segunda-feira, 21 de junho de 2021

Catarina explica à Teresa porque foi à psicóloga

Explicar o que o psicólogo pode trazer às crianças e jovens é muito importante.

Catarina: Sabes, Teresa, quando eu era pequenina tinha muito medo do escuro e perdi o medo porque os meus pais levaram-me a uma psicóloga que me ajudou muito.

Teresa: O que é uma psicóloga?

Catarina: É alguém que nos ajuda quando temos um problema, que nos ajuda a resolvê-los e nos faz sentir melhor connosco, com a nossa família e com os nossos amigos. Lembras-te quando eu caí da bicicleta e tive de ir ao médico, ele ligou-me o braço e eu fiquei a sentir-me melhor?

Teresa: Sim.

Catarina: Lembras-te quando tu ficaste cheia de febre e os teus pais te levaram ao médico, ele deu-te um remédio e ficaste melhor?

Teresa: Sim, lembro-me. Mas Catarina tu tinhas um problema?! Se tinhas um problema, porque é que não me contaste? Sabes que eu sou muito tua amiga e gosto muito de ti.

Catarina: Não contei a ninguém porque tive medo que gozassem comigo.

Teresa: Não contaste o quê?

Catarina: Sabes, Teresa, à noite eu tinha medo do escuro e os meus pais levaram-me a uma psicóloga, eu contei-lhe e em conjunto encontrámos uma solução para eu deixar de ter medo. Expliquei-lhe que tinha medo de ir sozinha, à noite, à casa de banho.

Depois de pensarmos que medo era esse, percebi que era medo do escuro. Então, ela disse-me a mim e aos meus pais para encontrarmos uma luzinha para ter no quarto e, assim, não ter medo de ir sozinha a casa de banho. Mas eu continuei a ter medo. Então, eu e a psicóloga pensámos noutra solução, que foi pedir aos meus pais para deixar a luz da casa de banho aberta, deixar a minha luzinha da estrela na mesa de cabeceira, pensando que talvez assim fosse mais fácil eu ir à casa de banho, sem medo do escuro. Mas eu continuei a ter medo. Depois de muito pensarmos, falarmos em conjunto, eu, os meus pais e a psicóloga, ela perguntou-me se eu gostaria que ela fosse a minha casa, à hora de dormir, para me poder ajudar melhor. Fiquei muito contente por ela ir a minha casa, ir conhecer o meu quarto, ver a minha luzinha em forma de estrela na minha mesa de cabeceira para à noite o meu quarto não ficar escuro, conhecer o meu irmão, e o meu cãozinho. Quando a psicóloga chegou a minha casa, mostrei-lhe a minha luzinha, mostrei-lhe o meu quarto, mostrei-lhe onde era a casa de banho e qual era a luzinha da casa de banho que os meus pais deixavam aberta à noite. No caminho para a casa de banho, ela disse-me a mim e aos meus pais que nunca lhe tínhamos contado que, do quarto do meu quarto à casa de banho, havia um corredor tão grande e escuro.

Teresa: Agora percebo-te melhor, Catarina, porque mesmo tendo a luzinha da estrela na tua mesa de cabeceira e deixando a luz da casa de banho aberta, tinhas um caminho muito longo e escuro que era muito difícil, porque não vias o caminho, e isso fazia-te sentir medo.

Catarina: Pois foi. Então eu e a psicóloga encontrámos uma solução. Fomos à caixa das coisas de natal e retiráramos as luzinhas que todos os anos pomos na nossa árvore e colocamo-las ao longo de todo o corredor, iluminando o espaço com cores. Depois disso deixei de ter medo, à noite, quando ia à casa de banho, porque já não estava escuro e seguia as luzinhas.

Frequentemente, existe acerca da Psicologia uma ideia que não coincide com a realidade e está cheia de falsos mitos, o que faz com que as pessoas, nomeadamente os pais, tenham medo e vergonha de pedir ajuda aos psicólogos. Quem nunca ouviu dizer que “a Psicologia é para os loucos?”, ou “quem vai ao psicólogo é fraco?”. Essas expressões refletem alguns dos mitos do senso comum que contribuem para uma representação errada da intervenção do psicólogo.

A Psicologia é fundamental para a construção do bem-estar pessoal e social, como promoção da saúde geral de todos. O bem-estar baseado na harmonia entre as diversas emoções, como o medo, o prazer, a dor, a alegria, a tristeza, a raiva… e não na fuga às emoções mais negativas ou dolorosas.

Em Psicologia, a conversa no consultório ou em casa é uma das formas de identificar as necessidades particulares de cada criança ou adolescente, ou de cada família, ou de alguém, pessoa ou instituição, com responsabilidades educativas, que apresenta um problema e pede auxílio. Nessas circunstâncias, a função do psicólogo é observar e analisar os problemas reais a partir dos pedidos de ajuda, porque nem sempre quem o faz, os consegue verbalizar esclarecidamente, para o que é necessário ajudar quem apresenta o pedido a tomar consciência da situação, das suas expectativas e da disponibilidade para resolver os problemas que estão na origem do seu pedido de ajuda.

Muitas vezes, o psicólogo precisa de intervir fora do consultório e ir conhecer os contextos (a casa, a escola) em que esses problemas se manifestam para escolher as melhores as estratégias para os solucionar. Os problemas da educação e desenvolvimento das crianças e jovens resultam das relações entre os indivíduos e o meio físico, social e cultural em que vivem. Os psicólogos devem adaptar a sua atuação a cada caso concreto, elaborando estratégias de avaliação adequadas. Se as sugestões não resultarem na prática, tem que identificar que fatores que dificultaram a sua implementação e definir outras estratégias até se encontrar uma que se ajuste à especificidade da situação. O papel do psicólogo é o de assegurar um contínuo ajustamento de estratégias de resolução dos problemas para alcançar o bem-estar do indivíduo na sua vida quotidiana.

Eva Delgado-Martins

Fonte: Público

Sem comentários: