O Conselho Nacional de Educação, pela Recomendação n.º 2/2015, publicada em Diário da República, pronuncia-se sobre a retenção escolar nos ensinos básico e secundário.
Do extenso texto, retiro alguns aspetos relativos à situação atual ao nível da organização da escola para o sucesso.
Esta necessidade de contextualizar medidas de promoção do sucesso escolar, que compete às escolas e agrupamentos de escolas “no âmbito da sua autonomia e no âmbito do seu projeto educativo” (Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho), é contrariada pelo estabelecimento centralizado de estratégias e normas de aplicação uniforme em todas as escolas, o que condiciona a sua organização com vista à construção de respostas adequadas e específicas às dificuldades diagnosticadas em cada população escolar.
São exemplos desta incongruência:
- A existência de legislação uniforme e prescritiva para a organização das turmas;
- As formas e critérios de distribuição de serviço letivo e colocação de profissionais, dirigidos e controlados centralmente;
- A distribuição das cargas horárias das áreas disciplinares e determinação de limites máximos e mínimos;
- A obrigatoriedade de repetição, no ensino básico, da totalidade do plano de estudos em caso de retenção, independentemente das condições individuais de cada estudante;
- A imposição, em final de ciclo, das condições de transição, independentemente da via de prosseguimento de estudos pretendida;
- A construção de percursos escolares diversificados, centralmente determinados e balizados;
- A não consideração das situações de escolas/agrupamentos com um menor número de alunos que, face à exigência de números mínimos de alunos por turma, se veem impedidos de construir, para os seus alunos, vias alternativas e passíveis de maior sucesso.
Neste contexto, assume particular relevância a criação de condições que permitam a construção de percursos diversificados, assentes na potenciação das capacidades e apetências específicas dos alunos, nomeadamente dos que indiciam situações de insucesso no desenvolvimento do plano de estudos regular.
Adicionalmente, a existência de um currículo prescritivo, balizado
por programas excessivamente extensos e por correspondentes metas
curriculares anuais e, ainda, por provas de avaliação externa que incidem
sobre toda a extensão dos programas, impede a flexibilização do currículo
e dos programas, bem como a criação de momentos de consolidação
das aprendizagens e recuperação das áreas menos conseguidas, e, desta
forma, responder à situação dos alunos que, cumprindo o plano de estudos
regular, evidenciam dificuldades no seu acompanhamento.
Do leque de recomendações, destacam-se:
- Criar condições efetivas às escolas para a construção de respostas contextualizadas que visem a criação de melhores condições de aprendizagem: constituição de turmas, afetação de recursos, distribuição de serviço docente, gestão do currículo, construção de diferentes percursos escolares.
- Minimizar as solicitações de cariz burocrático-administrativo acometidas às escolas, de forma a permitir emergência de lideranças orientadas para a aprendizagem e sucesso educativo;
- Reorganizar os percursos escolares, evitando a excessiva segmentação, que favorece a retenção, dando particular atenção ao 1.º e 2.º ciclos;
- Eliminar a obrigatoriedade de afixação pública das pautas de avaliação, fazendo-as substituir por informação individual dirigida a cada aluno e respetiva família, acompanhada da divulgação pública dos resultados globais da avaliação interna.
- Reavaliar a adequação das provas finais de 4.º e 6.º anos aos objetivos de aprendizagem dos ciclos que encerram, bem como rever as condições da sua realização;
- Rever as condições de acesso à prova final de 9.º ano, permitindo o acesso universal, alterando o estatuto do aluno autoproposto;
- Repensar as implicações dos resultados das provas finais no prosseguimento de estudos;
- Criar condições de financiamento às escolas para o desenvolvimento de planos de formação de docentes com vista à construção de medidas de apoio às dificuldades de aprendizagem e orientação para o sucesso;
- Articular medidas nacionais de corresponsabilização das famílias pelo percurso escolar dos seus/suas educandos/as e pela vinculação aos planos de recuperação das aprendizagens e controlo da indisciplina definidos.
- Desenvolver processos e instrumentos de diagnóstico e sinalização precoce de dificuldades de aprendizagem;
- Desencadear estratégias de apoio aos primeiros sinais de dificuldades, com incidência nos primeiros anos de escolaridade de cada ciclo;
- Conceber programas intensivos e exigentes de apoio às dificuldades, alocando recursos e profissionais com competências nestas áreas;
- Melhorar os processos de avaliação interna das aprendizagens, contrariando a tendência de contaminação destes pelos processos de avaliação externa;
- Centrar a informação a alunos e famílias nas aprendizagens realizadas e em défice e nas estratégias delineadas para a sua superação;
- Adotar práticas de envolvimento e corresponsabilização parental no processo educativo;
- Valorizar o papel dos representantes parentais nos órgãos de gestão/ estruturas das escolas e das associações parentais.
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