domingo, 7 de julho de 2019

Doenças mentais são mesmo doenças

O cérebro é um órgão como qualquer outro do corpo humano, e as doenças que o afectam são tão verdadeiras como as que afectam outros órgãos. Os transtornos mentais são doenças reais, mas não se conseguiu ainda largar o julgamento a eles associado.

Já se provou que a dor emocional pode ser igual ou superior à dor física, então porque é que se continua a levar este tópico com tanta leviandade? A conotação negativa que se dá às doenças mentais em conversas e comentários é uma coisa muito feia. Criar o “awareness” de que elas existem já é um passo, mas há muitos mais passos a dar.

Julgar uma pessoa por uma doença que ela não controla é horrível. “Ai ela está sempre deprimida” ,”Não o convides, ele é muito depressivo” ou “Ansiedade toda a gente tem”, “Os ataques de pânico são um exagero, as pessoas que se controlem”. São frases que quando ouço me fazem perceber que as pessoas não conseguiram ainda perceber a realidade das doenças do foro psicológico. Não ouço ninguém falar com malícia ou julgamento do cancro, de deficiências ou de escleroses. E se algum de vocês ouvisse, com certeza se levantaria da mesa e mandava a pessoa que está a falar à merda.

Então porque é que ainda se fala assim da depressão, da ansiedade ou dos distúrbios alimentares? Se calhar acham que é uma brincadeira.

Acham que uma pessoa deprimida gosta de estar deprimida? Acham que uma pessoa com anorexia gosta de se sentir assim? Se realmente queremos chegar a um ponto de mudança deste estigma é preciso que as pessoas compreendam. Não que compreendam o que o outro sente, porque é normal que quem nunca tenha passado pelo mesmo não perceba como é sentir-se assim. Mas que compreendam que as pessoas sofrem muito com depressões e com ansiedades e, mesmo medicadas, muitas vezes não aguentam a dor e cometem suicídio.

Que também é outro assunto muito falado em conversas de café. Sabem lá vocês o que é que levou a pessoa a fazer aquilo, o tamanho da dor que tinha dentro de si, ou se estava consciente do que estava a fazer ou não. Acham que queria? Acham que se quer ter depressões? Acham que alguém gosta de se sentir assim? A resposta é não.

Por isso cada vez que derem por vocês a comentar assuntos que fogem à vossa compreensão, sejam eles as doenças mentais ou qualquer outra, tenham um bocadinho de juízo e calem-se. Porque nenhum de nós sabe o que se passa na cabeça do outro. Podemos achar que conhecemos a sua dor, mas garanto-vos que só conseguimos ver uma ínfima parte de tudo o que ele sente.

E mais uma coisa. Se alguma vez se sentirem assim, ou achem que alguém próximo de vocês se sente assim, peçam ajuda. Não tenham vergonha de uma doença que não foram vocês que pediram nem se culpem por não a controlar.

Acreditem, do outro lado da cortina, está toda a ajuda e compreensão que nunca tiveram. Estão pessoas que vos percebem e que vos podem ajudar. Estão amigos que já passaram pelo mesmo e que compreendem o vosso sufoco.

Felizmente já se vai falando cada vez mais desde tópico, mas é preciso falar-se ainda mais, para que se entranhe nas cabeças de quem não o percebe. Vamos parar de sussurrar opiniões estúpidas ou comentários desnecessários sobre os outros.

Se se sentem bem, deem graças por esse privilégio, preocupem-se com serem melhores pessoas e ajudem quem não se sente assim, não piorem a sua dor.

Madalena Seabra

Fonte: Observador

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