sexta-feira, 19 de abril de 2019

Vera Almeida: aventureira improvável

(Foto: Rui Oliveira/Global Imagens)

Visitou museus e monumentos, andou de funicular e de avião várias vezes, viajou de comboio, autocarro, elétrico, metro, táxi, barco. 40 anos de vida e 40 cidades de 25 países. Vera Almeida, a cadeira de rodas e duas assistentes pessoais.

“Foi uma experiência deveras exigente, quer física, quer psicologicamente. Seis meses longe da família e dos amigos, longe do meu cantinho e da falsa sensação de segurança que me transmite. Mas não trocava esta vivência por nada. Regressei cheia de histórias para contar, cheia de conhecimentos para partilhar e muito, mesmo muito, orgulhosa de mim mesma por ter levado a ousada aventura a que me propus até ao fim.”

Dependente da cadeira de rodas desde sempre – nasceu com uma distrofia muscular congénita -, Vera nunca baixou os braços. É técnica de estatística em recursos humanos numa empresa de distribuição alimentar em Coimbra e está no 3.º ano de Canto. É mestre em Gestão de Recursos Humanos e Comportamento Organizacional, estudou Inglês na Universidade de Reading e Inglês, Cultura e Língua na Universidade de Kent, ambas em Inglaterra.

Viu muita coisa, ficou desapontada nos países nórdicos e surpreendida na Grécia, em Espanha e em Itália. “Aprendi que o mito de excelência dos países nórdicos não passa mesmo de um mito. Nas cidades de Oslo, Estocolmo, ou mesmo Helsínquia, não encontrei nada que suplantasse aquilo que encontrei nas cidades gregas, italianas ou espanholas.”

A plataforma elevatória mais funcional que viu está à entrada do Museu de Joalharia Ilias Lalaounis, em Atenas. Ficou agradada com a assistência para entrar e sair de comboios em Itália e em Espanha. “Por toda a Europa, encontrei ruas empedradas, linhas do elétrico ou pequenas reentrâncias para escoamento de águas a atravessar os passeios pedonais que causam grande trepidação e desconforto a quem se desloca em cadeira de rodas. Encontrei passeios obstruídos com esplanadas, cartazes publicitários, caixotes do lixo.”

A viagem começou e terminou no Porto. Esteve, entre outras cidades, em Dublin, Estocolmo, Cracóvia, Budapeste, Istambul, Atenas, Roma, Praga, Berlim, Copenhaga, Amesterdão, Paris e Madrid. “Conheci outras culturas, outras gastronomias, outros modos de vida. Testei os meus limites. Combati os meus medos, desafiei os meus preconceitos. Aprendi a viver apenas com aquilo que tinha na mala.”

Ouviu orações em mesquitas de Istambul debaixo de trovoada, viu a força da Catarata de Gulfos na Islândia, subiu de funicular para ver a beleza dos Alpes suíços, esteve nos campos de concentração de Auschwitz e Birkenau, percorreu o Memorial aos Judeus Mortos da Europa em Berlim. O seu aniversário foi o motivo, as acessibilidades a causa. Vera está sempre pronta para, como diz, “dar corda aos sapatos”.

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