O colorADD, um sistema de identificação de cores para daltónicos nasceu em Portugal pela mão do designer gráfico português, Miguel Neiva. “Surgiu por ignorância”, confessa, dizendo que todos os anos quando ia ao oftalmologista perguntava se estava a ficar daltónico. “Nunca me disseram que, se não nasci daltónico, nunca o seria.”
Além disso, sempre acreditou que o design tinha a competência e a nobre missão de poder fazer o mundo melhor. “Se alguma vez imaginei o impacto que isto teria — a criação de cinco símbolos e como os que relacionei, não de todo!”, admite, dizendo que a sociedade teve um importante papel também ao ajudar a passar a palavra.
A sua missão é tentar levar o código a oito mil milhões de pessoas porque não sendo uma doença visível, não se sabe onde estão. Para Miguel Neiva somos condescendentes com aquilo que vemos, com o que não vemos, o juízo de valor é muito depreciativo.
Já estão em 2000 escolas e trabalharam diretamente com mais de 50 mil crianças. E, apesar do direito ao código passar por um licenciamento, este é gratuito para a educação. “A educação é um pilar de desenvolvimento. São as crianças que vão fazer o mundo melhor amanhã, por isso a cor tem de chegar a todos.”
Em 2014, Miguel Neiva criou a ColorADD Social, uma associação que tem auxiliado a comunidade educativa, com programas nas escolas que ajudam a entender esta limitação e quais os constrangimentos de um daltónico no dia-a-dia. Inclusivamente possibilitam aos alunos experienciar a visão daltónica através de uns óculos.
Colocar-se no lugar do outro é fundamental para se perceber o seu problema, além de se aprender a viver com a diferença. “Uma criança daltónica é, em muitos casos, vítima de bullying. Até por parte do professor. Não por este querer, mas por não entender porque é que ele pega no lápis vermelho para pintar uma árvore, ou porque não entende um mapa”, exemplifica. Miguel Neiva diz que estes “doentes” não se queixam, principalmente os do sexo masculino — onde a doença é mais incidente, por isso quem com eles convive muitas vezes nem se apercebe que são portadores de daltonismo.
Este é um projeto de inovação social. “A área social tem de fazer parte da economia e acredito que é possível fazer o bem e ganhar dinheiro. Se a sociedade tomar consciência disso não tenho dúvida de que teremos os melhores do mundo a trabalhar do lado do bem.” No entanto, o empreendedor social adverte que não se pode querer que estes negócios se desenvolvam à velocidade de uma start up tecnológica. "Estamos a falar de um setor que tem de desmontar alguns paradigmas culturais, como a sustentabilidade e a independência dos projetos.”
Para Miguel Neiva é fundamental a profissionalização no setor social. “As coisas não podem ser feitas apenas com a emoção e paixão do indivíduo. Temos de encarar tudo isto com profissionalismo”.
O criador do colorADD chegou, em 2015, a recusar investimento de capitais de risco “por não saber o que fazer com aquele dinheiro”. Em 2021, no momento certo, quando se sentiram "preparados” tiveram apoio de fundos para iniciar o processo de internacionalização. Um percurso feito de sucesso, mas quando lhe perguntamos o que ainda falta fazer, Miguel Neiva, responde rápido: “Falta fazer tudo o que falta fazer. É um desafio interessante!”
Oiça aqui o podcast Ser ou Não Ser
Fonte: SIC Notícias por indicação de Livresco
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