domingo, 31 de agosto de 2014

25 formas de perguntar “como correu a escola?”

A pergunta pode afastar os filhos e os pais obtêm respostas como "bem" ou "normal". Resultado: ficam sem saber nada. Eis um guia com 25 perguntas para ficar a saber tudo sobre como correu o dia.

Pais e mães. Todos diferentes, mas todos com problemas semelhantes. Se os seus filhos já estão na escola, é provável que já se tenha deparado com respostas vazias e pouco consistentes quando lhes pergunta como correu a escola. Um distraído “bem”, “fixe” ou “normal” são respostas que não contêm informação sobre o dia da criança. E é esta falta de conhecimento que alarma os progenitores.

A pensar nesta lacuna, uma mãe natural de Omaha, EUA, criou um manual com 25 perguntas que permitem arrancar mais facilmente pormenores e histórias que preencheram o dia dos filhos, mas não só. Há perguntas específicas sobre a relação com os colegas e com a professora, sobre os momentos mais divertidos e mais tristes e sobre as brincadeiras no intervalo. Tem um papel e uma caneta à mão?

1. Qual foi a melhor coisa que aconteceu hoje na escola? E a pior?

2. Conta-me algo que te tenha divertido hoje.

3. Se pudesses escolher, sentavas-te ao pé de quem na sala? E quem é que não queres que se sente ao pé de ti?

4. Qual é o sítio que mais gostas na escola?

5. Diz-me uma palavra esquisita que ouviste hoje.

6. Se eu telefonasse agora à tua professora, o que é que ela me ia dizer sobre ti?

7. Ajudaste alguém a fazer alguma coisa hoje?

8. Alguém te ajudou a fazer alguma coisa hoje?

9. Diz-me uma coisa que tenhas aprendido hoje.

10. Qual foi o momento mais giro de hoje?

11. O que é que te chateou hoje?

12. Se um extraterrestre entrasse na sala e pudesse levar alguém com ele para fora dali, quem é que querias que fosse?

13. Com quem é que gostavas de brincar no intervalo que ainda não brincaste?

14. Diz-me uma coisa boa que tenha acontecido hoje.

15. Que palavra é que a tua professora te ensinou hoje?

16. O que é que achas que devias fazer ou aprender mais na escola?

17. O que é que achas que devias fazer menos na escola?

18. Na tua sala, com quem é que achas que podias ser mais simpático/a?

19. Em que sítio é que costumas brincar quando estão no intervalo?

20. Quem é a pessoa mais engraçada na tua sala? Porquê?

21. O que é que gostaste mais no almoço de hoje?

22. Se amanhã fosses tu a professora, o que é que mudavas?

23. Há alguém na tua sala que está a precisar de descansar?

24. Se pudesses trocar de lugar com alguém, com quem é que trocavas?

25. Diz-me três vezes em que tenhas usado o lápis hoje.

In: O Observador por indicação de Livresco

sábado, 30 de agosto de 2014

Rehacare International 2014


A Rehacare International, a Feira Internacional de Produtos de Apoio, volta a realizar-se em Dusseldorf, Alemanha, entre os dias 24 e 27 de setembro de 2014.

Esta Feira, organizada pela Messe Dusseldorf, é uma das feiras mais prestigiadas de produtos de apoio, que reúne profissionais de todo o mundo. Este ano é subordinada ao tema "Um modo de vida autossuficiente" e contará com cerca de 800 expositores internacionais de mais de 30 países, incluindo de Portugal. É uma feira dedicada a profissionais de saúde e de reabilitação e a todos os que vivem com uma deficiência.

A Feira conta com o espaço de exposição com os diversos pavilhões, onde se apresentam produtos de apoio, como ajudas à mobilidade, cadeiras de rodas, produtos de ergoterapia e fisioterapia, aparelhos eletrónicos e de comunicação, ajudas às atividades da vida diária, desporto e lazer, entre outros. Os visitantes podem ainda visitar o Fórum da Tecnologia de Assistência, um parque temático sobre pessoas com deficiência e o trabalho e um centro de desporto adaptado, ou assistir aworkshops e palestras e ao Congresso Rehacare.

O bilhete de ingresso é de 12 euros por pessoa e por dia e pode ser adquirido online no site da Feira em www.rehacare.de/2130. As pessoas com deficiência têm uma redução no preço do bilhete diário e se levarem um acompanhante, este não paga entrada. O bilhete servirá ainda de passe de transporte de ida e volta para a Feira, nos transportes coletivos de Dusseldorf.

In: INR

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Aluna da UMinho desenvolve roteiros turísticos para pessoas invisuais

Sandra Contente, aluna de mestrado em Património e Turismo Cultural na Universidade do Minho, desenvolveu roteiros turísticos de Braga para pessoas com deficiências visuais. Os percursos já estão disponíveis e foram concebidos com a colaboração da Associação de Apoio ao Deficiente Visual do distrito de Braga e da Associação de Ocupação Constante.

A ideia foi retirada da sua tese intitulada “Turismo Acessível na cidade de Braga: uma experiência com portadores de deficiência visual” e surgiu da necessidade de suprimir uma lacuna existente há vários anos. “Foram definidos, em conjunto com as entidades aderentes, percursos e atividades para esta população. É importante apostar em iniciativas e estratégias diversificadas que permitam às pessoas com limitações físicas usufruir e conhecer melhor os vários espaços turísticos e culturais”, explica a estudante do Instituto de Ciências Sociais da UMinho.

Sandra Contente pretendeu dar um toque mais sensorial aos trajetos delineados. Teve em consideração igrejas, museus, monumentos, estabelecimentos comerciais e outros locais “onde estes turistas pudessem sentir alguns dos aspetos tradicionais da cidade bracarense”. Várias entidades da cidade já integraram os itinerários adaptados, nomeadamente o Posto de Turismo de Braga, o Museu Arqueológico Dom Diogo de Sousa, o Museu Pio XII, a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, os estabelecimentos comerciais “A Negrita” e “Som da Sé” e o artesão local Eurico Silva.

O feedback dos deficientes visuais tem sido positivo: “Eles apreciaram bastante a atividade. Acharam é que se devia fazer mais vezes e, para isso, é necessário haver políticas públicas nesse sentido, existir a cooperação entre várias entidades e apostar na cultura da acessibilidade junto da população. Só assim é que se pode pensar em Braga como um destino acessível”, conclui Sandra Contente.

In: Braga TV por indicação de Livresco

Religião e Moral obrigatória nas escolas da Madeira é inconstitucional

O Tribunal Constitucional pronunciou-se esta quinta-feira pela inconstitucionalidade do diploma do governo regional que tornava obrigatória a frequência das aulas de Religião e Moral nas escolas públicas da Madeira.

Reunidos no Palácio Ratton, os juízes concluíram, por unanimidade, que a deliberação do executivo presidido por Alberto João Jardim violava a Constituição por limitar a liberdade religiosa ao interpretar o silêncio como aquiescência quanto ao recebimento do ensino da religião.

O artigo 9.º, n.º do decreto regional, declarado inconstitucional, determinava que “as escolas, no âmbito da sua autonomia e de acordo com o seu projeto educativo, devem desenvolver atividades que contribuam para a formação pessoal e social dos alunos, designadamente nas áreas da (…) educação moral e religiosa (…) de oferta obrigatória para as escolas da rede pública e de frequência obrigatória para os alunos, salvo declaração expressa em contrário do encarregado de educação".

O representante da República para a Madeira, Irineu Barreto, requereu ao Tribunal Constitucional a apreciação preventiva da constitucionalidade desta norma que pretendia adaptar à Região Autónoma o regime nacional que estabelece os princípios orientadores da organização e da gestão dos currículos dos ensinos básico e secundário e que considera de “frequência facultativa” projetos no âmbito da educação moral e religiosa. 

No seu acórdão n.º 578/2014, de 28 de agosto de 2014, o Tribunal Constitucional pronunciou-se, em sede de fiscalização preventiva, pela inconstitucionalidade, por violação dos artigos 41.º, n.º 1; 43.º, n.º 3; 165.º, n.º 1, alínea b) e 227.º, n.º 1, alínea a) da Constituição, da norma constante do artigo 9.º, n.º 1, parte final, do Decreto Legislativo Regional que adapta à Região Autónoma da Madeira o regime constante do Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho (com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 91/2013, de 10 de julho), aprovado pela Assembleia Legislativa da Madeira em sessão plenária de 31 de julho de 2014. 

Assim, e como previsto no n.º 1 do artigo 279.º da Constituição, o representante da República irá devolver ao parlamento madeirense o diploma chumbado pelo TC.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Pais lançam petição para aumentar número de funcionários nas escolas

A cerca de duas semanas do início das aulas, os pais voltam a alertar para o que consideram ser um dos grandes problemas do ensino: poucos funcionários para escolas cada vez maiores.


