quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Alunos precisam de mais competências digitais, escolas de mais equipamentos

 A utilização das tecnologias digitais no ensino em Portugal continua limitada. No 3.º ciclo, apenas 36% dos alunos usam um computador na escola para estudar; no secundário são 43%. Percentagens que estão abaixo da média da União Europeia (UE) de 52% e 59%, respetivamente. De acordo com o “International Computer and Information Literacy Study” (ICLIS), um estudo internacional sobre literacia digital, apenas 20% dos alunos portugueses inquiridos foram considerados “utilizadores independentes” de um computador. Ou seja, a grande maioria precisou de instruções diretas para executar tarefas básicas.

O relatório “Monitor da Educação e da Formação 2020” publicado em novembro, pela Comissão Europeia, coleta dados de várias fontes nacionais e internacionais para fazer uma radiografia “digital” ao sistema educativo português. Consegue-o através da junção de uma série de indicadores, como o número de alunos por computador, a percentagem de professores que usam as tecnologias na sala de aula e que têm formação para tal e o nível de competências digitais da população.

Começando pelas escolas. Há cada vez mais professores a permitir aos alunos usar as tecnologias da informação e comunicação (TIC) em projetos ou trabalhos na sala de aula. Em 2018, eram 57%, em 2013 eram 34%, segundo o “Inquérito Internacional sobre Ensino e Aprendizagem” (TALIS, sigla inglesa), realizado pela Organização para a Cooperação Desenvolvimento Económico (OCDE).

Diz também o estudo da OCDE que 40% dos professores portugueses se sentem “bem” ou “muito bem” preparados para utilizar quaisquer meios técnicos para tratar informação e ajudar na comunicação no ensino. Respondem o mesmo, 42% dos professores dos 22 países da União Europeia (UE-22). No entanto, entre os professores portugueses que respondem ao inquérito, apenas 12% sentem uma grande necessidade de formação contínua nesta área, percentagem abaixo dos 18% da média europeia.

O relatório mostra que a percentagem de professores com formação para utilizar as TIC na sala de aula permaneceu estável entre os TALIS de 2013 e 2018: 47% face a 49%. Mas ela é mais elevada entre os professores mais novos, ou seja, aqueles que se formaram nos últimos cinco anos, situando-se nos 72%. Ainda assim, a percentagem de docentes aptos do ponto de vista da formação para lecionar recorrendo às TIC está muito abaixo da média da UE. O “Monitor da Educação e da Formação 2020” aconselha os professores a procurar mais formação para melhorar as competências digitais. O que até poderá ajudar a aumentar os níveis de confiança nas suas capacidades, que são baixos comparativamente aos seus congéneres europeus.

Escolas precisam de equipamentos
Se os alunos e os professores precisam de aumentar as suas competências digitais, as escolas também precisam de mais equipamentos. A Comissão Europeia adianta que nas escolas públicas localizadas no continente (excluindo os Açores e a Madeira) existe um computador para seis alunos no 1.º e 2.º ciclo do ensino básico. No 3.º ciclo e ensino secundário, existe um computador para quatro alunos. Nas escolas privadas o rácio é menor no 1.º e 2.º ciclo e ensino secundário e mais elevado no 3.º ciclo.

Olhando para os últimos três anos, percebe-se como “envelheceram” os equipamentos. Primeiro, regista-se o aumento do rácio aluno por computador nas escolas públicas. Ora, número de dispositivos não só diminuiu 28% como a percentagem de computadores com mais de três anos, ou seja, considerados “antigos”, aumentou de 64% para 85%. É o que revelam os dados do Conselho Nacional de Educação (CNE). No que toca ao estado da rede, 37% dos diretores de escola, ouvidos no âmbito do TALIS 2018, reportaram acesso insuficiente à Internet.

Da escola para o agregado familiar, como estão equipadas as casas dos alunos? “As restrições nas finanças públicas fizeram com que as famílias não recebessem apoios para investir em equipamento ou formação digital, ampliando os problemas de equidade”, confirma o “Monitor da Educação e da Formação 2020”. Facto que tornou o encerramento das escolas mais problemático para as famílias com menos rendimentos.

Com base em dados de um inquérito realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em novembro de 2019, a Comissão Europeia recorda que 5% das famílias com filhos até aos 15 anos não dispõem de acesso à Internet. Por outro lado, o INE estima que entre 50 a 70 mil alunos não tenham computador em casa. Representam cerca de 6% do total de alunos em Portugal. As discrepâncias entre alunos favorecidos e desfavorecidos são evidentes: 96% das famílias com rendimentos elevados têm computadores disponíveis em casa, por comparação a 41% das famílias desfavorecidas. Na UE a diferença é menor: 97% contra 67%, respetivamente.

A análise do “Monitor da Educação e da Formação 2020” sobre o estado do “digital” nas escolas não se faz sem um olhar para o número de alunos que optam por cursos de ensino superior ligados às tecnologias da informação e da comunicação e para as competências digitais da população.

O país assiste a um aumento do número de estudantes nos cursos das áreas das TIC e das ciências, mas ainda assim, alerta a Comissão Europeia, “o número de licenciados é baixo”. Mais de mil estudantes matricularam-se no primeiro ano em cursos ligados às ciências, matemática, estatística e TIC, entre os anos letivos de 2008/2009 e 2017/2018.

Em 2018, 3% do total de inscritos no ensino superior frequentava um curso de TIC e 6% estudavam ciências, matemática e estatística. Percentagens abaixo da média da UE-27 de 5% e 7%, respetivamente. Razão pela qual, no total de licenciados, a percentagem de estudantes que concluem estudos em TIC continua a ser das mais baixas de todas as áreas: 2%, comparativamente a 4% da UE, em 2017/2018.

Que deduzir dos níveis de competências digitais da população portuguesa? A Comissão Europeia afirma que são baixas, mas estão a melhorar. Faltam conhecimentos básicos nesta área a 48% da população e cerca de 26% não possui quaisquer competências digitais, segundo dados de 2019.

Fonte: Educare

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