segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Linha de brinquedos portugueses para crianças invisuais


Peças foram testadas por crianças do distrito de Aveiro.

São brinquedos coloridos, com texturas e materiais diferentes, que foram concebidos “expressamente a pensar em crianças com dificuldades visuais”, explica Leonor Pereira, mestre em Engenharia Têxtil pela Universidade do Minho (UMinho), que desenvolveu a dissertação «Design Inclusivo: Tocar para Ver – Brinquedos para Crianças Cegas e de Baixa Visão».

Esta linha de divertimentos infantis visa ajudar as crianças a interagir de forma saudável com os restantes colegas. “É incluí-las a todos os níveis, proporcionar-lhes maneiras de brincar, conviver e interagir entre as duas realidades”, explica. Não basta criar peças de ‘design’ por si só, esclarece Leonor Pereira, que é professora do ensino básico há vários anos. O objetivo principal é conceber produtos com qualidade estética e tátil, que visa proporcionar uma maior integração das crianças com problemas visuais no meio envolvente.
O desenvolvimento da motricidade fina e da perceção de texturas por parte das crianças envolvidas é notório: “São brinquedos que elas podem explorar com as mãos, descobrindo as diferentes texturas, reconhecendo as formas, os pormenores, as semelhanças e as diferenças, bem como estimular a coordenação e a integração dos sentidos”.

Estas peças foram testadas por crianças de um jardim de infância do distrito de Aveiro, com idades compreendidas entre os três e seis anos. O feedback foi “muito positivo” e os resultados decorrentes desta nova forma de inclusão social foram vantajosos: “A interação entre as crianças foi extremamente engraçada e enriquecedor verificar que elas perceberam o sentido da brincadeira e partilharam a mesma experiência que as restantes”, certifica a professora.
As peças foram construídas com base nas texturas, relevos e cores recorrendo, por isso, a diferentes malhas e bordados, percetíveis através do tato. Leonor Pereira aproveita para referir a escassez de brinquedos adaptados, obrigando os educadores a construir do zero objetos didáticos, sem terem muitas vezes formação para tal. A comercialização é uma possibilidade: “Ficamos com uma forte vontade de concretizar este projeto e torná-lo mais real, à disposição de todos”, assinalou ainda.

A pouca formação dos professores relativamente à educação especial é uma das críticas apontadas pela antiga aluna da UMinho. “É muito difícil conseguirmos perceber as necessidades das crianças cegas, autistas ou surdas. Temos sempre o apoio dos professores do ensino especial, que trabalham especificamente com eles, mas nem sempre é suficiente”, explica.

A formação inicial, a aposta em equipamentos e a adaptação dos espaços nas escolas são algumas das sugestões. Esta não é, segundo Leonor Pereira, uma sociedade completamente inclusiva, porque ainda há muitas barreiras: “As crianças com deficiências não usufruem das mesmas oportunidades do que as restantes”, conclui.

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