O problema não é novo e um grupo de pais lançou uma petição para que o diploma que define o rácio de funcionários por escola seja debatido pelos deputados. Alberto Santos, um dos autores da petição, explica o que se passa recorrendo a um caso concreto: “Na Escola Secundária da Maia tínhamos 1645 alunos (…) para cerca de 22 funcionários, que ficam responsáveis por uma escola com quatro hectares de terreno”.

O encarregado de educação conhece bem aquele caso porque é presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Secundária da Maia e garante que “esta é uma realidade que afecta a generalidade das escolas públicas”.

O vice-presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, confirma a informação: "Esta é uma portaria que tem seis anos e que está ultrapassada, porque não prevê as obras que aconteceram no parque escolar. As escolas estão maiores, têm mais serviços, estão mais modernas e precisam de mais funcionários, além disso também não prevê as escolas que têm cada vez mais alunos com necessidades especiais".

A escassez de funcionários “significa falta de segurança, falta de higiene, casas de banho fechadas, pavilhões fechados, bibliotecas fechadas. Significa uma escola a funcionar em condições perfeitamente deficitárias”, alerta Alberto Santos. “Não somos guerrilheiros, não somos sindicalistas, mas estamos preocupados com a qualidade do ensino e o futuro dos nossos filhos e tudo faremos para que as escolas funcionem normalmente”, acrescenta.

Para já, os pais têm um abaixo assinado na Internet, intitulado “Alteração dos rácios de auxiliares de acção educativa nas escolas”, que conta com 1993 assinaturas, mas precisam de quatro mil para garantir a discussão do problema no plenário da Assembleia da República.

O Ministério da Educação e Ciência (MEC) diz estar a “programar o início do ano letivo de forma a assegurar a abertura das escolas no período previsto com todas as condições, também no que diz respeito ao pessoal não docente. Qualquer situação que se venha a verificar de défice será analisada e suprida”.

Filinto Lima confirma que o rácio definido pelo diploma “é sempre cumprido e a horas”, mas muitas vezes com o recurso a desempregados do centro de emprego. "No meu caso, faltam-me 26 funcionários para atingir o rácio e essa diferença vai ser coberta com desempregados do centro de emprego, pessoas que não têm habilitações ou nunca trabalharam numa escola", lamenta, defendendo que o ministério deveria “abrir os cordões à bolsa” e contratar os assistentes operacionais em falta.

Apesar de condenar a opção governamental, reconhece que muitas vezes estes desempregados acabam por se revelar "excelentes profissionais, com grande capacidade para lidar com jovens". No entanto, a legislação impede que possam voltar a trabalhar nas escolas no ano seguinte. Por isso, Filinto Lima, sugere que essa regra também seja alterada.


Comentário:
Embora não diretamente relacionado com o tema da notícia, considero que, para bem de todos, inclusivamente para os ditos "funcionários", deveria ser obrigatória a posse de formação específica aquando do recrutamento de assistentes operacionais para as escolas.
Por outro lado, atendendo à natureza e à importância da suas funções, designadamente, colaborar na educação e formação de crianças e jovens, a designação profissional deveria regressar a "auxiliares de ação educativa", ou parecida.

O direito e o dever de educar

Naturalmente, o conceito de família tem evoluído ao longo dos tempos e o direito português tem acompanhando essa evolução, quer através de alterações legislativas, quer através de decisões judiciais que reconhecem um conjunto crescente de direitos e deveres à família “alargada” e às novas formas de família. No entanto, essas alterações têm mais a ver com uma reinterpretação do conceito de família (o que é “a” família) do que com qualquer modificação relevante dos direitos e deveres dos pais e dos filhos.
Podemos dizer que a evolução natural do estado de direito social vai no sentido de reconhecer o papel essencial da família na sociedade, afastando-se progressivamente de teses mais afoitas que, em tempos não muito distantes e em espetros ideológicos bem distintos, privilegiaram uma conceção mais estatal da educação, incumbindo as escolas e outras entidades públicas de substituir os pais na sua tarefa educativa.

Um debate a fazer

Surpreendentemente, ou talvez não, a relação entre família e escola não parece constituir um foco de tensão ou, tão-pouco, de debate no nosso sistema educativo, que se caracteriza, entre outras coisas, por debater ad nauseam quase tudo o que lhe diz respeito. Ao contrário do que sucede noutros países (em França ou nos Estados Unidos da América, por exemplo), em que diferentes grupos pretendem que seja atribuído um papel determinante às famílias na definição da orientação do ensino nas escolas, originando acesas polémicas, entre nós, a relação entre escolas e famílias está acomodada à figura “administrativa” do encarregado de educação e ao papel bastante limitado das associações de país, cingindo os focos de maior tensão à reivindicação periódica de medidas muitos concretas que atendem a problemas específicos, sejam eles a defesa de uma ação social mais robusta ou do direito a medidas de âmbito fiscal que reconheçam o peso efetivo das despesas com educação na economia familiar.
É pena que assim seja, porque este é um tema que merece atenção. Num sistema em que toda a gente mete a sua colherada (académicos, dirigentes da administração pública, políticos, sindicatos, organizações profissionais, autarquias, representantes da sociedade civil), é desejável que se discuta o estado da relação entre pais/encarregados de educação e as escolas porque esta constitui uma das dimensões essenciais do sucesso educativo. 

Educar e ensinar

O artigo 36.º, n.º 5, da Constituição da República (CRP) estabelece que “os pais têm o direito e o dever de educação e manutenção dos filhos”. Desta norma decorre, entre outros, o dever do Estado “cooperar com os pais na educação dos filhos” (artigo 67.º, n.º 2, c, CRP), sendo que, em ambas, a expressão “educação” tem um sentido diferente de “ensino”, devendo ser lida num sentido amplo que inclui a transmissão do conhecimento, propriamente dito, mas também a miríade de valores sociais, culturais e outros, realizáveis dentro da família. É esse, de resto, o sentido atribuído pelo Código Civil (CC) à responsabilidade parental que confere aos pais o dever de “no interesse dos filhos (...) dirigir a sua educação” (artigo 1878.º CC), dever esse que se concretiza pela promoção “...de acordo com as suas possibilidades...” do respetivo “...desenvolvimento físico, intelectual e moral...” (artigo 1885.º CC). 
Ou seja, enquanto a educação é uma incumbência da família (com o apoio do Estado), o ensino é uma incumbência essencial do Estado que garante a todos o “direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar” (artigo 74.º CRP). 
No entanto, é bom de ver que a fronteira entre educação e ensino nem sempre é clara, porque a primeira inclui, fora do contexto escolar, dimensões que podem contender com a segunda. 
Se é certo que a Declaração Universal dos Direitos do Homem confere aos pais a “prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos” (artigo 26.º, n.º 3), e que “o Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer diretrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas” (artigo 43.º, n.º 2, CRP), também é verdade que, olhando para este último preceito, não podemos deixar de concluir que é impossível autonomizar totalmente os métodos de ensino, as práticas pedagógicas e os conteúdos programáticos das dimensões filosóficas, estéticas, políticas e mesmo ideológicas ou religiosas que, parece, se quer reservar em exclusivo aos pais.
Um bom exemplo do que acaba de ser dito é o da educação sexual. Trata-se de um tema potencialmente controverso que mereceu, entre nós, um parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República (33/82) no já longínquo ano de 1982. É curioso ler o que aí é dito sobre o perigo de “doutrinação” inerente à atividade letiva e a recomendação de que os conteúdos lecionados se limitem unicamente à transmissão de informações de carácter biológico e ao seu enquadramento no âmbito de uma relação humana e afetiva. Hoje, esta tese soa algo caduca, mas se convoco o exemplo (que tomei de empréstimo ao Professor Jorge de Miranda) é porque ele mostra que existem áreas de intervenção da escola potencialmente conflituosas com a comunidade que a rodeia e, por outro lado, porque ele revela que a perceção da comunidade face a algumas temáticas educativas varia muito, de acordo com a perceção que se vai construindo no espaço público. 

Um caminho a fazer

A lei enquadra a intervenção dos pais e encarregados na comunidade escolar através do Estatuto do Aluno e da Ética Escolar (Lei 51/2012), estabelecendo um conjunto de responsabilidades parentais e um sistema sancionatório para os casos de incumprimento dos deveres dos pais e dos encarregados de educação. Trata-se de um sistema de gestão da relação família-escola que respeita, no essencial, à relação individual de cada aluno e dos seus encarregados de educação com a escola, deixando algo a desejar quanto à participação das famílias nas grandes decisões da comunidade educativa. 
Esse papel é conferido às associações de pais, as quais, de resto, estão presentes nos conselhos gerais dos agrupamentos e atuam, por essa via, como os representantes dos pais na definição dos projetos educativos e nos processos de decisão nas escolas.
Sem pôr em causa o papel importantíssimo de muitas associações de pais na vida das respetivas comunidades educativas, não deixa de ser um sistema institucional, que perde alguma eficácia porque está refém dos formalismos típicos das nossas instituições. 
Num país com uma cultura cívica relativamente pobre, é desejável que a escola seja um exemplo de integração e participação comunitária e, nessa matéria, há muito a fazer. 

