O BE avançou com um projeto de lei com o objetivo de criminalizar a prática de “esterilização forçada de pessoas com deficiência”, tendo em conta que configura “uma decisão absolutamente irreversível para o resto da vida”, que incide principalmente sobre menores do sexo feminino, explicou ao DN o deputado bloquista José Soeiro.
A ideia do partido é, “seguindo práticas de vários países europeus, como França, Itália, Alemanha ou Espanha”, impedir “a esterilização forçada de pessoas com deficiência, sem garantir que existe uma forma de aferir a sua vontade”. O que, de acordo com José Soeiro, passa por garantir que há “um processo clínico acompanhado por uma equipa multidisciplinar que é capaz de assegurar o envolvimento da pessoa maior na tomada da decisão”.
Questionado sobre se há registo desta prática em Portugal, o deputado remete para os dados contidos na carta aberta da associação Voz do Autista, subscrita por 20 entidades, como o movimento SOS Racismo, a ILGA Portugal ou o Núcleo Feminista da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que, por sua vez, remete para o relatório do Fórum Europeu da Deficiência sobre este tema.
Também o projeto de lei do BE refere o relatório europeu, como argumento para esta alteração legislativa.
De acordo com o documento da Voz do Autista, “os dados relativos à esterilização forçada são inexistentes, desatualizados ou não estão desagregados”, pelo que é necessário haver “investigação para avaliar o número de pessoas que foram submetidas a esterilização forçada em Portugal, e o contexto onde esta prática acontece”.
Por este motivo, a associação apela “à execução do estudo nacional sobre violência contra raparigas e mulheres com deficiência, que inclui o estudo sobre as práticas de esterilização forçada, aprovado no Orçamento de Estado para 2023”.
“Nós queremos proibir completamente a esterilização irreversível em pessoas menores”, continua o deputado, vincado que Portugal é um dos três Estado-membros da União Europeia (UE), onde a prática é permitida, ressalvando, porém, que esta vontade do partido não inclui “situações em que esteja em causa risco de vida”.
No que diz respeito a esterilização voluntária, o BE entende “que se deve garantir que há equipas multidisciplinares que acompanham as pessoas com deficiência na tomada de uma decisão que seja pessoal, que seja livre e que seja informada e que, sempre que isso for impossível, não se devem utilizar métodos de esterilização irreversíveis, deve-se utilizar outro tipo de método terapêutico”, acrescenta.
José Soeiro assume que, com esta proposta de alteração à lei, a bancada bloquista pretende que Portugal acompanhe a “evolução ao nível da Europa e das recomendações da convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência”, para valorizar a “autonomia das pessoas com deficiência, na sua igualdade perante a lei, no respeito pelos seus direitos sexuais e reprodutivos”, excluindo, porém, “situações de risco de vida, nomeadamente dos menores, e no caso em que haja situações em que não é possível apurar a vontade da pessoa”, recorrendo sempre a outros métodos.
O parlamentar explicou ainda ao DN que “este problema, de uma forma muito diferente, colocou-se também a nível internacional e a nível português na questão das pessoas intersexo, que foi evoluindo no sentido de considerar até uma mutilação”.
Sobre esta variação do tema, o deputado explicou que, nestes casos em concreto, que não se referem a pessoas com deficiência, “os médicos nas crianças intersexo, logo em bebés, tomavam decisões”.
“Como a criança nascia com uma suposta ambiguidade do ponto de vista genital, tomavam decisões e depois, mais tarde, as pessoas ficavam sem capacidade de escolha”, conclui.
A discussão em torno deste projeto de lei será ainda agendada e concretizada.
Fonte: DN