sábado, 16 de março de 2024

Será que a preparação geral importa, no ensino profissionalizante?

Os investigadores Felipe Barrera-Osorio, Adriana Kugler e Mikko Silliman analisaram os efeitos do ensino profissional em participantes de cursos de diferentes áreas do setor dos serviços, como as vendas, a segurança ou a cozinha, divididos entre duas versões: uma que dava maior destaque à preparação técnica (100 horas de formação técnica e 60 horas de formação social), e outra, à preparação social (100 horas de formação social e 60 horas de formação técnica). A primeira privilegiou formação específica para cada área de estudo, enquanto a segunda privilegiou formação em temas como autoestima, ética do trabalho, competências organizacionais, interpessoais e de comunicação.

De acordo com os resultados agregados deste estudo, a frequência do ensino profissional resultou num aumento de 15% na empregabilidade, de 50% na probabilidade de ter um contrato de trabalho e de 19% no número de dias mensais e no número de horas semanais de trabalho. Relativamente às diferentes versões do curso testadas, os resultados mostraram um impacto positivo maior a curto prazo para quem frequentou a versão que mais destacava a preparação técnica, com um aumento de 0,15 pontos percentuais na probabilidade de ter um emprego, de 3,88 dias por mês e de 39 dólares no salário mensal. Para quem frequentou a versão que mais destacava as competências sociais, os aumentos foram de 0,11 pontos percentuais na probabilidade de ter um emprego, de 1,72 dias por mês e de 21 dólares no salário mensal. Contudo, após seis meses, o acréscimo de ganhos por ter frequentado os cursos mais centrados na preparação técnica esbate-se, assemelhando-se os benefícios no emprego e no salário aos de quem frequentou os cursos mais centrados nas competências sociais. Esta investigação conclui assim que a frequência do ensino profissional põe os seus graduados no setor formal do mercado de trabalho, aumentando o seu salário e empregabilidade, tanto a curto como a médio prazo.

No entanto, o contributo principal deste estudo está na análise ao impacto que diferentes preparações podem ter nas dinâmicas do mercado de trabalho. Neste aspeto, os resultados apontam para maiores benefícios de curto prazo em participantes de cursos mais centrados na preparação técnica, que se dissipam em cerca de 6 a 12 meses quando participantes de cursos mais centrados em competências sociais os alcançam em empregabilidade, salário e número de horas trabalhadas. Ou seja, sugere-se que a preparação técnica é útil para, num primeiro momento, encontrar mais rapidamente um emprego.

Contudo, a vantagem comparativa da preparação técnica acaba por se esbater com o tempo, ficando ao mesmo nível dos benefícios que decorrem da preparação social. Importa, porém, sublinhar que os autores não concluem que existem ganhos superiores entre participantes de cursos mais centrados em competências sociais: com o passar do tempo, os benefícios decorrentes da frequência do ensino profissional tornam-se semelhantes para as duas versões dos cursos. O que se dissipa são as vantagens iniciais da frequência da versão mais centrada na preparação técnica relativamente à versão mais centrada em competências sociais, cujos benefícios se mantêm estáveis ao longo do tempo.

Entre as razões que podem explicar estes resultados, os autores apoiam-se na literatura existente para apontar uma possível desatualização das competências técnicas com o passar do tempo e, ao mesmo tempo, sublinhar que as competências sociais — como as de comunicação ou trabalho em equipa — podem favorecer o desempenho das tarefas profissionais, a permanência nas posições e melhor adaptação a mudanças no mercado de trabalho.

Em suma, este estudo sugere que, no setor dos serviços, a preparação técnica é importante, mas que os jovens que desenvolvem capacidades de adaptação podem recuperar a prazo essa limitação. Quem frequente o ensino profissional, pelo menos em áreas de serviços, beneficia tanto da preparação técnica quanto da social. Os impactos são diferentes no início da carreira e ao longo dos primeiros tempos da vida ativa.

Inês Gregório

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