Tiago Saleiro

In: Educare

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Excesso de conexões cerebrais pode explicar autismo

O cérebro das crianças e adolescentes com autismo tem um excesso de sinapses - zonas ativas de contacto entre neurónios - justificado por um processo mais lento que o normal de eliminação durante o desenvolvimento, o que afeta profundamente o funcionamento cerebral. A conclusão poderá vir a revolucionar as estratégias terapêuticas usadas para tratar este distúrbio.

A descoberta em causa é da responsabilidade de um grupo de neurocientistas do Columbia University Medical Center (CUMC), nos EUA, cujo estudo foi publicado a semana passada na revista científica Neuron. 

Segundo os investigadores, a rapamicina, fármaco habitualmente utilizado como imunossupressor, foi capaz de restaurar o processo natural de eliminação de sinapses em ratinhos com comportamentos autistas, mesmo sendo administrada depois do aparecimento destes comportamentos.

Embora o medicamento tenha efeitos secundários que podem vir a impossibilitar a sua administração em pacientes com autismo, "o facto de se observarem alterações no comportamento sugere que o distúrbio pode ser tratável mesmo depois do diagnóstico se for possível encontrar um fármaco mais adequado", afirma David Sulzer, um dos autores do estudo, em comunicado. 

Durante o desenvolvimento normal do cérebro, que começa na infância, dá-se uma explosão de sinapses, em particular no córtex e, posteriormente, na adolescência, um processo de eliminação faz desaparecer cerca de metade destas sinapses. Ao longo de vários anos, os cientistas têm, porém, desconfiado de que este processo pode não ser tão eficaz em pacientes com autismo, uma hipótese que o CUMC confirmou com sucesso.

Para a sua confirmação, Guomei Tang, coautor da investigação, examinou cérebros de crianças e adolescentes com autismo que morreram de outras causas - 13 dos quais de pacientes com idades entre os 2 e os 9 anos e outros 13 com idades entre os 13 e os 20 anos, analisando também 22 cérebros de jovens sem o problema com fins comparativos.

"Esta é a primeira vez que alguém procurou e encontrou uma falha na eliminação de sinapses durante o desenvolvimento de crianças com autismo", destaca Sulzer, acrescentando que os cérebros de autistas avaliados apresentavam também sinais de envelhecimento e danos e grandes deficiências ao nível da autofagia, processo pelos qual as células eliminam os seus próprios componentes. 

Em resultado do estudo, e depois de ter conseguido reverter comportamentos autistas em ratinhos com recurso à rapamicina, a equipa acredita agora que uma abordagem semelhante poderá obter bons resultados em pacientes humanos mesmo depois do diagnóstico. 


Clique AQUI para aceder ao resumo do estudo (em inglês).

Welcome from ISEC2015Lisbon programme chairperson, Professor DAVID RODRIGUES

Dear coleagues and friends from all over the world,

It´s my great pleasure to invite you to attend and participate in the Inclusive and Supportive Education Congress –ISEC2015Lisbon, from 26th to 29th July – a joint organization of Pro-Inclusion - National Association of Teachers of Special Education (Portugal) and NASEN - National Association for Special Educational Needs (UK). This Congress takes place every 5 years, discussing the implementation and development of inclusiveness in educational systems.

Submissions of papers are now open and the organizing and blind peer reviewer committees accept proposals for oral communications, posters, videos and symposia. Please choose the way you’d like to participate and send us your proposal, as soon as you can. 

This will be a world congress and we are working in order to offer an exciting opportunity to disseminate ideas and practices as well as an extraordinary moment to learn from each other. You are most welcome to Lisboa and we are sure that this congress will be a privileged moment either in professional and personal domains. 

We are waiting for your proposals and we will be glad to answer to any of your questions or doubts. 

All the information available on: 





Looking forward to see you in Lisboa! 

Prof. David Rodrigues
Pro-Inclusion President – Portugal
ISEC2015Lisbon Programme Chairperson


Antidepressivos na gravidez tornam bebés hiperativos

A toma de antidepressivos pelas mulheres grávidas pode estar associada a um risco acrescido de hiperatividade no bebé, sugere um estudo norte-americano publicado numa publicação do grupo Nature.

Os problemas de transtorno de défice de atenção com hiperatividade (TDAH) caracterizam-se por dificuldades em concentrar-se e a levar até ao fim tarefas complexas.

Estes problemas afetam 3 a 5% de crianças em idade escolar em França. segundo vários estudos, e caracterizam-se frequentemente por uma dificuldade em manter-se no lugar, esperar a sua vez ou por comportamentos impulsivos.

No estudo publicado na "Molecular Psychiatry" (revista do grupo Nature), os investigadores do Massachusetts General Hospital (EUA) "observaram um risco persistente de TDAH após uma exposição aos antidepressivos, em particular no primeiro trimestre" da gravidez, adianta a France Presse.

Este estudo, estatístico, foi elaborado a partir de dados recolhidos num sistema de cuidados de saúde so norte dos EUA, visando 2243 crianças diagnosticadas com TDAH e 1377 crianças autistas.

O objetivo inicial dos investigadores era perceber se o consumo de antidepressivos durante a gravidez podia traduzir-se num risco acrescido de autismo na criança. Sobre esta questão os investigadores estimam que a ligação não é significativa.

Já a associação entre os antidepressivos consumidos durante a gravidez e a TDAH é "significativa". Os investigadores sublinham, porém, que o risco é "reduzido em termos absolutos" e recomendam mais estudos sobre este tema.

In: DN

Como gastar o crédito oferecido por Crato? Escolas apostam em mais apoio aos alunos

Há uns anos, para lidar com os alunos que mais dificuldades tinham, nasceu no Agrupamento de Escolas Campo Aberto, na Póvoa de Varzim, um projecto a que chamaram Fénix. A ideia básica era — e é — esta: meninos com mais problemas a Português e a Matemática não ficam na turma, com os restantes colegas, a ouvir o professor quando chega a hora de aprender aquelas matérias. Saem da sala para “ninhos” — pequenos grupos onde um professor trabalha com eles de maneira mais personalizada em articulação com os docentes da turma. Quando melhoram, deixam de frequentar os “ninhos”. O projecto dura até hoje. E inspirou outras escolas.

O agrupamento Campo Aberto foi um dos que o Ministério da Educação e Ciência decidiu distinguir este ano com uma espécie de prémio: créditos horários que as escolas têm autonomia para gerir.

No total, foram 259 (escolas ou agrupamentos) que superaram as metas definidas. (...) o Agrupamento de Escolas Campo Aberto e o Agrupamento de Escolas de Alcochete foram os mais premiados: 60 horas semanais cada (para se ter uma noção do que vale este reforço, o horário letivo de um professor, completo, é de 22 horas por semana).

Em Alcochete houve alguma surpresa, tanto mais nem todas as disciplinas viram as médias dos exames nacionais subir, explica Maria José Gonçalves, diretora do agrupamento.

Certo é que há também aqui há projetos concretos de combate ao insucesso, nos quais a diretora deposita grande esperança. “Os principais são: o Saber Mais, um espaço onde professores de várias disciplinas estão disponíveis [algumas horas por semana] e onde os alunos podem ir tirar dúvidas ou aprender um pouco mais; o Espaço de Convivências, que visa controlar a indisciplina e o projecto Alcochete + Desporto, que procura motivar os alunos para a prática desportiva.”

Tudo isto, diz Maria José Gonçalves, tem contribuído para os resultados da escola ("quase não temos abandono escolar"), apesar de ser notório um empobrecimento das famílias de classe média a que pertencem muitos dos alunos.

Quanto às 60 horas semanais de crédito agora arrecadados, diz que vai gastá-los sobretudo em atividades que promovam o sucesso escolar dos alunos, particularmente “nos que têm necessidades educativas especiais”. Quer ainda alargar o Saber Mais a mais disciplinas.

Há quem use os créditos do ministério para contratar assistentes sociais e psicólogos. Ana Marques, diretora do agrupamento da Póvoa de Varzim, diz que no seu agrupamento isso já se faz, mesmo sem esta distinção — estes técnicos “retiram imenso trabalho aos professores, trabalho para o qual os professores não estão habilitados”, porque, cá está, não são psicólogos nem assistentes sociais.

A diretora diz que o que vai receber será para distribuir pelos docentes da casa e fornecer ainda mais tempo de apoio aos alunos. “Isto é o corolário de um trabalho” desenvolvido ao longo de anos, continua. Nem tudo são rosas, contudo: “No 1.º, 2.º e 3.º ciclos a taxa de abandono é zero. Nos cursos profissionais há algumas dificuldades, porque estamos numa zona de grande emigração e alguns alunos abandonam aos 18 anos, partem com as famílias.” E se, em geral, os resultados de Matemática e Português melhoraram de 2012 para 2013, no que diz respeito especificamente ao 4.º ano, não aconteceu assim.

