Há 15 anos, Susana e Joe, mãe e padrasto de Caui, não tinham perspectivas de que a filha, agora com 24 anos, pudesse ser autónoma e independente, mas sempre acreditaram e foram à procura de soluções para a poderem ajudar.
Aos oito anos, esta menina, diagnosticada com autismo, não olhava nos olhos nem conseguia acompanhar o ritmo da escola, mas hoje frequenta a universidade sem qualquer adaptação curricular. Como é que Caui começou a evoluir? Quando os pais se informaram, começaram a compreender o autismo e decidiram dedicar, numa fase inicial, 32 horas semanais de intervenção personalizada.
«O verdadeiro problema do autismo não é o autismo: é a falta de compreensão da sociedade e das pessoas que cuidam de pessoas com autismo. Como ninguém compreende o autismo, ninguém consegue arranjar soluções para este desafio que temos: em casa, nas escolas, empresas ou na sociedade», afirma Joe Santos, co-fundador e CEO da Vencer Autismo, em conversa com o Sul Informação.
Ao ver como a filha conseguiu evoluir, Joe e Susana decidiram que queriam ajudar mais pessoas e fundaram a “Vencer Autismo”.
«Inicialmente, tínhamos o nosso Centro no Porto, onde seguimos 35 miúdos com autismo. Fizemos o mesmo que fizemos com a Caui, a mesma forma de atuar para ver se podíamos ajudar, e tivemos muito sucesso. 33 dos 35 tiveram melhorias incríveis, dois não conseguimos porque era um autismo mais severo e muito complicado, mas claro que não é impossível, exige é muito mais trabalho. Não é com quatro horas por semana que se consegue fazer tudo», explica Joe.
Mas sabendo que em Portugal há 50 mil pessoas com autismo, os fundadores da associação pensaram que tinham de arranjar uma forma de chegar a mais pessoas.
«Assim mudou a estratégia da “Vencer Autismo”, que passou de fazer uma abordagem terapêutica para fazer uma abordagem focada no problema».
Joe e Susana começaram a dar palestras por todo o país – e é precisamente uma dessas palestras que passa por Albufeira esta terça-feira, 4 de Junho, no Auditório Municipal, entre as 18h00 e as 20h00.
«O que nós fazemos nestas duas duas horas é explicar às pessoas, independentemente da viagem em que estejam relacionada com o autismo, como o podem compreender melhor: sejam os pais que recebem agora o diagnóstico, um professor ou alguém que só tenha curiosidade. É uma palestra que está preparada para todos os níveis de compreensão de autismo, com uma linguagem super acessível e em que conseguimos dar mais informação à sociedade para depois ser agente de transformação positiva de pessoas com autismo».
Para que estas sessões sejam gratuitas, a “Vencer Autismo” conta com o apoio da Zurich Portugal.
«Eles queriam fazer algo de bom no seu departamento de responsabilidade social e por isso juntámo-nos para fazer palestras pelo país. Eles colaboram connosco com financiamento, voluntários e tudo, para podermos levar esta ação a diferentes locais», frisa Joe.
«A “Compreender Autismo” vem no enquadramento do pilar estratégico da Zurich que tem uma agenda muito forte virada para a responsabilidade social. A Zurich nos últimos anos tem feito um sólido compromisso com a melhoria do bem-estar e da qualidade de vida das pessoas e nesse sentido a Vencer Autismo vem trazer conhecimento e compreensão no autismo e tentar ajudar na inclusão», afirma Ana Pedro, Gestora de Negócio na Zurich Portugal.
Apesar de considerar que houve, nos últimos anos, avanços, Joe admite que a desinformação em relação ao autismo «ainda é gigante».
«No início, eu e a minha mulher chegámos a dar palestras a três pais, que apareciam de braços cruzados e com um ar muito negativo e agora nós enchemos auditórios de pessoas que querem compreender mais e melhor. Já passaram nas nossas palestras mais de 80 mil pessoas e isso são números muito bons», continua o fundador da associação.
Em relação aos cuidados prestados pelo Serviço Nacional de Saúde, Joe considera que «ainda estamos muito longe do que as pessoas com autismo precisam».
«Existem algumas soluções tipificadas que estão acessíveis a todos, mas são muito insuficientes, por muitos motivos. Primeiro na escola, onde até professores de educação especial não compreendem autismo porque ninguém os ensinou. Além disso, temos um sistema médico deficitário. Quando falamos de uma pessoa com autismo severo essa pessoa precisa, no mínimo, de 5 horas de terapia. Não é de instituição, onde está com mais pessoas, é preciso individualizar para eles poderem melhorar. O que acontece é que o governo ainda não compreender ou não quer compreender. As pessoas com autismo ainda são completamente incompreendidas, podem melhorar, todas, sempre, mas claro que há algumas que precisam de muito mais intervenção especializada para obter resultado», remata.
Fonte: Sul Informação por indicação de Livresco
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