quinta-feira, 10 de junho de 2021

Vai ser mais difícil ter notas muito altas nos exames do secundário deste ano

Vai ser mais difícil repetirem-se as notas “demasiado elevadas” nos exames nacionais de acesso ao ensino superior que se verificaram no ano passado. Ainda que as provas que os alunos vão realizar em Julho mantenham o mesmo modelo, com um grupo de questões opcionais em que só são contabilizadas as melhores respostas, o Instituto de Avaliação Educativa (Iave) aumentou o número de perguntas obrigatórias, tentando impedir os alunos de “fugirem” às matérias que não dominem.

Em algumas disciplinas vai ser necessário responder até três vezes mais questões obrigatórias do que no ano passado, de acordo com as instruções de realização e cotação das provas, que o Iave publicou no final da semana passada. A mudança visa evitar o “excessivo enviesamento” verificado nas notas do ano passado, afirma o presidente do Iave, Luís Pereira dos Santos, em declarações (...).

No entanto, os exames deste ano “não são mais difíceis”, garante o mesmo responsável. O grau de dificuldade das questões “está totalmente dentro dos padrões habituais” dos exames nacionais do ensino secundário nos últimos anos, prossegue.

O problema com os resultados dos exames do ano passado já tinha sido reconhecido pelo mesmo responsável no final do ano passado. Na altura, o Iave antecipava soluções para travar o que reconhecia terem sido notas “demasiado elevadas” em algumas disciplinas. A opção do organismo responsável pela elaboração das provas nacionais passou por aumentar o número de questões de resposta obrigatória. Consequentemente, cresce também o seu peso na nota final.

Por exemplo, a Geografia A, na parte do exame que é obrigatória, as perguntas a que os estudantes não podem fugir passam de cinco para 18, e a Filosofia triplicam (de quatro para 12). Das sete disciplinas com mais alunos inscritos no ano passado, aquela em que se verifica um menor aumento no número de respostas de questões obrigatória é Biologia e Geologia, que têm, ainda assim, mais 80% do que no ano passado — passando de dez para 18 itens.

A Matemática serão 11 as respostas obrigatórias (eram quatro), e a Português dez, o dobro do ano passado. Também aumenta para o dobro as perguntas não opcionais a Física e Química (são agora 16).

Este crescimento do número de questões obrigatórias é acompanhado por um proporcional incremento do seu peso na nota final. Por exemplo, a Geografia as perguntas obrigatórias só valiam, no ano passado, 4,7 valores (em 20). Este ano são 15,2 valores.

As perguntas obrigatórias têm o seu maior peso em Física e Química (16 valores). No ano passado, só na disciplina de Português é que responder correctamente a todas as perguntas obrigatórias era suficiente para ter positiva (9,6 valores). Este ano, todas têm um peso superior a 14,4 valores, como acontece a Matemática e Biologia e Geologia.

Menor número de perguntas opcionais

A contrapartida para um maior número de questões obrigatórias é um menor número de perguntas opcionais, solução que foi introduzida no ano passado para permitir aos alunos escolher não responder às matérias que não tivessem trabalhado em sala de aula por causa da suspensão das aulas entre o final do 2.º período e as primeiras semanas do 3.º período, devido à primeira vaga da pandemia.

No entanto, a percentagem de questões que vão contar para a nota tem poucas mexidas. Por exemplo, no ano passado contavam as oito melhores respostas a 14 questões opcionais a Matemática. Este ano são as quatro melhores de um total de sete – ou seja, os mesmos 57%. Só a Português a mudança é significativa. No ano passado eram contabilizadas 80% das respostas a questões opcionais (oito de dez), este ano 60% (três de cinco).

Estas alterações nos exames nacionais permitem “aumentar a representatividade do currículo”, segundo Luís Pereira dos Santos. No modelo do ano passado, “havia o perigo de os alunos não tocarem em matérias fundamentais”. “O que estamos a fazer é aquilo que tecnicamente se chama controlar o poder de discriminação da prova”, explica o presidente do Iave. Isto é, a capacidade que um exame tem de distinguir entre quem sabe e quem não sabe.

O instituto público reconhece que, no ano passado, as perguntas mais difíceis quase não tiveram impacto nas classificações, ou porque os estudantes simplesmente não responderam ou porque, por terem tido piores resultados, foram excluídas da contabilidade final, devido às regras especiais implementadas.

Outra mudança “fundamental”, aponta o mesmo responsável, é o facto de as avaliações externas terem sido feitas de raiz a pensar neste sistema em que há perguntas de resposta opcional, ao contrário do que aconteceu no ano passado, o que permitiu “um maior equilíbrio” nas questões apresentadas.

Fonte: Público

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