A prática de atribuir créditos horários é recente — existe há três anos, não sem críticas. Ter créditos de horas significa, na prática, ter mais recursos. E o Conselho de Escolas considerava, num parecer de Março do ano passado, que esta medida exclui “as escolas que mais necessitam de horas de reforço para apoiar os seus alunos, privilegiando as escolas que já têm bons resultados”.

A lista das 259 escolas distinguidas por terem sido consideradas particularmente eficazes (eficácia medida através de uma complexa fórmula que tem em conta, entre outros, os resultados dos alunos comparados com a média nacional) e/ou por terem reduzido para menos de metade o abandono ou o “risco de abandono” dos estudantes, não foi ainda divulgada. O ministério justifica dizendo que “ainda não está terminada a análise/leitura por parte dos serviços de todos os dados”, tendo avançado apenas com os nomes dos dois agrupamentos, Póvoa de Varzim e Alcochete.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Regime de concessão de crédito bonificado à habitação a pessoa com deficiência

A Lei n.º 64/2014, de 26 de agosto, aprova o regime de concessão de crédito bonificado à habitação a pessoa com deficiência.

A concessão de crédito bonificado a pessoa com deficiência destina-se a:
a) Aquisição, ampliação, construção e ou realização de obras de conservação ordinária, extraordinária ou de beneficiação de habitação própria permanente;
b) Aquisição de terreno e construção de imóvel destinado a habitação própria permanente;
c) Realização de obras de conservação ordinária, extraordinária ou de beneficiação em partes comuns dos edifícios destinadas ao cumprimento das normas técnicas, exigidas por lei, para melhoria da acessibilidade aos edifícios habitacionais, por parte de proprietários de frações autónomas, que constituam a sua habitação própria permanente, e cuja responsabilidade seja dos condóminos.

A concessão de crédito bonificado a pessoa com deficiência destina -se a:
a) Aquisição, ampliação, construção e ou realização de obras de conservação ordinária, extraordinária ou de beneficiação de habitação própria permanente;
b) Aquisição de terreno e construção de imóvel destinado a habitação própria permanente;
c) Realização de obras de conservação ordinária, extraordinária ou de beneficiação em partes comuns dos edifícios destinadas ao cumprimento das normas técnicas, exigidas por lei, para melhoria da acessibilidade aos edifícios habitacionais, por parte de proprietários de frações autónomas, que constituam a sua habitação própria permanente, e cuja responsabilidade seja dos condóminos.

Menino precisa de 27 mil € para ouvir

Rúben nasceu com surdez profunda bilateral. Foi o primeiro português a receber um implante coclear com menos de um ano de idade, no Hospital dos Covões, Coimbra. Fez reabilitação auditiva e desenvolveu a fala. Aos 5 anos, o ruído dos colegas na escola EB1 Junqueira, Vilar do Paraíso (Vila Nova de Gaia), impede-o de distinguir os sons e, cada vez que há uma avaria no aparelho, a surdez regressa ao ouvido direito. Os médicos aconselham um segundo implante, no ouvido esquerdo, mas o Estado só atribui um implante por utente. A cirurgia terá de ser feita no Hospital CUF Porto e custa 27 100 euros. 
Os pais da criança, funcionários de um supermercado, têm um rendimento mensal de 1400 euros; têm uma hipoteca para pagar e as despesas de manutenção do aparelho e as sessões de terapia da fala não têm qualquer comparticipação. "Não temos 27 mil euros para ajudar o nosso filho, mas queremos o melhor para ele, e se não fizer agora tudo para que ele possa ser um jovem normal, vou arrepender-me", disse ao (...) Hélder Gonçalves. 
Os pais de Rúben criaram uma página nas redes sociais, fazem peditórios nas romarias de Gaia e distribuíram mealheiros por dezenas de lojas do concelho. "Convém que a operação seja feita o mais rapidamente possível, para que ele tenha mais ganhos, ainda que nunca consiga ouvir tanto quanto do outro ouvido", explicou a mãe da criança, Vera Silva. "Pensei em contrair um empréstimo, mas nada fica resolvido, porque o aparelho externo dura dez anos, o que significa que daqui a cinco será preciso comprar um novo para o ouvido direito, o que custa cerca de dez mil euros", referiu o pai. "Sei que há muitas pessoas a precisarem de ajuda, mas se o meu filho for apoiado e conseguirmos o segundo implante, irá melhorar", concluiu.

In: CM por indicação de Livresco

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

PRECURSORES NEUROANATÓMICOS DE DISLEXIA IDENTIFICADOS DESDE A PRÉ-LEITURA ATÉ AOS 11 ANOS DE IDADE

A dislexia de desenvolvimento é um distúrbio de leitura comum que afeta negativamente a capacidade que um indivíduo possui para atingir níveis satisfatórios de literacia. 
Embora a rede do cérebro envolvida na leitura e a sua disfunção na dislexia já tenham sido bastante estudadas, não se sabe se a dislexia é causada por anormalidades estruturais na própria rede de leitura ou nas redes de nível inferior que fornecem a entrada para a rede de leitura. Neste estudo, foi realizada ressonância magnética estrutural longitudinal de 27 crianças norueguesas desde antes do treino formal de alfabetização até após o diagnóstico formal de dislexia. 
O presente estudo permitiu determinar que as «anomalias» neuroanatómicas primárias que antecedem a dislexia não estão na própria rede de leitura, mas sim nas áreas de nível inferior responsáveis pelo processamento auditivo e visual e pelas funções executivas centrais. Anormalidades na própria rede de leitura só foram observados aos 11 anos, depois de as crianças terem aprendido a ler. As descobertas sugerem que as anomalias na rede de leitura são a consequência de diferentes experiências de leitura, ao invés da dislexia por si só, ao passo que os precursores neuroanatómicos estão predominantemente no córtex sensorial primário.

Kristi A. Clark, Turid Helland, Karsten Specht, Katherine L. Narr, Franklin R. Manis, Arthur W. Toga e Kenneth Hugdahl

Traduzido por DISLEX-Associação Portuguesa de Dislexia

Via FB

Fechados em casa, mas expostos ao mundo

André Agante divertiu-se muito este Verão com os primos e amigos. Passaram horas na piscina, fizeram pizza, jogaram ao toca-e-foge, soltaram as galinhas e correram atrás delas. “Anteontem, eram dez a brincar”, diz ele. É grande a casa dos avós nos arredores de Aveiro. Quando a mãe era menina, também ali recebia primos e amigos. Nas férias, havia pelo menos três crianças a saltar de um lado para outro e ninguém colocou cancelas de segurança nos quatro lances de escadas. Quando André nasceu, cancelas nas escadas, protectores nas tomadas.

Nunca houve tanta preocupação com a segurança infantil. Há até pais que põem capacetes de esponja aos filhos antes de os soltarem dentro de casa. “Até que ponto este excesso não está a criar miúdos menos autónomos?”, pergunta a mãe de André, Catarina Ribeiro, co-fundadora da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Criança Abusada e Negligenciada. Quando André entrou no pré-escolar, aos três anos, queixavam-se os educadores que alguns nunca tinham subido escadas.

Ninguém conhece infância tão protegida como os que nasceram no final do século passado ou já neste – a chamada geração Z ou geração digital. E, no entanto, nunca houve tanta perceção de vulnerabilidade. Parafraseando um texto que o sociólogo Manuel Sarmento co-assina com Natália Fernandes e Catarina Tomás, essa é uma das muitas contradições de um país que pode orgulhar-se de ter uma das mais baixas taxas de mortalidade infantil e um dos mais elevados níveis de segurança urbana do mundo e ainda leva puxões de orelhas pelo maltrato intrafamiliar e pelo abandono escolar.

É recente o reconhecimento das crianças como sujeitos de direitos. A Convenção dos Direitos da Criança, adoptada pelas Nações Unidas em 1989, foi ratificada por Portugal em 1990. Em 2001, num apelo à participação da comunidade, o país começou a criar comissões de promoção e proteção de crianças e jovens. Um ano depois, ficava perplexo com uma reportagem do semanário Expresso sobre abusos sexuais de rapazes à guarda da Casa Pia de Lisboa. 

Foi notícia até à náusea o processo Casa Pia. Era, interpreta Manuel Sarmento, o país a confrontar-se com a infância como tragédia, com a criança como vítima de uma sociedade que a desrespeita, que não a protege. Nada daquilo encaixava no ideal de criatura bela, inocente e espontânea que se propagava – o imaginário do “bom selvagem” herdado de Jean-Jacques Rousseau. Chocado, parte do país precipitava-se para uma preocupação nalguns casos excessiva.

