Aos 87 anos de idade, o professor doutor António Coimbra de Matos é um dos mais, senão o mais reconhecido pedopsiquiatra e psicanalista em Portugal. Uma experiência de décadas deste transmontano, que fez o curso superior no Porto, mas escolheu a “centralista” Lisboa para desenvolver as suas aptidões profissionais. É um homem que ensinou muita gente, que diz aprender mais com quem ensinou, o que aconteceu até há quatro anos, e de quem cuida do que realmente com outras pessoas.
Uma curta entrevista dada (...) na sequência da participação numa conferência sobre as pessoas com necessidades especiais, onde foi a ‘estrela’ entre os vários intervenientes e onde aproveitou para dar a conhecer a sua mais recente publicação, o livro “Nova Relação”.
Esteve nesta conferência a falar do “direito à identidade própria e ao relacionamento igualitário: ser único e reconhecido”. O que isso significa?
Abordei, fundamentalmente, a necessidade de se permitir o desenvolvimento da identidade própria do sujeito, a identidade que é mais genuína, mais autêntica. Bem como a necessidade de se reconhecer bem todas as pessoas, designadamente aquelas que têm dificuldades, que às vezes, muitas vezes, não são bem reconhecidos os seus talentos, que não visíveis e que é preciso uma luta para os ver. Compete ao professor, ao médico, ao assistente social, etc., ser capaz de descobrir esses talentos. Muitas vezes estas pessoas parecem muito aselhas em várias actividades, mas são excelentes na música, na motricidade fina, nos afectos...
Dada a sua experiência de décadas, como analisa a evolução da sociedade em relação à forma como são encaradas estas pessoas?
Noto alguma evolução positiva. Mas, talvez, a dificuldade seja esta: fala-se muito em inclusão, mas a inclusão não chega. Não chega incluir na sociedade as pessoas com necessidades especiais. É preciso que nós, que não temos essas dificuldades, nos empenhemos, nos apliquemos. Não chega gostar do deficiente, é preciso apostar, implicar-se para que esse deficiente possa chegar a níveis de desenvolvimento maiores do que, à primeira vista, parece que chegará.
Para isso, naturalmente, é preciso amor, mesmo que não seja a de um familiar...
É preciso amor, mas acima de tudo é preciso acreditar que é possível. Por isso é que digo que é preciso apostar. Porque se o técnico não acredita que um determinado deficiente que é, por exemplo, gago, cego, surdo, etc. vai aprender a tocar acordeão, não irá fazer o esforço suficiente para lhe ensinar essa arte. Ele tem de acreditar que é possível, e para isso tem de apostar nesse resultado. Há dias acabei uma conferência num congresso internacional, em que me perguntaram se eu gostava assim tanto dos meus pacientes? Respondi que não só gosto como aposto. Porque é preciso gostar, mas apostar em como sou capaz de fazer alguma coisa com este paciente. Porque, na verdade, quem corre por gosto não se cansa. É como um cirurgião que vai fazer uma operação, se não está convencido que vai salvar o doente, não se pode empenhar totalmente. Se estiver convencido que irá ter esse papel, fá-lo com mais empenho.
Em que nível está Portugal nesta matéria?
Em termos globais não estamos mal, pois temos um dos melhores serviços europeus de Saúde, mas também de Educação (especial) não estamos mal. O problema é as coisas estarem centralizadas demais, ainda, em Lisboa. No último Governo muita coisa foi deitada abaixo, corremos o risco de perder essa qualidade. Agora estamos a procurar levantar, mas há dificuldades a vários níveis, como escolas fechadas, turmas com muitos alunos, hospitais sem condições para este serviço.
E na Madeira, qual o conhecimento que tem do trabalho feito?
Suponho que a Madeira está melhor do que o Continente, uma vez que tendo um governo autónomo, tem uma certa independência, tem mais conhecimento do seu território, das suas dificuldades. No continente continuamos muito centralizados em Lisboa, nomeadamente no que toca à tomada de decisão.
Fonte: DNotícias por indicação de Livresco
Nota: Sublinhado no texto da autoria do editor do blog.
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