Não há nenhum outro país onde os professores tenham mais flexibilidade para adaptar os conteúdos das aulas de Ciências às necessidades dos seus alunos como em Portugal. É o que resulta das respostas dadas pelos estudantes aos questionários que acompanham os testes do PISA (Programme for International Student Assessment), o grande estudo internacional da OCDE que visa avaliar a literacia em Ciências, Leitura e Matemática dos jovens de 15 anos.
O relatório que acompanha o PISA, que é apresentado nesta terça-feira, sublinha esta abertura dos docentes e também o apoio que são capazes de dar aos estudantes com maiores dificuldades. Estas práticas são mais frequentes nas escolas privadas. Nas públicas, a falta de autonomia é apontada como um entrave.
O documento da OCDE apresenta Portugal como um país “que se destaca” e onde “os professores são mais propensos a adaptar o conteúdo e a estrutura da aula em função das necessidades, conhecimentos e capacidades de seus alunos”. A capacidade de adaptação dos docentes é aferida através de um conjunto de questões colocadas aos jovens que fizeram os testes estandardizados. Nos países avaliados, 15,8% declaram que os seus professores se prestam a moldar as aulas. Em Portugal esse número quase duplica: 28,6%.
Lidar com dificuldades
Os docentes nacionais também têm mais apetência para mudar a estrutura das lições quando a maioria dos estudantes tem dificuldades de entender a matéria (fazem-no em 27,2% dos casos, quando a média internacional é de 13,2%).
Os portugueses são igualmente os que mais ajuda garantem aos alunos com dificuldades de compreensão de uma matéria ou tarefa (34,6%). Portugal é também o quarto país com o mais alto índice de apoio dos professores nas aulas de Ciências (rácio positivo de 0,46 pontos), numa lista em que a média dos países da OCDE é negativa (-0,01).
Estes indicadores ajudam a perceber o resultado nacional na avaliação feita aos alunos no domínio das Ciências. O relatório sublinha uma correlação positiva entre a capacidade de adaptação do ensino por parte dos professores e o resultado conseguido pelos estudantes no teste internacional. Com 501 pontos, Portugal ficou acima da medida da OCDE. O que acontece pela primeira vez.
A flexibilidade dos docentes portugueses para adaptarem as aulas aos seus alunos garante mais oito pontos no resultado nacional, avaliam os especialistas da OCDE.
Apesar disso, o ensino nacional continua a ser marcadamente teórico. Só 8,9% dos alunos têm a possibilidade de passar tempo no laboratório ou a fazer trabalho prático em todas as aulas de Ciências, revela o mesmo estudo. A maioria (56,7%) fá-lo de forma esporádica.
Professores estão a faltar mais
Segundo o PISA a adaptação de conteúdos é mais frequente nas escolas privadas nacionais. Segundo os especialistas, isso pode estar relacionado com o facto de os professores das escolas públicas estarem mais limitados pelo “tamanho das turmas e o currículo oficial” do que os colegas que dão aulas nos colégios.
Os professores das escolas públicas também estão limitados pela falta de autonomia destes estabelecimentos de ensino. O relatório traça uma relação positiva entre a autonomia e a adaptação do conteúdo das aulas em termos internacionais. Em Portugal, esse indicador é marginalmente positivo (+0.001 pontos). Além disso, as escolas nacionais estão em 48.º lugar entre 69 sistemas de educação no índice de autonomia, alcançando 61,5 pontos (a média é de 71,3).
O relatório revela ainda um aumento do absentismo entre os professores em Portugal entre 2012, data do anterior PISA, e 2015. Os números baseiam-se em informações prestadas pelos diretores das escolas, segundo os quais o número de docentes que nunca falta às aulas diminuiu 24,9% em três anos, tendo aumentado 8,3% o número daqueles que faltam algumas vezes. Portugal é mesmo um dos países da OCDE onde este número mais aumentou, juntamente com Irlanda, Israel, Suíça e Turquia.
Fonte: Público
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