O jornalista Tiago Freitas sente a preocupação ao criar uma filha de quatro anos e um filho de seis com a mulher no Funchal. “Estão habituados a que 'exista' tudo. Se passa uma nova série animada na TV, se um filme é lançado no grande ecrã, pedem o jogo. Após uma googlada, fatalmente aparecem inúmeras possibilidades de jogar. O principal desafio é saber onde ter a rédea, que é mais curta por um lado (brincar fora de casa, estar fora do alcance visual dos pais, andar sozinho na rua, ir ao mar desacompanhado) e mais solta por outro (mais respondões, menos obedientes, vida dos pais muito dependente da agenda deles)”.

Nenhuma geração cresceu tanto entre portas. Com a rua elevada à categoria de território predatório, isto é, a espaço onde qualquer estranho pode pôr a criança em risco, muitos pais tratam de enquadrar todas as horas dos filhos. As consolas, os leitores de DVD, os MP3, os computadores, os tablets e os telemóveis são os seus grandes aliados. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), 98% dos menores de 15 anos já usava computador, 93% possuía telemóvel e 95% acedia à Internet em 2012. Mas através da Internet a criança enfrenta outros riscos.

André Agante conta nove anos. Tem regras claras para usar a Net: não pode fornecer dados pessoais, revelar as palavras-passe, conversar com desconhecidos. Pode usar o computador que está no escritório ou o IPhone ou o IPad dos pais. E anda a construir uma cidade de dragões, já constituiu uma equipa de futebol e criou uma página no Facebook em nome da sua tartaruga.

“É importante que as crianças corram riscos num ambiente protegido para se poderem desenvolver de forma autónoma”, sustenta Catarina Ribeiro, psicóloga, perita do Instituto Nacional de Medicina Legal. “Crianças superprotegidas ficam muito mais ansiosas perante a adversidade. A adversidade pode ser pôr os pés na areia, mexer num animal ou apanhar chuva na cara.”

A percentagem de crianças na população residente está a cair, de modo consistente, desde o início da década de 1980 – entre 1981 e 2011 o país “perdeu” 936 mil crianças, segundo o INE. A democratização e a europeização impulsionaram transformações profundas. Há mais crianças a nascer fora do casamento ou a crescer numa família monoparental, recomposta, multiétnica ou de orientação sexual diversa. Nunca houve tantos filhos únicos. De acordo com o INE, 45,6% das crianças vivem em famílias sem outras crianças.

A sociedade valoriza mais as crianças, mas as pessoas estão cada vez menos dispostas a tê-las. Será uma característica típica do que o sociólogo alemão Ulrich Beck chama modernidade reflexiva. Se as relações de “curto prazo” são o paradigma, uma criança é um investimento a “longo prazo”. E isso pode ser visto como um estorvo, mas também como a derradeira possibilidade de estabelecer um laço eterno, uma certa forma de recuperar o “encanto com o mundo”.

Nenhum dos primos com que André se diverte em casa dos avós é de primeiro grau. É o único filho e o único neto. Não é daquelas crianças tiranas que o psicólogo espanhol Javier Urra descreve como desobedientes, desafiadoras, ávidas de atenção, capazes de dar ordens aos pais. É uma criança meiga e generosa. Os pais incitam-no a receber amigos e a partilhar o que é seu e ele partilha até o dinheiro que recebe no Natal e no aniversário. Chegado o Verão, a mãe pergunta-lhe quanto destinará às crianças pobres e ele faz um donativo para uma colónia de férias.

Professora da Universidade Católica do Porto e especialista em mediação familiar, Catarina vê muita gente viver em função dos filhos. “É importante que as crianças percebam que os pais têm direito a momentos em que elas não sejam o centro das atenções. Uma criança para crescer bem tem de ser sujeita a frustrações. Não a podemos proteger de tudo. Parte-se um brinquedo, chorou, não é preciso comprar outro a correr. Isso é pulsão compensatória. Os pais sentem culpa por estarem pouco presentes.”

Apesar de os homens participarem cada vez mais, a educação ainda assoberba mais as mulheres. E elas suportam uma das mais longas jornadas de trabalho e um dos mais baixos níveis salariais da União Europeia. Só em 2009 foi consagrada a universalidade da educação pré-escolar a partir dos cinco anos e alargada a escolaridade obrigatória até aos 18. Os equipamentos de apoio à família, diagnostica Manuel Sarmento, continuam insuficientes e as prestações sociais baixas.

“A sociedade não está organizada para os pais de hoje, que têm de aceitar todas as propostas de trabalho que aparecem”, entende a atriz, encenadora e dramaturga Marta Freitas, mãe de um rapaz de 11, Simão, e de uma rapariga de 9, Lucas. “Trabalho muito. Trabalho muitas vezes 15 horas por dia. Tenho de fazer uma gestão de tempo eficaz. Se sei que os meus filhos vão estar em casa ao final do dia, paro para estar com eles, nem que mal eles fechem os olhinhos eu volte para o computador.”

Simão e Lucas vivem entre a casa da mãe e do padrasto e a casa do pai, da madrasta e da meia-irmã, situada uma rua acima. Não lhes faz confusão. “As casas ficam perto”, diz o rapaz, escorregando no sofá. “Acho que é giro, é um tempo para um, um tempo para o outro”, achega a rapariga. “Com o pai vamos mais a concertos, com a mãe vamos mais ao teatro”, prossegue ela.

Frequentam o ensino integrado no Conservatório de Música do Porto. Ela passou para o 4.º ano, estuda violoncelo, ele para o 7.º, estuda piano. “Já têm uma carga horária muito grande”, considera a mãe. Ela e o ex-marido recusam-se a correr com eles de atividade em atividade. “Eles andaram ao sábado no atletismo. Problema: de 15 em 15 dias há competições. Isto de frequentemente transformar fins-de-semana em atividades é uma coisa que está fora de questão.” 

Gostam de ter tempo para estar com os amigos, para estar com os pais ou os avós, para estar consigo próprios – a ler, a ver televisão, a jogar, a brincar ou a nada fazer. “Gosto de ser criança”, diz Lucas. “Um adulto não liga aos amigos a dizer ‘Oh, vamos brincar!’ Nós ligamos. Às vezes, os adultos dizem que têm saudades de ser crianças, porque têm muita coisa para fazer.”

Hoje, observa o sociólogo Machado Pais, “uma criança necessita de se desconcentrar para ter a impressão de que está adquirindo experiências: joga um videojogo enquanto come pipocas, fala com a avó pelo telemóvel enquanto vê televisão e acaricia o cachorro com o pé. Tarefas múltiplas encarnam uma ideia nascente da experiência: uma presença ubíqua, uma desatenção permanente.”

Fazem todos parte da sociedade de consumo. “Boa parte pratica excessos que vão da comida calórica aos meios eletrónicos”, torna Machado Pais. “Os horários de dormida nem sempre são respeitados. Muitos têm televisão e computador no quarto, divertindo-se, até altas horas da noite, com videojogos, programas televisivos ou visitas a sites nem sempre apropriados à sua idade. O sedentarismo, por sua vez, tende a aumentar as taxas de obesidade entre as crianças.”

Não é tudo igual. Portugal é um dos países mais desiguais do mundo e isso é óbvio na infância. Os dados do INE mostram que em 2013, 2,2% das crianças com menos de 15 anos pertenciam a famílias incapazes de lhes assegurar pelo menos uma refeição diária de carne ou peixe; 4,3% não podiam trocar roupa usada por nova; 2,4% não tinham dois pares de sapatos de tamanho certo; 5,4% não tinham livros adequados à idade; 7,4% não dispunham de espaço apropriado para estudar; 12,1% não podiam participar em eventos escolares não gratuitos; 24 % não podiam participar numa actividade extracurricular.

Rúben Malhadinhas tem 12 anos e uma energia imensa que esgotou a pedir um IPad à mãe. A mãe, 15 anos mais velha, disse-lhe que era impossível. Ele pediu-lhe que lhe desse então uma Playsation3. Ela tornou a dizer-lhe que não. Ele faz os trabalhos nos computadores da escola e na Qualificar Para Incluir (QPI), uma associação empenhada em travar a reprodução de pobreza. Usa o computador de casa para jogar. O computador é lento. “Está cansado”. E ele tem pressa. “Quero divertir-me, aproveitar a vida.” E fá-lo, sobretudo nos jogos eletrónicos, no futebol e no skate. 

Dependentes das condições de vida dos adultos, as crianças sempre foram mais atingidas pela pobreza do que qualquer outro grupo etário. E tudo piorou com a crise, que se agudizou desde 2008. Lucas e Simão nem veem noticiários. “Na maior parte das vezes, é só desgraças!”, diz ela. André vê: “Nós andamos a poupar e, quando temos alguma coisa de que não precisamos, damos.”

Não fosse a QPI, Rúben ficaria em casa as férias inteiras. Adora participar nas atividades que ocupam mais de cem miúdos em cada mês de julho. Durante o mês de agosto, a associação continua a assegurar uma refeição por dia à sua família. Andreia, a mãe, está desempregada. Mesmo com ajuda alimentar, vê-se aflita para comprar os medicamentos de asma para a irmã de Rúben, de cinco anos.

