quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Pequenos grandes sucessos



Educação especial por vocação. Professores contam experiências de alegrias e obstáculos para contornar. As conquistas têm outro sabor.
Foi na oficina de comunicação vocacionada para alunos com dificuldades de leitura e de escrita, e quando ainda era professora de Português, que o interesse veio ao de cima. Rosalina Sousa, 22 anos como professora no ensino regular, há seis na educação especial, é agora responsável por um centro de recursos de novas tecnologias, que avalia e acompanha alunos com necessidades educativas especiais para adequação de tecnologias de apoio, em cinco concelhos do distrito de Aveiro. Uma avaliação feita em vários momentos para ser mais rigorosa. "Sempre tive vocação para alunos com necessidades educativas especiais, senti que gostava de trabalhar com eles, encontrar estratégias diversificadas para respostas diferentes", revela.

Aprender para adquirir mais competências nesse campo. "Senti, como professora do ensino regular, que precisava de mais formação." Não tardou a especializar-se na área e a dedicar-se aos alunos especiais. Neste momento, frequenta o segundo ano do mestrado em Educação Especial. O trabalho que desenvolve tem, por vezes, vários sorrisos estampados nos rostos. "Há muitas alegrias, valorizamos muito mais cada pequeno sucesso." O apoio é personalizado. "É uma gratificação maior do que quando se tem alunos sem dificuldades", admite. Há também obstáculos para contornar. "As dificuldades poderão ser encontrar estratégias que levem ao sucesso dos alunos." Rosalina Sousa não se arrepende da opção de entrar na educação especial e sente-se compensada por um trabalho que é feito em equipa. "É mais desafiante, temos de encontrar mais meios e estar sempre a experimentar para o sucesso do aluno."

Graça Oliveira é coordenadora da educação especial de um agrupamento de Santa Maria da Feira, coordenadora de agrupamento de referência de intervenção precoce que abrange três concelhos e dá apoio directo a alunos com necessidades educativas especiais. Antes disso, foi professora de apoio em escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico. Trinta e um anos de ensino, 15 dos quais na educação especial, uma especialização em deficiência mental e motora. Foi professora de Trabalhos Manuais numa CERCI e foi aí que nasceu o gosto pela área. "Os pequenos sucessos tornam-se grandes sucessos. Para uma criança com necessidades educativas especiais qualquer ganho significa um esforço muito grande e sente-se compensada por isso."

As escolas estão despertas para o acompanhamento dos alunos que, de facto, precisam? "Têm de estar, a partir do momento em que as crianças começam a ser integradas." "Há um longo caminho a percorrer para chegar à inclusão, mas as crianças estão integradas." A falta de recursos humanos é um dos principais problemas. Seis educadoras percorrem instituições, escolas e ainda vão ao domicílio em três concelhos. "Para os casos que temos de apoiar, e tendo em conta a burocracia, os recursos humanos são poucos."

Jorge Silva está há 16 anos na educação especial num total de 30 anos de ensino no 1.º ciclo. "Estes alunos precisam de muito carinho e que se insista muito com eles. É preciso muita paciência para lidar com eles." O docente considerou que tinha perfil para trabalhar com alunos com necessidades educativas especiais e outros problemas e especializou-se em deficiência mental. "Achei que tinha características para lidar com esses alunos." Hoje fica contente quando assiste a pequenas evoluções. A pequeninos passos que têm uma enorme importância. "Alguns alunos, que não tinham grandes expectativas, conseguem ultrapassar as dificuldades e, nesse sentido, atingem os objectivos."

Alunos que precisam de compreensão e de ajuda para encarar a vida e enfrentar a sociedade. Jorge Silva confessa que tem tido experiências positivas no seu percurso. Alunos que desenvolvem um "talento" que estava adormecido. A maior preocupação reside na falta de recursos humanos e físicos. "A educação especial continua a ser encarada como um parente pobre no ensino", repara.

"Tive uma turma do 1.º ciclo em que tinha alunos muito difíceis de lidar. Senti necessidade de aprender, de saber mais alguma coisa e optei por saber mais." Graça Pereira especializou-se em deficiência auditiva e agora coordena uma escola de referência para ensino bilingue a alunos surdos do pré-escolar ao 1.º ciclo de seis concelhos do norte do distrito de Aveiro - com 23 alunos surdos neste momento. Está há 28 anos no ensino, oito dos quais na educação especial, com bastante dedicação. "Os sucessos são mesmo pequenos, mas qualquer coisa que as crianças consigam é muito importante". Falta de material adequado é um dos principais problemas do dia-a-dia.

2 comentários:

Atena disse...

... Olá, só de passagem por aqui - (como todos os dias) - para enaltecer especialmente estes relatos de colegas seus. Como vos admiro e como nós pais especiais, precisamos de vcs, do vosso empenho e do carinho que dedicam aos nossos filhos! Não me canso de elogiar e divulgar este seu blog... Obrigada e grande abraço, Cristina Franco

João Adelino Santos disse...

Olá Cristina.
Agradeço as suas palavras encorajadoras. Penso que cada um de nós, professores, sobretudo de educação especial, tentamos fazer o melhor que sabemos e podemos pelos alunos! As barreiras são imensas! Mas com empenho, dedicação, alguma utopia, vai-se levando "o barco a bom porto"! Abraço. Volte sempre! João Adelino Santos