Nos últimos anos temos assistido a um aumento de casos de autismo nas escolas da cidade e, apesar do esforço, o número de professores de educação especial continua a ser insuficiente. Há atualmente 50 alunos a frequentar os três agrupamentos.
Uma em cada 100 crianças em idade escolar tem autismo. Há quem afirme que a pandemia terá contribuído para o aumento do número de crianças com atrasos globais no desenvolvimento. Em maio deste ano, em Portugal, estavam contabilizados 8.300 professores de educação especial, um valor considerado insuficiente e, embora o reforço nas escolas, o número de professores de educação especial é insuficiente.
Segundo os especialistas, são crianças com um atraso na linguagem, dificilmente procuram interagir com colegas, professores e auxiliares de ação educativa, e com áreas muito específicas de interesse. Estes são alguns dos primeiros sinais de alerta a que os encarregados de educação e professores devem estar atentos.
De acordo com o pediatra Miguel Costa, o “diagnóstico precoce é determinante” para que, desde cedo, “a dificuldade da criança possa começar a ser trabalhada”. Para este profissional de Saúde, do serviço de pediatria do Hospital São Sebastião de Santa Maria da Feira, as crianças com Perturbações do Espectro do Autismo (PEA) têm necessidades diferentes, uma vez que “os graus de autismo podem ir de leve a grave, necessitando de diferentes tipos de intervenção”. Explica ainda que a PEA é uma doença do neurodesenvolvimento, cuja incidência é estimada em torno de 1% da população e que, na sua origem, encontra-se uma multiplicidade de fatores, sendo a genética um dos mais relevantes. “Pertence a um grupo de disfunções que se manifestam nos primeiros anos de vida, embora a apresentação clínica possa sofrer modificações com a idade da criança, o contexto sociocultural e as intervenções de que foi alvo ao longo do tempo”, refere o pediatra.
De acordo com Virgínia Monteiro, responsável pelo Serviço de Pediatria/Neonatologia da Unidade Local de Saúde de Entre Douro e Vouga (ULSEDV), o diagnóstico precoce “constitui uma importante janela de oportunidade biológica e educativa para iniciar a intervenção e obter os melhores resultados”. Uma das preocupações que mais frequentemente motivam o encaminhamento para consulta médica “é o atraso na fala e as alterações na comunicação. No entanto, o diagnóstico baseia-se na presença de caraterísticas comportamentais específicas que envolvem não só os compromissos na comunicação, mas também a presença de interesses restritos e dificuldades na integração social”, enfatiza.
Virgínia Monteiro acrescenta que o impacto em contexto escolar “pode ser significativo”, nomeadamente na interação com colegas e professores “e na presença de um perfil comportamental mais rígido, com falta de motivação para as áreas pelas quais não têm interesse”.
Para estes dois profissionais de Saúde do Serviço de Pediatria/Neonatologia da ULSEDV, as crianças com PEA “têm necessidades diferentes”, uma vez que os graus de autismo “variam de acordo com o seu nível de funcionalidade e dependência, necessitando de diferentes tipos de intervenção e por período de tempo prolongado”.
Na abordagem e acompanhamento da PEA “é necessária uma equipa multidisciplinar e o seu diagnóstico e intervenção precoces estão associados a um melhor prognóstico”, assegura a pediatra.