quinta-feira, 11 de junho de 2015

Sexualidade e deficiência: o direito ao sexo

A longa série de doenças que afectou Nicola desde a infância foi um entrave ao seu normal relacionamento afetivo e sexual. Aos cinco anos, foi-lhe diagnosticada leucemia linfóide aguda. Os passeios de bicicleta e a bola foram então substituidos por sessões de quimioterapia, punções lombares e transplantes de medula óssea. 
Aos sete, a doença foi dada como extinta. Mas, logo de seguida, desenvolveu cancro testicular, levando-o a novas rondas de rádio e quimioterapia que o deixaram praticamente irreconhecível. Sobreviveu. Aos 11 anos desenvolveu uma nova doença: esclerodérmia. Os sintomas desta doença crónica incluem rigidez da pele, perda de cabelo, rigidez dos dedos, mãos ou antebraço, feridas nas pontas dos dedos das mãos e dos pés. 
Nicola, atualmente com 25 anos, face a tudo isto não cruzou os braços. No dia em que se formou pela Academia de Belas Artes de Brescia, Itália, ofereceu a si próprio um presente: comprou uma sessão com Carmen. Esta assistente sexual tem uma ligação informal a uma organização não governamental chamada "LoveGiver", e presta serviço de cariz sexual a pessoas com deficiência de forma não-oficial, devido ao não reconhecimento deste tipo de profissão pelo Governo. 
O italiano Alex Liverani acompanhou Nicola e Carmen durante dois meses e criou o projeto "Homemade". Em entrevista (...), Alex Liverani, um dos vencedores do "Leica Talent Italia" de 2014, contou ter conhecido os dois através do Facebook: "Tinha visto o filme 'The Session' e fiquei muito interessado na história. Eles mostraram-se bastante recetivos. Só tive dois meses para completar o projeto, mesmo a tempo da final do concurso da Leica." Na descrição de "Homemade", Alex observa que "outra pessoa talvez escolhesse outro local, um quarto de hotel suburbano, anónimo e estéril, mas, para Nicola, não seria a mesma coisa." "Quatro paredes que nada sabem sobre ele não lhe podiam oferecer a sensação de segurança de que necessitava", acrescenta o fotógrafo. "Esta nova experiência, que o levou ao conhecimento do prazer sexual e do corpo feminino, deveria ser inesquecível. Foi por isso que decidiu viver a experiência dentro de sua casa, em Brescia, onde passa a maior parte do tempo na companhia dos seus pais, onde estuda, pinta, toca guitarra". De algum modo, "Homemade" retrata esse espaço, "ali, onde sempre se sentiu protegido." 

Ana Maia

Fonte: Público

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