sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Cada professor é um líder dentro da sua sala de aula

O despacho 6605-A/2021 de 6 de Julho traz de regresso a simplicidade de um ponto de partida onde sabemos que estamos num início limpo e certo, sem a finura da rede de subcompetências específicas dentro dos grandes alvos a conseguir. Mais um passo na autonomia das escolas e na adequação do currículo a cada local, a cada turma, a cada aluno.

Cada escola tem a sua especificidade de acordo com a sua população. Quando o professor planifica a aula e prepara os recursos e instrumentos que pensa usar com os seus alunos, o seu pensamento está no que quer que eles aprendam. A pergunta terá de ter o foco no sujeito da aprendizagem, o aluno, e não no professor, o sujeito que ensina. O que precisa de aprender o aluno? Cada contexto, com os seus actores principais, o que precisam eles de aprender? O que é essencial, o que lhes vai trazer benefícios reais e mais-valias? Os alunos e as famílias são os clientes das escolas. Dentro daquilo que todos precisam, a questão que o professor coloca é: O que precisam os meus clientes? Por exemplo, dentro da grande competência da leitura, o que precisam os meus alunos de ler, desde o início da escolaridade? O que faz mais sentido? Qual o seu ponto de partida? O que tenho de preparar para que seja um percurso enriquecedor de aprendizagens maiores?

O desafio colocado é para os professores, para os coordenadores, para os directores. Para as lideranças da escola. Cada professor é um líder dentro da sua sala de aula. Todas as empresas têm pelo menos dois clientes, um deles é sempre o intermediário ou beneficiário a médio ou longo prazo dos bens e benefícios gerados e outro é o consumidor final. Os alunos, enquanto consumidores finais desejam estar motivados e envolvidos no seu próprio desenvolvimento, o que lhes proporciona bem-estar e felicidade, mesmo que não tenham essa consciência.

Os pais desejam que os filhos façam o seu percurso de aprendizagem e de autonomia, que aprendam o que precisam para se enriquecerem e que lhes permita, a longo prazo, terem competências e capacidades para se bastarem a si próprios, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade. Em suma, poderem ser os melhores para o mundo. Tal como os filhos, os pais também devem estar motivados, comprometidos com a aprendizagem e felizes.

Estamos a falar de equidade, dar a cada um o que precisa dentro daquilo que é essencial. A equidade faz parte da missão da escola. Dar autonomia às escolas para cumprir a missão, através das estratégias e recursos para servir melhor a sua população, é poder permitir que cada escola trabalhe de acordo com a sua realidade e potencialidades e não nivelar para elencar por critérios uniformes de saídas de aprendizagem.

Esta é mais uma oportunidade para olhar cada escola, cada unidade escolar, como uma célula autónoma e simultaneamente interdependente no sistema educativo. Pensando no que os alunos precisam de aprender e não naquilo que eu, professor, preciso de lhes ensinar, a mudança de actores principais no processo ensino aprendizagem passa a ser uma realidade. E quando satisfazemos necessidades, o interesse e a utilidade visível do que estamos a fazer torna-se a mola para mais desenvolvimento. Para sabermos o que eles precisam de aprender, quais são as suas necessidades, precisamos primeiro de os conhecer — saber de onde vêm, quem são as suas famílias, o seu contexto, quais são as suas crenças e ambições.

Outra grande pergunta para que esta parceria resulte é perceber o que cada família e cada aluno espera da escola. Estamos a oferecer conhecimento que faz sentido? Óptimo, se não, o que temos de oferecer primeiro? Que caminho temos que percorrer previamente? Para o que tenho que os despertar? Qual é a porta de entrada? Sem qualquer dúvida que o currículo é determinante para a unidade de um sistema que naturalmente é diverso e que, por isso mesmo, confirma a sua unidade e riqueza.

Como desenvolveríamos os nossos alunos se todas as escolas fossem iguais? Este despacho contempla a diversidade dos alunos e dos seus contextos, a criatividade dos docentes e a autonomia das escolas. Um alerta para os líderes educativos.

Margarida Marrucho Mota Amador

Fonte: Público

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