sábado, 2 de junho de 2018

Técnicos especializados das escolas exigem integração após décadas de trabalho

Cátia Ramos trabalha há 14 anos na Escola Secundária Alexandre Herculano, no Porto, onde é intérprete de língua gestual e garante que os alunos surdos possam comunicar com os seus colegas e professores. 

“Todos os anos concorro, todos os anos faço entrevistas e todos os anos fico na mesma escola”, contou à Lusa a técnica de 34 anos, que hoje participou na manifestação convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS) com o objetivo de exigir o fim do trabalho precário de cerca de dois mil trabalhadores que, nas escolas, dão apoio a alunos com diferentes necessidades. 

Cátia Ramos participou na manifestação com a colega Joana Moreira, também ela intérprete de língua gestual no mesmo estabelecimento de ensino, que é uma das escolas de referência para alunos surdos.

Joana Moreira, 35, também está há 14 anos a trabalhar de forma precária naquela escola: “A surdez não se cura de um dia para o outro. Não vamos deixar de ser uma necessidade permanente”, sublinhou.

As intérpretes de língua gestual não são as únicas técnicas em situação precária nas escolas. Há também terapeutas da fala, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, psicólogos, técnicos de serviço social, educadores sociais e animadores socioeducativos.

Segundo o sindicalista Artur Sequeira, da FNSTFPS, serão cerca de duas mil pessoas em situação precária que concorreram ao programa de regularização dos precários (PREVPAV) mas continuam sem resposta. 

“As pessoas que são precárias no emprego são precárias na sua própria vida”, gritou Artur Sequeira para os cerca de cinquenta manifestantes que hoje à tarde se concentraram em frente a um dos edifícios do Ministério da Educação, em Lisboa.

“Continuamos sem saber se vamos passar a integrar os quadros do Ministério da Educação ou se vamos continuar em situação precária”, desabafou Conceição Sims em declarações à Lusa.

Conceição Sims está há 24 anos na mesma escola, no Agrupamento de Escolas Terras de Larus, no Seixal, onde é terapeuta da fala. “Todos os anos, no dia 31 de agosto o meu contrato acaba e em setembro ou outubro, na melhor das hipóteses, faço um novo contrato”, contou a técnica de 57 anos, que tem um ordenado exatamente igual ao de uma colega que este ano comece a trabalhar numa escola nas mesmas funções.

António Fachada é animador socioeducativo há 11 anos na Escola Básica 2.3 de Perafita, em Matosinhos, onde trabalha diariamente com “crianças desfavorecidas, sem rumo, com problemáticas sociais”.

Aquela é uma escola TEIP - Território Educativo de Intervenção Prioritária com um “número elevado de casos de indisciplina, abandono e absentismo escolar”, com quem António Fachada lida diariamente e muitas vezes tem de fazer “o trabalho de mediador de conflitos”. 

Também presente na manifestação, Marta Ribeiro é o rosto das psicólogas. Exerce há 17 anos em estabelecimento de ensino público e continua sem qualquer vínculo efetivo. “Temos projetos continuados anos após ano e o trabalho com crianças não pode ser interrompido e retomado em setembro, na melhor das hipóteses”, criticou.

Fonte: Educare por indicação de Livresco

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