O que será a geração Z no futuro? “Há quem defenda que as nossas sociedades vivem, no domínio cultural, um processo de mutação protagonizado pelos bárbaros que existem à volta e dentro de cada um de nós”, comenta Machado Pais. “O que caracteriza esses bárbaros é a sua fugacidade, a sua capacidade de navegação rápida, o seu deleite em surfar as realidades à superfície, como se não quisessem perder tempo em descobrir-lhes as profundidades. Demanda-se o caminho mais curto e mais rápido para o prazer. Buscam-se conexões, mas as relações que se desenvolvem são marcadas pela fragilidade.”

Neste domínio como noutros, o imaginário nacional balança entre a crise a esperança. Esse paradoxo, explica Manuel Sarmento, faz-se do confronto com a criança-vítima (como aconteceu há pouco com um bebé morto num banho de água a ferver) e com a criança-problema (a da indisciplina, da violência nas escolas, da anorexia, da obesidade), mas também com a criança-rei (que começa a usar as novas tecnologias antes de falar, que aprende a escrever português quase ao mesmo tempo que inglês, que é vista como super-especial). O susto dos adultos com a suposta incapacidade de esta geração adquirir uma cultura de esforço convive com a crença de que resgatará o país do seu papel subalterno, até porque deverá ser a mais preparada de sempre.

domingo, 24 de agosto de 2014

Guarda partilhada

Em Portugal, nos últimos trinta anos, é inquestionável a mudança no quotidiano das famílias. Da esposa/mãe típica da primeira metade do século passado, evoluímos para uma maior colaboração do pai nas tarefas domésticas e uma acrescida cooperação na educação das crianças.

Estas mudanças, que se acentuaram sobretudo no Portugal democrático, traduziram-se também por uma muito maior responsabilização do pai em relação aos filhos. O pai distante e centrado na vida profissional, deu lugar a um pai mais próximo e interveniente, preocupado com o futuro dos filhos e atento ao seu desenvolvimento.
O conceito de guarda conjunta nasceu nos anos setenta, a partir de vários movimentos sociais que denunciaram os problemas da guarda monoparental, pelo risco de perda, por vezes definitiva, de um dos progenitores (quase sempre o pai). 

A guarda conjunta pressupõe a co-responsabilidade legal de ambos os progenitores em relação aos filhos, após a ruptura do seu casamento ou união de facto. Trata-se da modalidade de organização da vida familiar que mais se aproxima da realidade da família intacta, pelo que se justifica a sua prática, sempre que possível. 
Se a guarda conjunta deve ser o princípio norteador fundamental, há situações em que pode não ser aconselhada. Quando existe patologia mental grave num dos progenitores (devidamente comprovada), negligência mantida, violência familiar ou conflito extremamente intenso na fase da rutura, outras formas de organização dos tempos da criança devem ser ponderadas.

Mais recentemente, utiliza-se o termo guarda partilhada como sinónimo de responsabilidade parental conjunta. No entanto, convém esclarecer que guarda partilhada não significa que haja necessariamente residência alternada. A lei portuguesa determina os pressupostos da regulação das responsabilidades parentais, podendo os pais solicitar ao tribunal a alternância da residência. O que está em causa na guarda partilhada é a partilha da autoridade parental sobre a criança, que passa a ser exercida por ambos os progenitores. 

A guarda partilhada, sob a forma de residência alternada, tem a sua justificação no facto da criança passar a viver o seu quotidiano com ambos os pais. Se os progenitores forem capazes de ultrapassar as divergências e colocarem o bem-estar do filho em primeiro lugar, podem conseguir um bom equilíbrio relacional.

Do ponto de vista dos pais, a residência alternada também pode ter vantagens. Desfaz a ideia da educação das crianças estar apenas a cargo de só uma pessoa, crença frequente quando as responsabilidades parentais atribuem, a um dos pais, um contacto apenas quinzenal. Permite uma diferente organização da vida pessoal de cada adulto, com mais intensa dedicação ao filho no período em que coabitam.

A guarda partilhada constitui uma importante evolução no conceito da educação das crianças no pós-divórcio. 
De notar que a residência alternada nunca deverá ser proposta se os progenitores passarem a viver em zonas distantes, o que torna inviável a constante deslocação da criança entre cidades muito afastadas. 
Quando é elevada a intensidade do conflito entre o casal no momento do divórcio, a guarda partilhada torna-se difícil. Nessas situações, é melhor aconselhar a mediação familiar, com vista a obter um acordo que possa ser cumprido.

Daniel Sampaio

Portugal termina Europeus de Atletismo Paralímpico com dez medalhas

As duas últimas medalhas, ambas de prata, foram conquistadas por Odete Fiúza e Nuno Alves nos 1500 metros para atletas com deficiência visual. José Lourenço, chefe da missão portuguesa, considerou «francamente positiva» a conquista de dez medalhas nestes europeus.

Portugal ganhou mais duas medalhas de prata nos Europeus de Atletismo Paralímpico e terminou estes campeonatos com dez medalhas, uma das quais de ouro.

Nos Europeus que terminaram este sábado em Swansea, no País de Gales, Odete Fiúza e Nuno Alves conquistaram a prata nos 1500 metros para atletas com deficiência visual.

Reagindo ao facto de Portugal ter conquistado dez medalhas nestes campeonatos, José Lourenço, chefe da missão portuguesa, explicou que isto «enche de orgulho» a equipa.

Ouvido pela TSF, José Lourenço destacou ainda o facto de algumas medalhas terem sido conquistadas por atletas ainda «bastante jovens», que conseguiram mesmo melhorar as suas marcas pessoais.

O chefe da missão portuguesa lembrou que nos europeus anteriores a estes Portugal tinha conseguido conquistar seis medalhas e que agora o número subiu para dez.

«É uma participação francamente positiva», adiantou José Lourenço, que diz que foi alcançado o objetivo de dar o melhor e representar o melhor possível o país.

In: TSF por indicação de Livresco

Todos diferentes, todos iguais... todos de férias

Há nove anos que o Santuário de Fátima oferece uma semana de repouso a pais com filhos deficientes. O carinho impressiona os cuidadores e os voluntários saem de lá mais crescidos.

O som da canção "Apita o comboio" ecoa na entrada do Centro Francisco e Jacinta Marto, em Fátima. Ricardo Gonçalves, de 41 anos, coloca as mãos nos ombros de um companheiro e movimenta-se, animado, ao som da música, entoada pela guitarra de um voluntário. Não consegue cantar, porque a deficiência na voz não o permite, mas o sorriso rasgado e os movimentos constantes do polegar ao alto, demonstram que está animado e feliz.

Sentada a um canto, a sua mãe, Maria Madalena Encarnação, 70 anos, esquiva-se aos desafios para entrar na roda, mas a sua expressão é igualmente de felicidade. "Estou impressionada com o carinho desta gente", desabafa a septuagenária, residente em Câmara de Lobos, na Madeira, e a primeira mãe das ilhas a participar na semana de repouso que o Santuário de Fátima oferece todos os anos aos pais que têm filhos com necessidades especiais.

In: JN por indicação de Livresco

sábado, 23 de agosto de 2014

Diz-me como desenhas aos quatro anos, dir-te-ei que inteligência terás aos 14

Um estudo de longo termo e de grande dimensão, levado a cabo no Reino Unido, e publicado esta semana na revista Psychological Science, mostra que a forma como uma criança de quatro anos desenha uma figura humana não revela apenas algo sobre a sua inteligência nessa idade como é indicativa da inteligência que terá dentro de 10 anos.

Para chegar a esta conclusão inédita, uma equipa de investigadores do King's College de Londes pediu a 7.752 pares de gémeos "verdadeiros" e "falsos" de quatro anos que desenhassem uma criança. Cada desenho foi avaliado de 0 a 12, com base no número de características presentes, como pernas, braços ou traços faciais. Na mesma altura, as crianças foram também submetidas a testes, verbais e não verbais, de avaliação de inteligência.

Dez anos depois, quando as crianças atingiram os 14 anos, os investigadores voltaram a testar a sua inteligência e descobriram que uma pontuação mais elevada nos seus desenhos correspondia agora, tal como na altura, a uma maior inteligência. E aí residiu a surpresa dos investigadores, que esperavam ver uma relação (entre a pontuação obtida nos desenhos e a inteligência) aos quatro anos mas não verificar uma consistência dos resultados uma década mais tarde.

A correlação, no entanto, "é moderada", sublinha o líder do estudo, Rosalind Arden, em comunicado. "As nossas descobertas são interessantes mas não significam que os pais devam preocupar-se se o filho desenha mal", acrescenta. "A capacidade para desenhar não determina a inteligência, há inúmeros fatores, tanto genéticos como ambientais, que afetam a inteligência mais tarde na vida", conclui.

