Fundada em 1971, a instituição de ensino e de acolhimento de Canton, nos arredores de Boston (estado de Massachusetts), aplica há quase três décadas um método controverso conhecido como terapia de aversão, expondo as crianças e jovens adultos com necessidades especiais a choques elétricos associados a certos estímulos, de forma a controlar os riscos de comportamento agressivo.
Os alunos da instituição têm de andar com aparelhos conhecidos como GED's, que descarregam choques elétricos até 41 milliamps, dez vezes mais do que a corrente presente na maioria das armas de choques elétricos comercializadas para defesa pessoal. As descargas elétricas são feitas para as pernas, braços, mãos, pés, dedos ou dorso através de elétrodos colocados na pele dos estudantes.
Esta metodologia polémica tem levantado críticas e protestos ao longo dos últimos anos e o The Judge Rotenberg Center já enfrentou mesmo alguns processos em tribunal após queixas de familiares, mas a atividade e os métodos da instituição mantêm-se.
Agora, está em marcha uma petição internacional suportada por vários grupos de advogados e liderada pela Disability Rights International (DRI), uma organização de defesa dos direitos do homem focada nos problemas das pessoas com necessidades especiais, que apela a uma decisão federal nos EUA que ponha fim ao que o grupo apelida de "tortura".
Os promotores da petição escreveram uma carta à Organização dos Estados Americanos (OAS), uma entidade pan-americana sediada em Washington e da qual fazem parte 35 países, entre os quais os EUA, a requerer a intervenção dessa organização junto de Donald Trump para que seja emitida uma ordem federal a banir a terapia aversiva com choques elétricos usada pela instituição do Massachusetts.
"Não era aceitável em Guantánamo"
"Isto é um abuso de crianças patrocinado pelo Estado. Parem a tortura. Não era aceitável em Guantánamo, mas é aparentemente aceitável numa escola de cuidados especiais", critica Laurie Ahern, presidente da DRI, citada pelo jornal britânico The Guardian. "O governo americano deveria preocupar-se profundamente com uma forma de tortura que é aplicada a crianças vulneráveis em território dos EUA"
Os choques são administrados pelos cuidadores da instituição, que monitorizam a atividade das crianças através de câmaras de vídeo espalhadas por todo o centro e utilizam controlos remotos para acionar os choques. Estes duram até dois segundos e têm como objetivo desencorajar comportamentos agressivos ou perigosos.
Os protestos contra os tratamentos utilizados na escola dos arredores de Boston irromperam de forma mais veemente em 2012, quando foi divulgado um vídeo de um adolescente de 18 anos a receber 31 choques elétricos enquanto estava amarrado. Mas a instituição, fundada pelo psicólogo Matthew Israel, defende o método como necessário. "Os residentes não podem ser efetivamente tratados de outra forma", escreveu, ao The Guardian, defendendo o uso da dor como "seguro e necessário". "Os benefícios desta terapia são amplamente superiores aos seus riscos", acrescenta o centro.
Em julho passado, os métodos do The Judge Rotenberg Center foram autorizados por um tribunal, que recusou o pedido do governador do Massachusetts para que fossem decretados ilegais os choques aplicados às crianças e jovens da instituição. Na sentença, o juiz considerou que o Estado "não conseguiu demonstrar que as práticas utilizadas não estão conforme o padrão aceite no tratamento de pessoas com deficiência intelectual e de desenvolvimento".
Fonte: DN
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