domingo, 4 de setembro de 2022

Paola Antonini: “Se queria a minha perna de volta? De maneira alguma”

A modelo e influencer brasileira viu a sua perna esquerda amputada quando tinha apenas 20 anos. Oito anos depois, conta que foi o melhor que lhe podia ter acontecido: “Hoje, acho que sou bem mais interessante do que era antes de perder uma perna.”

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Trabalhou em moda, como modelo. É imperativo levar a inclusão às passerelles e às campanhas?
Além de ser amputada, também sou baixinha. E participei em desfiles, fiz campanhas. Essa representatividade é extremamente importante: ver corpos diferentes, pessoas diferentes, cabelos diferentes. Ver desfiles de moda com pessoas diferentes faz as crianças e jovens saberem que podem chegar lá também.

A educação para a inclusão tem de começar nas crianças?
Falo muito sobre a importância da escola inclusiva. Temos de saber que existem pessoas diferentes, pessoas com deficiências. Há alguns dias, estava a apanhar sol na piscina do meu prédio, sem prótese. E um menino chegou ao pé de mim e disse-me “que coisa horrível”. Mas contei-lhe tudo o que tinha acontecido comigo e ele disse: “Afinal é bonito, não é horrível”. Isso mostrou-me a importância da informação. Falar de inclusão muda tudo.

Quando estou no aeroporto, várias crianças apontam e perguntam o que é aquilo. Já vi crianças que não são amputadas a dizer aos pais, “quero uma igual”. Digo para virem ver, mostro como funciona a prótese. Ao fazermos isso, estamos a criar uma sociedade mais inclusiva, mais diversa. E isso é melhor não só para quem tem deficiência, mas todos ficamos mais felizes numa sociedade diversa.

No Instituto Paola Antonini trabalha com crianças amputadas. É importante mostrar-lhes que é possível ter uma vida 100% normal?
O cantor Roberto Carlos é amputado e muita gente não sabe. Teve um acidente de comboio, quando era criança. E é um dos maiores cantores brasileiros. Quero mostrar às crianças que podem ser modelos, podem trabalhar com a internet, podem fazer o que quiserem. Por isso, é tão importante a representatividade. Estarmos em todas as áreas para as crianças verem que não há limites. Podem ser o que quiserem. Acho que por mais que ainda falte um longo caminho, já há muita gente desperta para a importância da inclusão. E isso é bom. Estamos a avançar.

Mas as próteses não são acessíveis a toda a gente. É por isso que criou o instituto?
No Brasil, a minha prótese custa mais de 100 mil reais (perto de 20 mil euros). E dura cinco anos. A minha, por exemplo, é electrónica. É como se fosse um telemóvel; vai parando de funcionar. Quando tive essa consciência, percebi que no Brasil pouca gente pode comprar uma boa prótese. As próteses que o Estado dá são muito inferiores, então muita gente escolhe nem usar. Porque magoa, não dá qualidade de vida. Decidi fazer alguma coisa. Trabalho com o que sonho, viajo pelo mundo, mas não valeria de nada se não pudesse usar a minha voz para ajudar quem não pode ter essa qualidade de vida. No final de Dezembro de 2020, depois de um ano de pandemia, lancei o meu instituto. Apoiamos crianças e jovens até aos 21 anos. Doamos próteses, fazemos a reabilitação com fisioterapia, psicólogos. É muito gratificante.

Qual é o primeiro conselho que dá a alguém que acabou de perder uma perna?
Ter paciência. Mas vai ser difícil, sim. Ao perder a perna, são as dores, é a dificuldade de voltar a andar. Com o tempo, isso passa. E vai descobrir uma vida linda. A vida nunca será igual, mas vai ser ainda mais especial. O mais importante é ter calma e respeitar o seu tempo, não se comparar. (...)

Extrato da entrevista que pode ser consultada na íntegra em Público.

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