se houver acesso prévio à setlist dos artistas, é tempo de ensaiar. Por concerto, na pequena sala de onde são lançados para o Palco Mundo estão três intérpretes.
“Nem sempre é fácil. Gostávamos de ter acesso à setlist com um bocadinho mais de antecedência para podermos preparar melhor o nosso trabalho, mas tentamos sempre fazer o melhor”, conta a intérprete Ângela Ricardo.
Na sala, estavam também Ana Rita Amaral e Márcio Antunes. Preparavam-se para o concerto de Ne-Yo, depois do espetáculo da espanhola Aitana.
“Tentamos passar ao máximo o que se está a viver em cima do palco. Quando o cantor é mais emotivo, mais expressivo”, acrescenta a intérprete em entrevista à SIC Notícias.
O trabalho desta equipa de sete intérpretes não tem passado despercebido e o feedback não tem partido apenas de pessoas surdas que têm assistido ao festival.
“Há pessoas que não percebem nada de língua gestual mas que gostavam de ver o nosso entusiasmo a trabalhar”, conta.
O ciclo está-se a quebrar, diz a responsável pela acessibilidade. Há cada vez mais pessoas que participam no Rock in Rio por saberem que, à espera, têm uma experiência inclusiva.
Fonte: SIC Notícias, com vídeo, por indicação de Livresco
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