quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Paralisia cerebral em crianças tem vindo a diminuir

A incidência da paralisia cerebral aos cinco anos de idade tem vindo a diminuir desde 2001, situando-se em 1,05 casos por mil nados vivos em Portugal em 2010. Em 2001, a taxa era de 2,01 por mil bebés.

Em 10 anos, somam-se 1657 casos. 33% destes revelam problemas complexos e 10% reportam a incidentes e acidentes ocorridos sobretudo até aos três anos de idade, explica Daniel Virella, coordenador do estudo sobre o retrato evolutivo da paralisia cerebral em Portugal de 2001 a 2010.

Nos 10 anos estudados, a média de incidência da paralisia cerebral é de 1,55 casos por mil nados vivos em Portugal, segundo o relatório "Paralisia Cerebral em Portugal no Século XXI". Considerando não só os nados vivos em Portugal, mas as crianças residentes, ou seja, que nasceram no estrangeiro, o valor sobe para 1,65 casos por mil habitantes.

Na síntese de Daniel Virella, "33% dirão respeito a problemas complexos e graves e 40% a casos leves, cujos danos podem ser perturbações motoras, dificuldade de visão, que, podem não interferir na autonomia". O estudo também contempla os casos provocados por doença posterior ao nascimento e acidentes, uma vez que avaliação é realizada aos cinco anos. Este conjunto de situações corresponde a cerca de 10%.

A declínio da incidência da paralisia cerebral (PC) aos cinco anos deve-se fundamentalmente à redução de risco de PC nos prematuros, explica Daniel Virella e Teresa Folha, outra das responsáveis pelo relatório. E porque é que isto está a acontecer? "A sociedade e a saúde da mulher hoje também é melhor, as condições pré-gravidez são melhores, os cuidados durante a gravidez melhoraram; no parto e pós parto, os cuidados neonatais também mudaram". De qualquer modo, ressalva o especialista, "ainda não tínhamos nesta altura passado pela crise económica de 2008. Vai ser interessante perceber o que se terá passado nos anos seguintes".

O estudo permite ainda perceber que o fator risco para PC é maior para filhos de mães mais velhas, que muitas vezes recorrem a procriação medicamente assistida, de que resulta também muitas vezes conceção de gémeos. "A causa é multifatorial. Mas uma gravidez tardia tem maior probabilidade de se associar à prematuridade, à gravidez de gémeos, e aos nascimentos de baixo peso", afirma Daniel Virella.

"Um bebé prematuro tem 7 vezes mais possibilidade de ter PC e uma criança gémea 3 ou 4 vezes mais probabilidade de risco exponencial", explica o especialista. Daniel Virrela alerta ainda para uma possível subnotificação dos casos, o que acontece sobretudo para os considerados leves.

Teresa Folha aproveita para esclarecer que estamos a falar de lesões cerebrais que provocam danos motores, nem sempre implicando défices cognitivos."Cerca de metade têm um nível cognitivo normal", diz. "Podem ter um problema de motricidade numa perna, numa mão".

Por regiões, as áreas metropolitanas do Porto e Lisboa registaram 277 e 681 casos (respetivamente) e 130 crianças nasceram noutros países. Num análise mais fina consegue perceber-se que, no Norte, há uma maior proporção de crianças com PC nascidas após técnicas de apoio à procriação.

"É muito importante perceber onde estão os casos para podermos planear o apoio e atuar da melhor forma", afirma Teresa Folha.

Fonte: JN

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