segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Os verdadeiros pobres…

Diz o adágio popular que os verdadeiros pobres são os que não sabem pedir. Claro que este ditado não se pode tomar à letra… os verdadeiros pobres – infelizmente tão numerosos em Portugal – não o são por não saberem pedir mas sim por um conjunto de circunstância que é complexo e deslocado estar aqui a discutir. Mas, como quase todos os adágios este tem algo de verdade. Talvez queira dizer que a situação de carência leva muitas vezes os carenciados a perder o horizonte do que seria necessário, do que seria essencial para poderem sair da situação dramática em que se encontram. 

Evoco este provérbio pensando nos alunos com dificuldades que se encontram nas escolas. Temos recebido na Pró – Inclusão frequentes queixas em que ficam manifestas as carências que se verificam no apoio aos alunos com dificuldades nas nossas escolas. Darei exemplos da tipologia destas queixas: há escolas em que os professores de Educação Especial são claramente insuficientes para coordenar e intervir no apoio a alunos com dificuldades escolares. Há escolas em que os professores apoiam 30 alunos o que é incompreensível se quisermos compaginar este enquadramento com o que consideramos uma escola de qualidade. Ouvimos também e muitas vezes que a regra de não existirem mais de dois alunos com NEE nas turmas (que devem por este motivo ser reduzidas) é frequentemente violada com as mais bizarras razões. (Por exemplo uma escola disse que não fazia esta redução porque não havia alunos sem dificuldades suficientes para fazer turmas reduzidas suficientes…). Mais queixas ainda pelos serviços tão minguados que os CRI’s continuam a oferecer às escolas: horas escassas para responder em quantidade e qualidade às necessidades dos alunos. 

Esta listagem não é certamente novidade para muitos dos nossos leitores: o que pensamos que são os modelos de recursos – sobretudo humanos – para responder efetivamente às necessidades, estão longe de ser suficientes. Não adianta analisar a questão pelos simples números. Darei um exemplo: uma escola com 900 alunos tem 5 professores de Educação Especial. À partida nem parece mal, pois não? Mas… e se 4 destes professores ficarem colocados nas duas unidades que a escola tem? Sobra 1 professor de Educação Especial para 900 alunos. E aqui está como estas estatísticas podem ser tão enganadoras. 

“O verdadeiro pobre é o que não sabe pedir”. Precisamos que os agrupamentos, as escolas, os professores, os professores de Educação Especial relatem estas insuficiências. Uma estratégia de cidadania e de luta pela qualidade do apoio que temos que dar a todos os alunos é, sem dúvida, a de registarmos todas as condições em que consideramos que este apoio (o apoio que se liga à Equidade…) está maltratado. E nós cá estaremos para encaminhar. Pobres, podemos ser pobres, mas temos que saber pedir.

David Rodrigues

Editorial da Newsletter n.º 112 da Pró-Inclusão

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