Uma mãe não trabalha para ir à escola dar insulina à filha. Outra tem de levar a criança à casa de banho porque na escola não há quem o faça. Para muitos pais, a educação inclusiva só existe no papel.
Já há quase dois anos que Mateus não vai à escola. Tem uma doença rara, diabetes tipo 1 e atraso no desenvolvimento. Quando foi diagnosticado com diabetes, a escola disse aos pais que o menino, com três anos na altura, escusava de voltar porque não tinham “capacidades para lidar” com a doença. Como a instituição privada “não o queria lá”, os pais de Mateus optaram por removê-lo do estabelecimento de ensino, decidiram deixar a criança aos cuidados dos avós e começaram a procurar uma escola para o ano lectivo seguinte – uma tarefa que se revelou difícil de concretizar.
Aos olhos dos colégios privados que não se disponibilizaram para o acolher, era visto quase como “um extraterrestre” ou um “incómodo”, admite a mãe, Maria. “Quando começámos a procurar uma escola, ninguém o queria.” As vagas existiam, mas “não existiam para ele”. “No privado, têm os rankings e lá não querem os alunos que fujam ao normal.”
Maria sabe que a escola pública, “obrigada a receber” Mateus, acolhia-o de braços abertos, mas temia que o filho “fosse colocado num canto” e que não recebesse o acompanhamento devido, tal como viu acontecer com jovens com necessidades específicas na instituição de ensino público frequentada pelo filho mais velho. Maria chegou inclusive a questionar a escola se os terapeutas da criança poderiam ajudá-la ao nível da integração. “Disseram-me que, se os terapeutas quisessem vir, teriam de ficar à porta.” Foi assim que os pais de Mateus decidiram, mais uma vez, optar pelo ensino privado.
De acordo com o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, Manuel Pereira, “as crianças são a prioridade” nas escolas portuguesas. Como tal, “têm de ser encontradas soluções para acompanhar qualquer aluno”. Ainda assim, esta tarefa “não é nada fácil”, principalmente quando as instituições de ensino têm “recursos insuficientes”.
Os pais de Mateus foram a diversas entrevistas, apelaram à boa vontade de mais de 20 escolas, mas, quando estas ouviam a palavra “diabetes”, viravam as costas. “Ninguém o queria em lado nenhum”, revela a mãe. Maria ponderou “seriamente” deixar o emprego e ficar em casa para ensinar Mateus. No entanto, não foi preciso darem este passo, porque conseguiram encontrar uma “excepção à regra” — um colégio disponível não só para aceitar Mateus em Setembro, mas também para dar resposta às respectivas necessidades. (...)
Continuação da notícia em Público, por indicação de Livresco
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