In: Visão por indicação de Livresco

Entrevista Edgar Morin: é preciso educar os educadores

Parte de entrevista de Edgar Morin ao jornal brasileiro "O Globo" sobre alguns temas da educação.

Na sua opinião, como seria o modelo ideal de educação?

A figura do professor é determinante para a consolidação de um modelo “ideal” de educação. Através da Internet, os alunos podem ter acesso a todo o tipo de conhecimento sem a presença de um professor. Então eu pergunto, o que faz necessária a presença de um professor? Ele deve ser o regente da orquestra, observar o fluxo desses conhecimentos e elucidar as dúvidas dos alunos. Por exemplo, quando um professor passa uma lição a um aluno, que vai buscar uma resposta na Internet, ele deve posteriormente corrigir os erros cometidos, criticar o conteúdo pesquisado. É preciso desenvolver o senso crítico dos alunos. O papel do professor precisa passar por uma transformação, já que a criança não aprende apenas com os amigos, a família, a escola. Outro ponto importante: é necessário criar meios de transmissão do conhecimento a serviço da curiosidade dos alunos. O modelo de educação, sobretudo, não pode ignorar a curiosidade das crianças.

Quais são os maiores problemas do modelo de ensino atual?

O modelo de ensino que foi instituído nos países ocidentais é aquele que separa os conhecimentos artificialmente através das disciplinas. E não é o que vemos na natureza. No caso de animais e vegetais, vamos notar que todos os conhecimentos são interligados. E a escola não ensina o que é o conhecimento, ele é apenas transmitido pelos educadores, o que é um reducionismo. O conhecimento complexo evita o erro, que é cometido, por exemplo, quando um aluno escolhe mal a sua carreira. Por isso eu digo que a educação precisa fornecer subsídios ao ser humano, que precisa lutar contra o erro e a ilusão.

O senhor pode explicar melhor esse conceito de conhecimento?

Vamos pensar em um conhecimento mais simples, a nossa perceção visual. Eu vejo as pessoas que estão comigo, essa visão é uma perceção da realidade, que é uma tradução de todos os estímulos que chegam à nossa retina. Por que essa visão é uma fotografia? As pessoas que estão longe, são pequenas, e vice-versa. E essa visão é reconstruída de forma a reconhecermos essa alteração da realidade, já que todas as pessoas apresentam um tamanho similar. Todo conhecimento é uma tradução, que é seguido de uma reconstrução, e ambos os processos oferecem o risco do erro. Existe um outro ponto vital que não é abordado pelo ensino: a compreensão humana. O grande problema da Humanidade é que todos nós somos idênticos e diferentes, e precisamos lidar com essas duas ideias que não são compatíveis. A crise no ensino surge por conta da ausência dessas matérias que são importantes ao viver. Ensinamos apenas o aluno a ser um indivíduo adaptado à sociedade, mas ele também precisa se adaptar aos factos e a si mesmo.

O que é a transdisciplinaridade, que defende a unidade do conhecimento?

As disciplinas fechadas impedem a compreensão dos problemas do mundo. A transdisciplinaridade, na minha opinião, é o que possibilita, através das disciplinas, a transmissão de uma visão de mundo mais complexa. O meu livro “O homem e a morte” é tipicamente transdisciplinar, pois busco entender as diferentes reações humanas diante da morte através dos conhecimentos da pré-história, da psicologia, da religião. Eu precisei fazer uma viagem por todas as doenças sociais e humanas, e recorri aos saberes de áreas do conhecimento, como psicanálise e biologia.

Como a associação entre a razão e a afetividade pode ser aplicada no sistema educacional?

É preciso estabelecer um jogo dialético entre razão e emoção. Descobriu-se que a razão pura não existe. Um matemático precisa ter paixão pela matemática. Não podemos abandonar a razão, o sentimento deve ser submetido a um controle racional. O economista, muitas das vezes, só trabalha através do cálculo, que é um complemento cego ao sentimento humano. Ao não levar em consideração as emoções dos seres humanos, um economista opera apenas cálculos cegos. Essa postura explica em boa parte a crise económica que a Europa está vivendo atualmente.

A literatura e as artes deveriam ocupar mais espaço no currículo das escolas? Porquê?

Para se conhecer o ser humano, é preciso estudar áreas do conhecimento como as ciências sociais, a biologia, a psicologia. Mas a literatura e as artes também são um meio de conhecimento. Os romances retratam o indivíduo na sociedade, seja por meio de Balzac ou Dostoiévski, e transmitem conhecimentos sobre sentimentos, paixões e contradições humanas. A poesia é também importante, nos ajuda a reconhecer e a viver a qualidade poética da vida. As grandes obras de arte, como a música de Beethoven, desenvolvem em nós um sentimento vital, que é a emoção estética, que nos possibilita reconhecer a beleza, a bondade e a harmonia. Literatura e artes não podem ser tratadas no currículo escolar como conhecimento secundário.


In: O Globo via FB

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Escolas vão contratar mais psicólogos neste ano lectivo

O secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, João Casanova de Almeida, assinou um despacho que permite a contratação de 214 psicólogos para o ano letivo de 2014/2015. O anúncio foi feito nesta sexta-feira pelo Ministério da Educação e Ciência, que garante que este número resulta de uma avaliação da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares às necessidades do sistema.

O executivo entende que estão reunidas as condições para que os 214 profissionais possam estar nas escolas no início do ano letivo. “O número de psicólogos a contratar será superior ao do ano anterior, 181, o que representa um aumento de 33 técnicos”, acrescenta a tutela em comunicado.

Os psicólogos a contratar juntam-se aos 424 que já fazem parte dos quadros dos estabelecimentos de ensino, segundo números fornecidos pelo ministério. E aos 140 que as escolas com contratos de autonomia ou integradas em Territórios Educativos de Intervenção Prioritária poderão contratar sem que para isso seja necessário um despacho do secretário de Estado.

Com este reforço, o ministério diz que 71% das escolas ou agrupamentos passam a ter um ou mais técnicos de psicologia ao seu serviço, a tempo inteiro (contra 64% no ano letivo 2013/14). Os restante 29% têm apenas um psicólogo a meio tempo. Fica assegurada, diz o comunicado, “uma cobertura integral” dos agrupamentos e escolas não agrupadas.

“Os estabelecimentos de ensino já receberam informação sobre o número de técnicos a contratar e na próxima semana será aberta a plataforma da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares para que as escolas iniciem os procedimentos necessários à sua contratação", informa o ministério.

Cérebros de crianças autistas possuem demasiadas sinapses, segundo estudo

Um novo estudo veio lançar uma nova luz sobre o funcionamento do cérebro no autismo, ao sugerir que há um excesso de sinapses em pelo menos algumas partes dos cérebros de crianças autistas, e que a capacidade do cérebro de reduzir o número dessas sinapses é comprometida.

A descoberta fornece pistas sobre como o autismo se desenvolve na infância e poderá ajudar a explicar alguns dos sintomas, como a sensibilidade excessiva a ruído ou experiências sociais, bem como os ataques epiléticos. Também poderá ajudar os cientistas na busca de tratamento, se puderem desenvolver terapias seguras para consertar o sistema usado pelo cérebro para eliminar as sinapses excedentes.

O estudo, publicado quinta-feira na revista Neuron, envolveu tecido dos cérebros de crianças e adolescentes que morreram com idades entre os 2 e os 20 anos. Cerca da metade das crianças tinha autismo, as outras não.

Os investigadores, do Centro Médico da Universidade de Columbia, observaram atentamente para uma área do lobo temporal do cérebro envolvido no comportamento social e na comunicação. Ao analisar o tecido de 20 dos cérebros, contaram as dendrites nos neurónios e encontraram-nos em maior quantidade nas crianças com autismo. As dendrites ramificam-se de um neurónio e recebem sinais de outros neurónios através de conexões chamadas sinapses, de modo que mais dendrites indicam mais sinapses.

No desenvolvimento saudável do cérebro, há uma explosão de sinapses muito cedo e depois tem início um processo de «poda» (diminuição das sinapses). Esse processo é necessário para assegurar que diferentes áreas do cérebro possam desenvolver funções específicas e não fiquem sobrecarregadas de estímulos.

A equipa de Columbia descobriu que nas idades mais jovens, o número de dendrites não difere muito entre os dois grupos de crianças, mas os adolescentes com autismo possuem significativamente mais que aqueles sem autismo. Jovens saudáveis de 19 anos tinham 41% menos sinapses do que crianças pequenas saudáveis, mas os autistas no final da adolescência apresentavam apenas 16% menos do que as crianças pequenas com autismo.

Uma criança com autismo que tinha 3 anos quando morreu tinha muito mais sinapses do que qualquer criança saudável de qualquer idade, explicou David Sulzer, neurobiólogo e principal investigador do estudo.

Os especialistas disseram que o facto de as crianças pequenas de ambos os grupos apresentarem aproximadamente o mesmo número de sinapses sugere um problema de «poda» no autismo, não um problema de produção excessiva.

