O desenvolvimento da tecnologia, com a primeira e segunda revoluções industriais, criou necessidades de educação que não existiam até então. O rápido crescimento dos sistemas de ensino que acompanhou estas revoluções levou à criação de gerações cada vez mais qualificadas, o que, por seu lado, criou condições para a redistribuição de riqueza que, de outra forma, não existiriam.
Durante os séculos XIX e XX, a educação foi vista como algo que se adquire enquanto se é jovem, sendo o paradigma mais comum a obtenção de um grau, médio ou superior, através da frequência escolar durante um período contínuo e prolongado, antes da entrada no mercado de trabalho. A terceira revolução industrial, com a introdução das tecnologias de comunicação e informação, e o rápido desenvolvimento destas tecnologias, veio colocar em causa este paradigma.
É já um facto que a formação académica que se adquire enquanto jovem corre o risco de ficar rapidamente desatualizada. Tal é especialmente verdade nas áreas mais tecnológicas, como a engenharia, mas é de facto comum a quase todas as áreas do conhecimento. De acordo com uma estimativa muito divulgada, 2/3 dos alunos que agora iniciam a sua formação escolar irão trabalhar em profissões que ainda não existem. Mais do que aconselhada, a formação ao longo da vida é essencial para manter a competitividade de uma carreira profissional.
Adicionalmente, a mobilidade do emprego, nas suas dimensões mais variadas, encarada com naturalidade nos profissionais mais jovens, faz com que muitas pessoas mudem de emprego ao longo da vida, incluindo muitas vezes uma mudança no setor de atividade e até na área de atuação. As pessoas sentem assim necessidade de obter formação ao longo da sua carreira profissional, para poder responder a esses desafios. Por outro lado, a necessidade que as empresas têm em formar equipas com colaboradores de áreas muito diversas para resolver os problemas emergentes numa sociedade de mudanças tecnológicas constantes e rápidas, cria também essa necessidade de formação contínua nas áreas mais variadas.
Com o advento da quarta revolução industrial, e a integração cada vez mais profunda das tecnologias de informação e comunicação no mundo real, em diversos setores, que vão dos transportes à saúde, passando pela produção industrial e pela distribuição, é cada vez mais essencial ver a educação como um processo contínuo, que deverá ter lugar ao longo de toda a carreira. Quem não se atualiza tecnologicamente corre o risco de perder oportunidades e competitividade no mercado de trabalho. A crescente penetração das tecnologias de informação e comunicação em todas as áreas tem gerado novas necessidades, que vão desde a implementação destas tecnologias até à obtenção de informação a partir de conjuntos de dados cada vez maiores. A expansão rápida e crescente de novos paradigmas tecnológicos promete revolucionar quase todos os setores de atividade. Existem neste momento milhares de posições, por preencher, para especialistas em engenharia de software, sistemas de informação, segurança e análise de dados, entre outros, que estão acessíveis a qualquer profissional qualificado e atualizado. Ao mesmo tempo, milhares de pessoas com formação inadequada têm dificuldades em encontrar emprego. Os MBAs (Masters of Business Administration), que durante muito tempo foram a escolha mais natural para obter uma formação adicional e ganhar competitividade, já não detêm o exclusivo de fornecer as competências mais desejadas pelos empregadores, que precisam de profissionais competentes e tecnologicamente atualizados.
Foi com base nesta análise que o Instituto Superior Técnico decidiu desenvolver e promover um conjunto de cursos de formação ao longo da vida, numa iniciativa que virá a abranger diversas áreas da engenharia e da tecnologia onde a evolução tecnológica exige uma atualização cada vez mais permanente. Neste contexto, estão já em funcionamento três cursos de pós-graduação que focam algumas das mais recentes tendências tecnológicas: Cibersegurança; Engenharia Empresarial para a Transformação Digital; Engenharia de Software e dos Sistemas de Informação Empresariais. Esta formação será progressivamente alargada a outras áreas relevantes para a quarta revolução industrial, como a engenharia mecânica, civil, electrotécnica, biomédica e gestão industrial. Entendemos que, face às enormes necessidades do mercado de trabalho, a criação destes cursos satisfaz uma necessidade premente do país, das suas empresas e dos seus cidadãos. O Instituto Superior Técnico dá, assim, a sua contribuição para o que deverá tornar-se um desígnio nacional: iniciar uma revolução na educação que permita adequar as competências dos portugueses às necessidades atuais e futuras do mercado e da sociedade.
Arlindo Oliveira
Presidente do Instituto Superior Técnico
Fonte: Público
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