«Mais não significa melhor quando se trata de sinapses, e a ´poda` é absolutamente essencial», disse Lisa Boulanger, uma bióloga molecular de Princeton, que não esteve envolvida na pesquisa. «Se fosse um crescimento excessivo, a expectativa é de que elas seriam diferentes desde o início, mas como a diferença de sinapses ocorre posteriormente, trata-se provavelmente da ´poda`».

A equipa de Sulzer também encontrou biomarcadores e proteínas nos cérebros com autismo, refletindo mau funcionamento nos sistemas de remoção de células velhas e degradadas, um processo chamado autofagia.

«Eles mostram que esses marcadores de autofagia diminuem» nos cérebros afectados pelo autismo, disse Eric Klann, um professor de ciência neural da Universidade de Nova Iorque. «Sem a autofagia, essa ´poda` não pode ocorrer», disse.

As descobertas são as mais recentes numa área da pesquisa do autismo que está a atrair um interesse crescente. Há anos que os cientistas debatem se o autismo é um problema de cérebros com conectividade insuficiente ou excessiva, ou alguma combinação.

Ralph-Axel Müller, um neurocientista da Universidade Estadual de San Diego, disse que há crescente evidência de conectividade excessiva, inclusivamente a partir dos estudos de imagens do cérebro que conduziu.

«As deficiências que vemos no autismo parecem ocorrer em diferentes partes do cérebro, conversando demais umas com as outras», disse. «É preciso perder parte dessas conexões para um desenvolvimento ajustado do sistema das redes cerebrais, porque se todas as partes do cérebro conversarem com todas as partes do cérebro, só se obtém ruído, não comunicação», explicou.

Mais sinapses também criam oportunidade para ataques epilépticos, porque há sinais eléctricos em excesso a ser transmitidos no cérebro, prosseguiu Klann. Mais de um terço das pessoas com autismo tem epilepsia, acrescentou.

In: Diário Digital por indicação de Livresco

O sonho comanda a vida. Não é só poesia, é um facto científico

Na infância é a fantasia que dita as regras. Acordar um dia com vontade de ser médico, mudar para professor horas depois e chegar ao final da semana com a certeza de que se vai ser bombeiro. A imaginação de uma criança não tem limites, diz o senso-comum. Mas quantos cresceram a ouvir não ser possível andar com a cabeça nas nuvens o resto da vida? Os que acreditaram nessa lengalenga dos adultos podem chegar à conclusão que, se calhar, tudo não passou de uma história da carochinha. A ciência tem vindo a demonstrar que essa mentalidade pode no futuro ser mais prejudicial do que benéfica.

Usar os aspetos positivos da imaginação poderá superar o lado negativo. Há vários estudos a apontar nesse sentido e, por isso, da próxima vez que alguém o recriminar por viver na lua, rebata as críticas com provas científicas. Investigações na área da psicologia cognitiva já mostraram que sonhar durante o dia é um forte indicador de um cérebro ativo e bem apetrechado para lidar com os desafios do quotidiano.

Mentes que vagueiam sem rumo e a qualquer hora são as que melhor lidam com uma rotina acelerada e cheia de imprevistos. É aquilo que os cientistas chamam de memória de trabalho e que se caracteriza pela capacidade de manter e recordar a informação perante condições adversas. É isso pelo menos que conclui o estudo da Universidade de Wisconsin publicado na revista Psychological Science.

Nada como um caso prático para se perceber o que estes cientistas estão a tentar provar. Imagine que deixou a casa de um amigo a altas horas da noite e prometeu ligar-lhe assim que chegasse ao seu apartamento. Pelo caminho pára num posto de gasolina, enche o depósito e continua o seu percurso até se deparar com um acidente na estrada. Sai para ver se precisam da sua ajuda, chama o 112 e espera pela ambulância. Chega a casa quase ao amanhecer e, ainda assim, lembra-se de ligar ao seu amigo para dizer que chegou são e salvo. Essa é uma capacidade que os psicólogos atribuem à memória de trabalho e que permite manter ou recuperar a informação enquanto ela nos for útil.

Neste estudo, os investigadores americanos procuram perceber a relação entre a capacidade de memória de trabalho e a tendência para sonhar acordado. E concluíram que quem sonha acordado tem maior habilidade para se concentrar em ambientes que exigem estar atento a múltiplos impulsos. São aqueles por exemplo que estão no duche, no autocarro, a tomar a bica e já estão a resolver uma série de problemas associados à rotina do trabalho. Já antes se tinha constatado que a memória de trabalho está ligada aos mais altos QI, mas este estudo demonstra que esta habilidade está interligada à capacidade de pensar ou reagir além das nossas imediações.

Durante décadas, a imaginação foi encarada como o escape das crianças que se esfuma assim que crescem e são obrigadas de lidar com o mundo real. Mas cada vez mais os investigadores reconhecem a importância do papel da fantasia na inteligência emocional e até no raciocínio lógico. O Children's Research Laboratory, da Universidade do Texas em Austin fez uma série de estudos que envolveram o Pai Natal, a fada dos dentes e 91 crianças encafuadas num laboratório. O objetivo passou por analisar a partir de que idade as crianças são capazes de distinguir entre figuras reais e fictícias.

O desafio passou por perceber porque é que as crianças de três anos, que até sabem distinguir o real da fantasia, continuam aos 8 anos ainda a acreditar no Pai Natal. Os investigadores descobriram que enquanto os miúdos de 3 anos percebem o conceito do que é real e não é, quando chegam aos 7 são facilmente persuadidos pelos argumentos dos adultos. Do ponto de vista da lógica, fará todo o sentido acreditar no Pai Natal. Nunca o viram em carne e osso, mas o certo é que as prendas aparecem debaixo da árvore de Natal. Uma criança de 5 anos tem a capacidade cognitiva de juntar estes factos e só retiram conclusões erradas porque foram deliberadamente enganadas pelos pais. Essa capacidade de relacionar diferentes aspectos que dão consistência à fantasia é o que vai permitir perceber melhor o mundo real dos adultos.

Embora seja importante não é obrigatório que os pais encorajem a fantasia nos seus filhos, avisam os investigadores. Se a criança já tem um amigo imaginário ou se já está predisposta a acreditar no pai natal, deve ser estimulada, aconselha a coordenadora do estudo, Jacqueline Woolley. Quando as crianças começam a questionar a veracidade destas personagens, o principal é perceber até onde vai seu cepticismo. Se as dúvidas forem sólidas, o melhor é abrir o jogo e aceitar que chegou o momento da verdade.

A relação entre a memória, a imaginação e a empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro) é uma outra tese científica actualmente defendida pelos psicólogos e neurocientistas. Ao longo de décadas, os estudos sobre estes três campos evoluíram de forma isolada. Daí que a tendência que uma pessoa tem para se preocupar com os outros raramente está relacionada com a memória ou a capacidade de imaginar episódios ou acontecimentos nunca vividos. Os investigadores do departamento de psicologia da Universidade de Harvard sugerem que essas habilidades cognitivas podem estar ligadas.

A habilidade que se tem em imaginar experiências nunca vividas torna mais fácil a tarefa de entender o outro. Ou seja, desenvolve a empatia, facilita a capacidade para partilhar experiências e melhora as relações sociais. Conclusões que os investigadores querem continuar a estudar, mas que para já até nem são assim tão surpreendentes. Quem é capaz de imaginar algo pelo qual nunca passou também será capaz de perceber melhor o que os outros estão a passar.


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Subsídio por Frequência de Estabelecimento de Educação Especial

Formulário de requerimento para o ano letivo 2014/2015

Os formulários para requerimento do Subsidio por Frequência de Estabelecimento de Educação Especial, para o ano letivo 2014/2015, já se encontram disponíveis no Portal da Segurança Social:


Mod. RP 5020/2014-DGSS - Subsídio por Frequência de Estabelecimento de Educação Especial e
Mod. RP 5020/1/2014-DGSS - Declaração Médica.
Onde são entregues os requerimentos com a declaração médica


Crianças dos 0 aos 6 anos

Nas Equipas Locais de Intervenção do Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância.

Os contactos podem ser obtidos no microsite do Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância selecionando a opção “Rede de Serviços”.

Nos concelhos sem cobertura da Rede de Serviços do Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância, os requerimentos devem ser entregues nos Serviços da Segurança Social, exceto nos casos de crianças dos 3 aos 6 anos, que frequentem estabelecimentos de educação pré-escolar da rede pública.

Nestes casos, crianças dos 3 aos 6 anos que frequentem estabelecimentos de educação pré-escolar da rede pública, os requerimentos devem ser apresentados no respetivo agrupamento escolar.


Crianças e Jovens dos 6 aos 18 anos

No respetivo agrupamento escolar.

Jovens dos 18 aos 24 anos

Nos Serviços da Segurança Social.

In: Segurança Social via FB